Crônicas

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Síndrome do doador incurável


Há algum tempo me toquei que não sou o executivo das minhas emoções. Sou frouxo demais para contrariar as solicitações do meu coração. Fui contratado para socializar a massa cefálica ao órgão pulsante, mas falhei por completo nessa atividade.


A única coisa que fui designado a fazer, fraquejei diante da minha incompetência... Ao menos não faltou profissionalismo; desenvolvi inúmeros treinamentos entre eles no intuito ilusório de causar algum entrelace (nem que fosse um simples happy hour), entretanto o speech de um era a repulsa do outro.

Falhei!

Sou uma figura providencial para dizimar brigas, discussões e frases indigestas, porém, nessa proteção paternal eu me rendo e entrego tudo, inclusive o que não se deve entregar.

Barganho coisas que não me apetecem: Você troca essa discussão por uma noite temática? Você troca essa briga tola por aquele jantar que você sempre pediu? Você não trocaria esse rostinho fechado por uma massagem?

Me esforço sem o aval da minha consciência e sem o escambo da minha qualidade emocional e assino um contrato de risco entre o sucesso e a frustração.

Brigo inconscientemente (em uma espécie de guerra fria) entre minhas vontades e a ocasionalidade delas... Detesto meus exageros!

Vivo a briga dos outros. Participo do sofrimento alheio. Me consterno com o fracasso do vizinho. Sinto uma emoção de pai sem nunca ter sido um. Pulo de alegria com a felicidade do outro...

Se por um lado me acanho em dizer isso (porque ponho em risco a minha fragilidade), me acalento em ser claro e lógico feito placa de trânsito; não castro minhas vontades, não amputo meus desejos e vivo intensamente a minha vida e a vida que faz parte da minha vida.

Sim. Eu sinto um orgulho platônico e homérico no que faço. Porque quando faço, faço com tamanha entrega que não penso na troca, não penso no retorno, muito menos no saldo que isso me trará um dia.

Por que faço o que faço? Porque me sinto pleno, copioso, enriquecido. Sinto que sou um ser vocacionado para tal, uma espécie de objetividade cármica... Assim tento me descrever.

Entretanto, o ilusionismo é o revés de todas essas ações magistrais:

Nunca sabemos à hora de parar... Nunca sabemos o momento exato para refutar uma doação, porque muitas vezes este equilíbrio é exatamente inexato: Se doamos demais, enjoamos o receptor. Se doamos a conta gotas, deixamos de ser quem realmente somos para viver uma peça teatral repleta de joguinhos compensatórios.

Não vejo uma dosagem homeopática na doação. Não se doa somente um pé do par de um tênis, assim como não se doa metade do meu ímpeto em fazer aquela pessoa que eu tanto gosto vibrar e sair pulando pela rua.

No entanto (e para tudo existe um tanto), existe a conjunção idêntica entre interesses, e os seres que compactuam desses interesses contrariando a tese de que os opostos se atraem.

Muito por sinal, peço permissão ao autor para reformular essa frase:

Os opostos não se atraem, o que atrai os opostos são as bagagens do passado que nos condicionaram a acreditar na compatibilidade desses opostos. Pura resistência ao acaso.

Sim. Eu corro riscos, eu me disponibilizo demais, eu me mostro em demasia, mas eu não saboto a essência do meu ser, porque eu acredito na existência mútua de um ser corajoso e audacioso como eu.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Desejos e propósitos


Eu me permito me desencontrar só para buscar o propósito de me encontrar subalternando-me com as ciladas da vida. Amei, desamei, desandei e me reciclei para amar novamente...

... O cíclico sempre me encantou.

Tenho meus tombos como uma passagem amnésica. Trato-os com certa habilidade, classificando-os como o início de um recomeço; um novo ponto de partida...

E assim a fé renasce.

E assim a fé emerge. Revivida por novas inteligências que entram em nossa vida sem aviso prévio – que bom que é assim – porque assim revigoram-se também os novos desejos.

Desejos sobrepujados por tombos... Desejos que estavam imaculadamente tímidos porque talvez não lhes restasse esperança de escrever uma nova história... Desejos aptos a entrar em cena, aguardando avidamente pelo retorno da imersão do protagonista.

O teatro da vida tem suas conjecturas um tanto que abrasivas e inversas ao que pensamos sobre o lógico ou ético. Isso porque não compreendemos o fato de recrutar um coadjuvante e o mesmo naufragar com toda uma produção. Burrice? Estupidez? Não, perfil inadequado para a peça.

Mas ao contrário de uma peça fictícia (com ingresso a venda e comercial na TV), não enterramos o protagonista, ressuscitamos antigos propósitos (talvez até os anteriores) para aplicá-los novamente, só que dessa vez, com novos desejos diante de um propenso engajamento de perfil.

O perfil é um conglomerado de valores que compõem a extensão dos nossos propósitos.

O desejo é encontrar alguém que preencha os mesmos propósitos simplesmente porque o protagonista nunca abandona sua peça, ele a vive contracenando com novos coadjuvantes, dando vazão a novas possibilidades e assegurando que o show não pode parar.

Antes de ressuscitar os seus desejos, tenha sempre em mente a convicção dos teus propósitos.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Imprevisibilidade é afrodisíaco


Vem cá: Se pudesse escolher isso como se fosse um combo, pelo o que você optaria?


O equilíbrio instável de um amor pragmático ou o desequilíbrio estável de uma paixão constante?

Ambos. Se houver simpatia e se rolar empatia, já é um quase/amor – agora – se houver coisas que refutam a sua vontade, aí sim fica perfeito!

Há de se ter irregularidade!

Não existe nada mais enfadonho que ter a certeza das certezas plenas. Saber – indubitavelmente – que a pessoa que você ama estará inteiramente a seu dispor (feito seguradora ou posto de saúde), não, não tem tonificação. É opaco!

A segurança (em suas devidas moderações conceituais) deve ter aquele gostinho provisório de coisa passageira, tipo cheiro de pamonha, cheiro de gasolina, cheiro de bolo...

Veja a ordem inversa:

Você não suportaria passar o dia inteiro num posto de gasolina, ou talvez dentro de uma cozinha industrial comendo literalmente bolos pelo nariz, nem tampouco com a cara enfiada numa carrocinha de pamonha com aquele bafo de milho na cara. Correto?

Então porque conviver com a exatidão das certezas? O amor não é uma sequencia de instruções, não é um sistema binário de códigos e também não sobrevive nas contas sistemáticas de uma planilha de excell.

Amante em tempo integral cansa. Tem que haver uma irritabilidade, uma desvirtuada, uma discordância (sem exageros capitais).

Não se define. Não se personifica. Não se psicografa o amor! O despretensioso é sempre mais gostoso porque todo previsível se torna um pessimismo ensaiado!

Também não se barganha o amor. Não se negocia encontros com amigos. Não se equaliza insatisfações, mas só há insatisfação porque há projeção. Desligue o projetor e assista, simplesmente assista.

Se ele mesmo – o amor - não é nada científico em suas ficções, por que nós humanos temos que ser uma obra previsível? Já não nos basta às diretrizes cruciais e implacáveis chamadas de “começo/meio/fim”?

Por isso é bom ser imprevisível, só para desequilibrar o exato e oferecer umas doses de emoção ao inexato.

De normal o amor não tem absolutamente nada: Surge imprevisivelmente. Acontece em meio a uma discussão. Aparece despropositadamente. Fortalece através de um infortúnio qualquer. Enobrece até mesmo por conta do ex amor do seu amor...

Enfim, o amor é uma criança teimosa e endiabrada; Quando você o sacramenta com “um fim de papo” ele ressurge, quando você o idealiza como imbatível, ele acaba... Por isso é bom refutar, questionar e contestar, mas nunca, em hipótese alguma, se anular.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Verdades inconvenientes



Ao bater minha canela no escuro (entrando silenciosamente em minha casa), tive uma epifania:


“Meus relacionamentos não ultrapassam 1 ano!”

Durante todas as minhas incursões amorosas cometi as mesmas derrapadas: Rescindi alguns valores. Alfabetizei os meus desejos e cataloguei as minhas companheiras em uma espécie de concubinato.

Meus relacionamentos começavam “shakesperianamente”, mas o desfecho era sempre o Holocausto. Transformei minha cama em um divã?

Foi tudo vertigem? O encontro previsível da canela com a quina da mesinha da sala foi surpreendente, despertei para as minhas verdades e me libertei daquilo que há 5 minutos atrás era inacessível – agora - indelével.

Acho que faltou convivência comigo mesmo. Momentos mais tenros e mais aproveitados com o vazio das coisas, ou a inanição do “nada”. Abdiquei o uso da solidão para saborear o gosto da obtenção por resultados imediatos. Puro receio em ser infeliz! Queria sempre ter certeza das coisas e hoje a minha única certeza se remete as dúvidas saborosas de viver sem estar em uma redoma, um invólucro onde só existiam gestos e afeições suaves.

Abandonei minha paciência no altar, não que eu tivesse um estoque pós-apocalipse, mas deveria ter mantido-a em cativeiro nos momentos de incompreensão.

Mas hoje estou bem, sobrevivi ao genocídio amoroso e a execução primária de atitudes nada secundárias.

Estou aqui! Apto e oferecido a viver uma saborosa ilusão, a ilusão de que ainda existam pessoas aptas a não fazer o que fiz com as minhas verdades inconvenientes.

É... Talvez a vida seja um trabalhoso e imenso quebra cabeças onde me monto e me remonto a cada descoberta de me perder de novo nesse equilíbrio instável chamado de vontade.

Obrigado canela, por ter sido muito mais que uma simples sinalizadora de obstáculos no escuro.