Um tanto de um monte pode ser - ainda assim - o resto de um pouco,
depende da ótica e da necessidade.
De alma anestesiada e coração gelado, aquarianos, cancerianos,
capricornianos, geminianos, virginianos, sagitarianos, librianos (sim,
librianos) e todo o universo astral, paradoxal, bilateral, dimensional e
principalmente consensual, perambulam e trafegam no que eu chamo de E.H.S.I
(“estranha harmonia satisfatória imediata”).
E.H.S.I. O que se mostra por fora e o que se é por dentro.
Confundimos constantemente essência com aparência. Todo mundo quer
exibir uma felicidade ideológica de bem estar, geralmente visto em casais que
acabaram de se separar. Antes do litígio, a suposta progressão de uma relação
duradoura por meio de fotos, check ins e declarações. Pós litígio, uma
felicidade transbordantemente chata, como se a vida tivesse ficado bem mais
atrativa com o kick na bunda.
Mas não são só as relações frustradas que fomentam as redes sociais.
Vivemos numa época paradoxal onde tenho medo de imaginar qual será o seu
legado para as futuras gerações.
Época que - em detrimento do poderio bélico digital – nos revela uma
inóspita dicotomia:
Nos aproxima nos afastando.
Nos separa pela manipulação da mídia, nos distancia pela intolerância de
opinião e nos faz guerrear verbalmente pelo confronto das verdades absolutas de
cada um.
Sim. Nos tornamos juízes detrás de um teclado cuja a intenção é
discordar, reclamar, ofender e xingar quem não faz parte da sua “bandeira”.
Pseudos nacionalistas participando de ONGs, defendendo o partido “x”
fazendo selfie com roupa da Guaraná Brasil.
Pseudos moralistas destilando duras críticas em assuntos que surgem nos
canais informativos de páginas do Facebook curtindo foto de depravação e
dizendo “bem feito” pra corrupção.
Pseudos intelectuais que se dividem em esquerdistas e direitistas se
digladiando em posts nas mídias sociais acreditando que essa divisão realmente
existe. Se ofendem demasiadamente com apelidos infantis, mas se esquecem (ou
não sabem) que o esquerdismo de hoje foi o socialismo de ontem.
Pseudos progressistas relativizando a crise postando em seu feed de
notícias dicas para evitar o caos hídrico.
Pseudos ressentidos/vitimistas/sensacionalistas/passionais fazendo
selfies melancólicas, de sofrimento por algum tipo de mazela como preconceito e
fobia, mas que no fundo, clamam para serem aceitos na sociedade.
Que maldita mania de querer ser incluído em tudo.
Obesos, transexuais, nordestinos, anglo saxões, gente de esquerda, gente
de direita, progressistas, homossexuais, homofóbicos, todos tentando enfiar
goela abaixo as suas verdades, quando na própria verdade, todos estão vivendo
uma mentira insólita e surreal... Vivemos na mão da contradição encharcados de
barro até a cabeça porque nos enfiamos na lama.
Pessoas incapazes de compreender a própria incapacidade atacando a competência
alheia, artimanha diabolicamente promovida e disseminada pela mídia televisiva,
digital e impressa, que assiste por “cima das nuvens” uma audiência baseada no
conflito e no fundamentalismo, mas tudo bem, dá dinheiro, não é mesmo?
Vivemos num mundo de Ariel, onde o faz de conta nos trás a conta do que
poderia ter mudado se pensássemos na prevenção antes da reabilitação.
Agora, vivemos num mundo de Pinóquios, aonde pessoas vão às ruas por 20
centavos, mas lotam os bares de segunda a segunda confabulando uma situação
adversa a realidade, de sorrisos, de satisfação plena e de diversão congênita.
O que mostra por fora e o que se é por dentro. Estamos nos viciando pela
inutilidade e pela futilidade.
Mesmo vivendo em um Mundo de Pinóquios, quando eu vejo uma imagem dessas
acredito que ainda é possível nascer, ao invés de ser fabricado.
Precisamos nos refazer pelo bem porque ao contrário do Pinóquio, quem
mente o nariz não cresce... Infelizmente.