Crônicas

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Os homens entregadores


Quando há interesse na balada: Troca de olhares, posicionamento estratégico ao bar, apresentação formal e muito improviso.

Quando há interesse na balada em: Troca de olhares, cuspis ao pé do ouvido, puxada pela cintura, duas frases bem ditas.

Quando há interesse no domingo: Brincadeiras no edredom, troca de fluídos, café da manhã personalizado.

Quando há interesse no domingo em: Whatsapp (lá pelas 18hs), convite pra se encontrar no bar “fancy” do bairro com os amigos e amigas, vodka pra dentro e...

Quando há interesse na segunda feira: Dia frenético, reuniões, trânsito, academia e um whatsapp para endossar os pensamentos do dia: Hoje lembrei de você.

Quando há interesse na segunda feira em: (...) (...) (...) (...) (...) (...).

Quando há interesse na terça feira: Uma mensagem inusitada em pleno início de tarde com alguma frase inteligente que lhe arrancou um sorriso (missão concluída).

Quando há interesse na terça feira em: “Desculpe, não lembro... Ah tá, lembro sim”

Quando há interesse na quarta feira: Um convite despretensioso para uma caminhada no parque (ou um cinema). Conversas pontuais, factíveis e sem mimimis.

Quando há interesse na quarta feira em: “Hmmmm, to pensando em chamá-la pra aquela festinha fechada daquele meu amigo dono da balada... Sei não.”

Quando há interesse na quinta feira: Longas trocas noturnas de mensagens via whatsapp pelo gravador... Momento para descobrir um pouco mais “sobre”.

Quando há interesse na quinta feira em: Mensagem de manhã do tipo “acordei pensando em você”, convite para um bar e...

Quando há interesse na sexta feira: Dia agitado, muito trânsito, alguns desconfortos profissionais, entretanto, nada que supere assistir um filme emaranhando o cabelo dela.

Quando há interesse na sexta feira em: (repita o interesse da quinta feira).

Moral da história:

E tem gente que ainda não descobriu a sutil diferença entre uma oportunidade aproveitada e uma trepadinha?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

As badaladas da balada



Ilusória. Irresistível. Acolhedora. Sorrateira. Enfática. Hiperbólica. Extravagante.

Prazer, eu sou a balada.

Aaah, a balada.

Quanta euforia existe em “ver e ser visto”... A gente se inflama, não é mesmo? Nada de tempo nublado, nada de cabeça baixa, nada de esgotamento, discussão com ficante, quebra pau no trabalho, a gente sai e pronto; tomou doril a dor sumiu.

É quase que uma cura manipulada.

Quase? É totalmente manipulada.

A balada sintetiza e muito uma sessão de terapia: Não existem antecedentes, há prontuários... A catarse não vem em vogais, consoantes e frases ensaiadas, e sim, em dezenas de fotos postadas irrefreavelmente no Instagram e no Facebook.

Instagram e Facebook: Para muitos; conhecimento e agregação de valores... Para outros muitos: “Hey, veja como estou feliz?”.

Intercambiar experiências. Envaidecer o ego. Fermentar a autoestima... A psicologia dá o “ficadica”:

Pura angústia da separação, muito embora seja uma terminologia aplicada ao período em que ainda somos bebê, o que, de certa forma, não escapa dos muitos arquétipos remanescentes à vida notívaga.
Não obstante a isso, é difícil se desapegar da vida notívaga e entender que somos seres individuais, tem gente que se deprime, chora, engorda, muda de preferência sexual... Mas há de se ter plena consciência que fazemos parte – apenas parte – de um todo.

O coletivo é fundamental, mas entenda: O coletivo é tipo Neston: existem mil maneiras de se preparar, o problema reside se você está preparado para tal.

Muitos fazem parte do consciente coletivo, entretanto, pouquíssimos dominam a consciência da própria individualidade.

Repare:

Na balada os medos e anseios praticam um escambo parcelado: Isolamos o vazio e repassamos a sombra adiante, para a próxima balada, para o próximo sábado, tudo em módicas prestações de 80 vezes – ou – em patologias extremas – em 40 anos.

Se pudéssemos colocar nossas fugas em um patamar monetário, compraríamos uma X3, daríamos facilmente uma entrada num apartamento ou viajaríamos pra bem longe...

Para aqueles que não curtem se endividar e que querem se safar dessa “egocentria aguda”, as condições são muito mais favoráveis: Basta dar uma oportunidade para novas modalidades.

Receios. Vazios. Angústias...

Dá pra imaginar quantos “medos” cabem numa só pessoa? Dá pra imaginar o tempo que desperdiçamos fugindo de nós mesmos?

Medo de se envolver. Medo de envolver. Medo de se machucar. Medo de machucar. Medo da realidade enraizada no inconsciente petrificado em hábitos e manias fixas que não foram curadas em seu devido tempo.

A balada anima, rejuvenesce, aglutina e... Posterga.

O que deveria ser efêmera – para muitos – se eterniza, muito mais que as badaladas da própria balada, que geralmente duram poucas horas.

Ah, o tempo...

Quanto tempo dura aquele momento só teu? Você faz da sua vida um bilhetinho premiado?

Disciplina é lembrar o que você quer. Desejo é cobiçar o que você pretende. Vontade é realizar o que bem entende... Crer é a confluência entre o seu livre arbítrio e o seu determinismo.

Você é o tutor, o conselheiro e o defensor do seu destino, não faça dele uma pista de dança, o reclamante será você mesmo.

Em tempo: Se você é uma pessoa bem resolvida e bem esclarecida, não encontrará dificuldades para entender essa reflexão... E sem julgamentos.