Crônicas

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O pior já passou


Já dizia um poeta qualquer: “Melhor que pular Carnaval é pular de bungee jump”. E já dizia também nossa constituição: “Democraticamente a opinião da maioria prevalece na opinião da minoria”, e os carnavalescos sucumbem a encarar novamente a realidade, de frente.

Chega de folia, de foliões, de bonecos de Olinda (plagiando evidentemente o gigantesco boneco de marshmellow do filme Os Caça Fantasmas), chega de ilusão, porque o Carnaval é pura ilusão! Um autêntico conto de fadas alterando apenas os protagonistas. Em vez de anteninhas, sapatinhos de cristal, asinhas e varinhas de condão, fantasiamos plumas, adereços, carros alegóricos e abadas (éca).

Será que agora vamos trabalhar em paz sem ouvir batucadas e ver silicones na televisão?

Para certa massa, o som dos batuques continua até a semana santa, para outros muitos a quarta feira de cinzas é inaugural, representa o início do ano letivo, de mais um ano de trabalho, de metas e objetivos, de aquisições e conquistas.

É hora de produzir e de cobrar quem me deve desde o ano passado. No entanto, é interessante avaliar o procedimento desse “interlúdio” de etapas, pós apuração.

Embora já me encontre em 2010, vou virar as páginas do meu calendário de geladeira para 2009, e analisar nosso sintomático período improdutivo: do Natal até o Carnaval. Período este onde todas as indiferenças, divergências, indigestões sociais, políticas e nossos problemas em geral são arremessados para outra galáxia.

O brasileiro se veste de otimismo e se pinta de esperança! A indignação dá lugar ao capitalismo, tão dinâmico quanto aos jogos de roleta nos cassinos, aonde vamos da euforia à tristeza em apenas uma jogada. Aqui, na ordem inversa, vamos de São Paulo ao Guarujá em 4 horas ou mais! Vamos enfrentar fila, trânsito, falta de água, padaria lotada, tudo em prol das sete ondinhas...

Mas o que fazer diante de uma cultura préestabelecida por nós mesmos em transformar 12 meses de um ano em apenas 9? Estou contabilizando as férias e os feriados.

Mas calma, se durante o decorrer desses 9 meses incessantes e árduos de trabalho alguma coisa cair por terra, culpamos Deus, claro, porque nessas horas ele é um plano de fundo para as pessoas mais preguiçosas, inclinadas a criar mitos e achar que Deus ou algum Santo resolve tudo.
De qualquer forma, vamos convivendo com a meta, a meta da sobrevivência, porque viver cabe somente ao período gestativo entre o Natal e o Carnaval.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O amor nos tempos modernos


Nós homens somos mais indecisos que as mulheres, nos tempos modernos. As mulheres são mais atrevidas que os homens, nos tempos modernos. Somos mais caprichosos, porém, somente quando amamos, caso contrário, damos mais importância para as enchentes de São João do Parintins.

As mulheres? Ahh as mulheres. Confundem o momento com o que devem fazer: na hora de facilitar, complicam, e na hora de complicar, facilitam.

As mais aplicadas à instituição chamada “família” assistem a degradação da espécie pelo noticiário: meninas escravas da prostituição, mulheres sendo assassinadas por homens metidos a machão, virgindade sendo perdida através de encontros pelo Orkut e MSN...

Banalização geral!

As mulheres que se acham as mais “espertas” fazem de tudo para conquistar um lugar diante dos holofotes, ou diante do banco de uma BMW. As heroínas que cravaram seus nomes nos anais da nossa história são substituídas vergonhosamente por nomes como “Mulher Melancia”, Mulher Funkeira, Maçã, Moranguinho...

Nos tempos modernos, mulheres se tornaram frutas em quitandas chamadas de “desapego”!

Em relação a isso, nós homens, não temos muito que dizer. Preservamos o nosso lado Ogro de ser: somos moleques, ingênuos, sabichões, bobos e cegos, muitas vezes cegos e persistentes... Nos tempos modernos.

É engraçado, passamos os primeiros nove meses de vida tentando sair desesperadamente de um lugar que depois passaremos a vida inteira tentando entrar novamente. Coisa de gente indecisa...

Em nossa cadeia de modalidades, existem várias tipologias, conceitos e títulos (que as próprias mulheres nos dão), nos tempos modernos:

Homem email: Sempre com uma notícia diária.
Homem antivírus: Vasculha seu MSN, Orkut, Facebook, à procura de alguma “derrapada”.
Homem Iphone: Tecnologia multifacetada: você ouve, aperta, escreve, fala e desliga (tudo isso cabível em uma bolsa).
Homem batedeira: Você nunca sabe quando irá precisar, mesmo não estando certa sobre o motivo.

Embora não gostemos de taxar as mulheres, inegável não dizer alguns tipinhos que perambulam por aí:

Mulher inundação: Parecem àqueles troncos boiando nas enchentes repentinas da cidade, rodam pra onde todos estão rodando.
Mulher transporte público: Mais rodada que catraca de ônibus.
Mulher spam: Você pensa que é uma coisa boa e quando descobre é pura propaganda.
Mulher enxaqueca: Anticonceptivo mais usado pela mulher hoje em dia, nos tempos modernos.

Frente a esse cenário sem muitas expectativas para se relacionar verdadeiramente, eu faço uma pausa no tempo:

Salvo raríssimas exceções, não sei como era o amor nos tempos do cólera, mas nos tempos modernos é uma palavra de quatro letras, com duas consoantes e dois idiotas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Passado o Carnaval, as pessoas colocam as máscaras

Passado o Carnaval, as máscaras retornam aos seus devidos rostos: O Brasil parcialmente volta a funcionar corretamente, as pessoas voltam para suas realidades e alguns valores, destituídos provisoriamente no período festivo do Carnaval, retomam a consciência da grande maioria...

As lantejoulas, a purpurina, as fantasias e a bebedeira dão espaço para a inescrupulosa rotina.

Ah a rotina...

Levaria horas e páginas do word para enumerar seus generosos adjetivos: sórdida, implacável, extenuante, consumista de almas, aproveitadora das nossas fraquezas, e, acima de tudo: cansativa!

O Carnaval é uma rotina dentro de uma ilusão contagiante de pura euforia desmedida, e a quarta feira de cinzas chega dando vida à realidade dos fatos, em breves palavras, à rotina!

É inegável afirmar que o Carnaval suspende a nossa rotina diária, entretanto, o seu efeito anestésico possui bula e prazo de validade. Após quatro dias, voltamos ao nosso “carnaval individual” e as nossas máscaras peculiares retomam seus devidos lugares...

Prefiro lembrar as máscaras nos bailes clássicos de antigamente.

Ah os bailes de máscaras...

Adoro os bailes de máscaras! Eles possuem uma graciosidade ímpar: as pessoas vestidas com as roupas da época, antigos palácios, cenário esplêndido, olhares incógnitos ofertando um misterioso relacionamento social, seres quase que espectrais desfilando com suas máscaras venezianas.

Pegando o elevador rumo ao subsolo da nossa história, eis que nos deparamos com o Carnaval, “chupinhado” dos belos e efêmeros bailes de máscaras da antiguidade, com algumas “pequenas” e imperceptíveis mudanças: a promiscuidade, a variação, a repetição, a degradação e?

... E a rotina, claro!

O Carnaval é um período de reconfortante ficção: sonhamos acordados, divagamos, nos distraímos e servimos para passatempo de alguém, em uma noite “x” qualquer... O mais hilário nessa farsa ideológica e totalmente utópica é que o mesmo país que se deleita no Carnaval promove a quarta feira de cinzas.

Daí chego ao meu ponto de vista: O Carnaval passa, e as pessoas retomam as máscaras!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Compulsão Nacional


Algumas coisas povoam a minha mente em forma de pontinhos de interrogação: Como é possível idolatrar essa compulsão chamada Carnaval? Todo o santo ano é sempre a mesma história, aliás, já homenagearam todos os seres pensantes da história da humanidade, haja enciclopédia...

Outro pontinho de interrogação que me paira no ar é o preconceito. Aqui em São Paulo, se você diz que não gosta de Carnaval as pessoas te olham com aquela cara de quem comeu coxinha azeda.

Oras, por que eu tenho que gostar de lantejoulas e agredir meus tímpanos com essa trolha musical? Isso que ainda não mencionei sobre essa dança idiota de chutar o próprio pé, tenha dó!

Quem dera o Carnaval fosse como a Copa do Mundo, de quatro em quatro anos!

Aaah o Carnaval...

A maneira de se integrar entre o povão, seja correndo atrás de um caminhão com músicas terrivelmente ensurdecedoras, recheado de desocupados pulando em cima (o que eles intitulam antagonicamente de trio elétrico); seja cantarolando marchinhas toscas; seja apostando entre os amigos quantas bocas passaram pela sua boca ou até mesmo assistindo do sofá do quarto a cansativa Globeleza.

É sempre a mesma ladainha.

Mesmo assim, isso nos aponta para uma biodiversidade cultural ímpar: Apesar de todas essas matrizes raciais e culturais, além de toda essa miscigenação que engloba nosso país, o brasileiro se empeteca todo pra festejar sempre a mesma coisa: O Carnaval.

Aaah o Carnaval...

O mais sublime significado da reverência á promiscuidade. Os bailes de Carnaval mais parecem uma panela de pipoca: um mundaréu de gente aglutinado num ambiente apertado, todo mundo salgado e saltitante esperando avidamente por uma boca.

Todos hipnotizados pela mesma e lendária regência musical: o Samba! E que por sinal nem somos autores, patenteamos algo criado pelas religiões africanas, apenas aperfeiçoamos e adotamos um instrumento cá outro acolá. Nisso sim somos mestrados: copiar é com a gente mesmo!

Vale ressaltar que não existe discriminação (isso é verdade), até a moda se ajoelha diante dos abadás. Aliás, (bem aliás), só existem abadás e camisetas com a manga rasgada, de preferência com alguma marca de cerveja estampada no peito que, diga-se de passagem daria uma bela sigla para os publicitários: PDGFO (Publicidade Direta e Gratuita Feito por Otários).

E o que dizer sobre o “bom gosto” do Carnaval? Esse sim passa longe de uma nota dez. Quer um exemplo? Veja as cores das escolas de samba, é pior que educação artística no primário.

E mais uma vez as siliconadas, botoxicadas e lipoaspiradas são as atrações principais da passarela. Muitas vezes inseridas no próprio enredo da Escola, é mole?

Não posso deixar de mencionar os aspirantes a “Big Brothers” e as “popozudas” que foram destaques dentro do BBB, eliminadas ou eleitas pelo próprio povo, praticamente despidas e trepadas em algum carro alegórico. Por enquanto, só no carro!

Conforme eu disse, é sempre a mesma coisa, não tem jeito. E que o diga os comentaristas (que também são sempre os mesmos), imbuídos com as mesmas narrativas, patrocinando sempre às mesmas baboseiras e sempre com os mesmos jargões: “Quesito evolução”, “sacudiram a Sapucaí”, “eskindo lelê eskindo lalá”...

Já repararam como pautei diversas vezes a frase “sempre a mesma coisa”? Pois é Brasil, Sejam bem vindos ao Carnaval!

Agora com licença porque eu vou até a Blockbuster!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Viver é envelhecer, nada mais além disso!


Sinto que “morrer” não está em nosso script, mas está lá no final dos créditos, do sobe e desce das letrinhas miúdas que ignoramos tacitamente.

Na ordem compreensiva, entender a morte nos impulsiona a desfrutar a vida com mais afinco e, ao mesmo tempo, de maneira menos teatral. Viver é enfiar o pé na jaca e botar o pé na estrada a qual você pavimentou da forma que você achou que seria ideal para você.

Alguém já se imaginou com cabelos brancos e com a pele enrugada? Como você vai chegar até lá? Resmungando ou cativando?

O fantasma do envelhecimento assusta mais que espantalho no meio do milharal. Assombra os nossos pensamentos e povoa nossa imaginação com diversos pontinhos de interrogação. Entretanto, viver é envelhecer, nada mais além disso!

Mas ainda assim, existe algo ainda mais triste do que envelhecer; insistir em ser uma criança!

Além da perniciosa invenção da vaidade humana (o espelho), alguns pontos são notabilizados quando atingimos a escala maior:

Trocamos as densas barras marrons de chocolate pelas insossas e descoloridas bolachas de água e sal; as roupas ficam grandes porque você diminui lentamente de tamanho, e por aí vai...

E quando trocamos o ritmo eletrônico do “tuntistun” das baladas de sábado pelas caminhadas vespertinas aos domingos? Não, não, isso é ser casado!

Começar a limpar a casa todos os dias, olhar para trás quando estiver caminhando, dar “bom dia” pra toda coisa que se mexe à sua frente, isso sim são sintomas crônicos do envelhecimento.

O mais constrangedor são os apelidos que as crianças e até os netos bobos dão aos mais velhos: velho caduco, velha coróca, velho bocó, bruxa do 71, velha tchonga, velho corcunda, homem do saco, senhor madruga, vovô “Mara” (maracujá), um extenso vocabulário...

Porém, e se pudéssemos largar tudo e hipotecar o futuro?

Enfrentaríamos mais “entretantos” do que já estamos acostumados:

A televisão assumiria o papel da companheira fiel e constante, “entretanto”, os canais (cada vez mais sem conteúdo) enjoariam rapidamente.

Conheceríamos centenas de pessoas, trocaríamos milhões de experiências, “entretanto”, a sociedade se tornaria imperiosamente pasteurizada.

A “vassoura da vida” seria variada e com múltiplas escolhas, uma espécie de tudo sobre o nada, ou nada sobre o tudo. “Entretanto”, manteríamos os antigos hábitos porque ninguém muda ninguém. Nos adaptamos e nos moldamos quando existe a mola propulsora chamada “interesse”.

Teríamos um convívio ininterrupto com nós mesmos, “entretanto”, cansaríamos facilmente pela muita falta do que se fazer, ou pela falta do muito que fazer.

E se fôssemos imortais?

Envelheceríamos pela falta de inovação, pela falta de intensidade e entusiasmo. Envelheceríamos pela repetição dos sentimentos e dos eventos sociais, conseqüência natural da vida.

Não existem contos de fadas! Entretanto, ficar velho é obrigatório, crescer é que é opcional!

É complicado delinear uma tipologia... Bom mesmo é fazer a diferença pra alguém, a conseqüência de se tornar imortal com essa possibilidade se torna uma probabilidade concreta...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Run, Forrest, run!

Buscar uma razão lógica ou algum significado ético para a corrida é como tentar entender o motivo da existência de reality shows na televisão brasileira, ou entender o porquê que inventam tantas profissões para a Barbie...

O negócio mesmo é se infiltrar nas passadas!

Seguindo essa linha de raciocínio, fui impulsionado pelo meu lado jornalístico e tentei seguir o ritual dos corredores. Me deparei com algo espantosamente individualista: a preparação, o cuidado, o desejo e a vontade de superação são invejáveis, um senso de realização pessoal, sabe?! Algo do tipo: “Eu chego lá, eu posso e eu consigo!”

Os corredores se preparam como se fossem o único sobrevivente de uma família cuja linhagem pertencesse a militares, contemplando ao final, seu próprio orgulho em uma batalha incansável e brutal, sem honrarias e sem entoação de hinos triunfais.

O processo é fácil pra quem está do outro lado do cordão de isolamento (com os dedos cruzados esperando seu “atleta” chegar), e bem mais difícil para quem está ali, acelerando as passadas num ritmo alucinado, de puro entusiasmo...

Esse processo começa bem antes, em casa, culminando no target final: o asfalto! Uma alimentação rigorosamente selecionada e regrada; destinada a aprimorar seu desempenho físico. As roupas e os acessórios são tipicamente associados aos treinos, e a escolha correta desses acessórios é vital para o desempenho do atleta.

Uma escolha errada, a meia volta pra casa!

Por isso a cautela é fundamental! A “viagem” precisa ser segura para não ser mais um motivo a agregar negativamente no rol dos obstáculos implacáveis dos atletas. Já não basta o cansaço físico, as dores musculares, as surpreendentes condições climáticas e o banheiro químico (urgh!).

Falando no lado positivo da “coisa” toda. Além do ar fresco na cara, você aprecia o cenário e observa as pessoas ao seu lado (centenas de anônimos compartilhando da mesma insanidade que a sua!). Você se empolga porque os próprios corredores te empolgam. Uma injeção de endorfina gratuita durante a competição. Pura euforia coletiva!

E se me permitem certa “frase feita” desse contexto: “A cada escolha uma renúncia”. Se você quer se dedicar a correr, esqueça a vida de homem morcego e vá pra casa descansar! Boemia e corrida são composições heterogêneas, não rola mistura! Se a sua desculpa para sair à noite “usa saias”, esqueça isso! Na corrida você também vê verdadeiros anjos correndo. Todos ao seu lado!

Vale ressaltar o esforço das entidades em enaltecer e expor os eventos de corridas de rua. Além do empenho de certas marcas em desenvolver, continuamente, equipamentos mais tecnológicos para aperfeiçoar a performance dos corredores.

E foi abduzido por esse sentimento que resolvi aumentar o números de adeptos a linha de largada. Fui correr! Fui ao cardiologista e ao ortopedista, comprei todo e qualquer tipo de acessório, me equipei como o soldado do início do texto e fui pro asfalto provar na prática todas essas sensações inebriantes.

Eu casei com a corrida, e pretendo criar bodas ao lado dela!

Voltando à primeira prova de rua (em 2005). Enquanto eu corria, eu xingava, ofegava, divagava... Eu mentalizava uma coca light lemon, eu queria uma piscina de Gatorade, ou até mesmo assistir do sofá do quarto, as sitcoms da Warner Channel.

Eu me imaginava diante da linha de chegada. A promissora e disputada linha de chegada...

A chegada é um momento indivisível pra quem termina, e recordar todo o planejamento que você fez é algo primoroso e efêmero!

Viver sem correr é viver sem prazer. Esqueça o bumbum, correr é a autêntica paixão nacional!

“Texto elaborado em 22.05.2005”