Me conte sobre nós, ando me distraindo pelas distrações
corriqueiras do intrépido cotidiano, por mais insanidade que pareça, estamos
sempre nos perdendo de nós e - vez e outra - necessitamos daquela puxada nos
pés e de uma âncora amarrada a nossa cabeça.
Firmar o pensamento. É isso.
Me conte sobre nós; fora a reforma íntima sobre as
minhas dispersões existe algo que preciso entender, saber, descobrir? Eu mesmo
me passo para atrás algumas vezes; sou esquecido, sou prolixo, sou descuidado,
mas jamais deixarei de ser um apaixonado.
Me conte sobre nós; sei que as obrigações e
responsabilidades que eu mesmo construo me fazem vivenciar uma relação
torturante comigo mesmo, parece que eu tenho um prazer sado em perpetuar certos
sofrimentos, não é mesmo? Quando tudo está nos trilhos, a gente desce do trem e
inverte a bifurcação, coisa de gente grande.
Me conte sobre nós. Me enxergo com certa miopia quando
estou angustiado. Me vejo no espelho e tento me notar inversamente, sendo eu
próprio porque sei que o espelho é astuto e dissimulado, ele mostra a minha
senilidade, mas jamais a minha decrepitude moral.
Eu preciso rejuvenescer os meus valores e me propor ao
desafio inóspito de uma revisão punitiva acerca do meu egocentrismo
escancarado.
Falar de si mesmo desafia a observação imparcial. É
invocar fantasmas, ressuscitar antigas personalidades emergidas de mim mesmo
com a finalidade de reunir todos os responsáveis do passado pelas angústias que
afloram neste presente, por isso estou aqui, com certo descaramento, mas com
muita audácia e atrevimento convidando a pessoa que mais me faz sentir presente
nesta sala.
O debate está aberto. Me conte sobre nós.
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