Crônicas

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O sumiço nos interessa



O problema da dispersão masculina é provocar a culpa na mulher. Transar e sumir sem deixar sequer um “post it” no painel da cama dizendo se foi “bom ou não” não é legal... Homens que fazem isso degeneram qualquer organismo sentimental puro e imaculado.

“Por que ele sumiu? Foi alguma espécie de sorteio e eu fui a azarada? Foi por ego só para ter o gostinho de me ver correr atrás? Já sei, fui boazinha demais com ele. Libertei minhas verdades, me despi de qualquer máscara e deu no que deu: Ele sumiu!”

O sumiço de um homem para com uma mulher adultera qualquer sentimento bom que – ainda – existia dentro da moça.

O sumiço se sente, mas se teoriza também. As mulheres aplicam a matemática no acontecimento ocorrido:

Quer ver?

Somamos a lábia do canalha, multiplicada às intersecções daquela mesa de bar e depois a indecência naquela cama de motel. Dividimos por algumas derrapadas que ele deu ao tentar disfarçar o telefone que tocou inesperadamente, subtraindo com a bendita frase pós-coito “preciso ir”. Pronto: Acabo de descobrir que saí com um mentiroso, babaca e filho da puta!

Passam-se os dias e vem a clarividência dos fatos:

“Aprendi que não existe tempo ideal. Ele acontece meio sem jeito, com gente que leva jeito pra curtir uma noite, ou um longo dia de domingo pós sábado libidinal.”

Aprender é uma teoria ostensiva da prática. Praticamos em abundância “achando” que ficaremos imunes as teorias que se aplicam, justificando isso ou aquilo, os “porquês”, as razões, enfim... O sumiço nos obriga a crescer e a encarar o mundo masculino por outras realidades (não somente pela realidade que se vende por aí).

Isso é ótimo, entretanto, sumir ainda é bem mais trágico e verossímil que o motivo declarado e jogado na cara. Em meio à verdade do sumiço, preferimos a mentira do motivo. Mentir reconforta, anestesia o caos emocional, evita encarar o espelho e se questionar.

Mentir evita passar o fim de semana inteiro chafurdada no edredon com chá de camomila no criado mudo e uma série de desabafos convertidos em sms para as amigas.

Somos menos adultas quando recebemos um motivo, por mais “fake” que ele seja (e você sabe disso), mas prefere ouvir a verdade, nesse caso, a mentira... Porque se fosse à verdade, seria o sumiço.

Tolos os homens que se vangloriam no dia seguinte ao transar por transar com uma mulher deveriam repensar no suposto “mérito”...

Enquanto eles amplificam o sexo colocando-o em uma condição de estrelato, nós aprendemos a desfrutar do momento silenciosamente, evitando passar constrangimentos em divulgar o que merece ficar no anonimato.

Sim, anonimato sim, porque homens dessa estirpe não merecem Ibope, merecem a incógnita do silêncio e a dúvida se ele mandou bem ou não.

O sumiço nos interessa sim, mas a incerteza da nossa indiferença coloca qualquer machão em estado de alerta... E isso é tão gostoso...

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