Cansada
de encher a cara todos os finais de semana... De Neutrogena e Hipoglós.
Catarina se aventurou no submundo-ninfo-tecnológico do Tinder...
Achou
que seria amada, mas hoje se contenta em ser comida, o que lhe causava uma
pseudo redenção emocional.
Antes
de se endemoniar pelo aplicativo, se surpreendeu com a sua vaidade exacerbada e
foi comida (não como gostaria) pelo seu ilustre ego – agora – de saco cheio de
canalizar seus desejos em seu salto 15, debutou em seu primeiro encontro virtual
de rasteirinhas - que – metaforicamente – lhe assegurava em evitar tropeços
para “cair na real”.
Abdicou-se
dos quilômetros de fala para ser a ouvinte (tarefa quase que transcendental
para uma fêmea formada em publicidade, hoje, escritora solitária).
Mas
foi precavida de previsões; não se assanhou no decote, tampouco fez questão do
make na cara. Encontrinho as escuras merece gente às claras; sem escova, sem
saia e sem batom mesmo.
Catarina
foi ao encontro como se estivesse indo à padaria às 7h da manhã de um sábado
chuvoso, azar do postulante a sua vagina que – no afã de achar que estava
abafando – foi todo “paquitinho” ao encontro.
Mas
era um paquito com cara de galã de rodoviária; barba por fazer, cabelo
repicado, olhar de vagabundo nato (estilo Javier Bardem de ser).
De
súbito, Catarina levanta o indicador e pede uma caipirinha de saquê ao garçom.
Enquanto
Catarina ansiava por beijos lascivos e mãos abusadas brincando debaixo da mesa
do bar, “Javier” exibia uma estratégia um tanto que exótica para estes tipos de
abordagem; falou da Tia que mora em Conchal, reclamou do ar seco, orgulhou-se
das suas coleções oitentistas e falou até da porra do pré-sal.
O
rapaz estava tentado pavimentar o caminho para a cama, mas Catarina queria que
ele passasse o rolo compressor nela sem muitos rodeios, afinal de contas, pra que
o cara quer pegar balsa se podemos ir de avião?
Sua
pressa em se sentir necessária trazia uma voz inaudível para o rapaz. Era o seu
maldito desespero questionando o cenário: “Ele quer fazer sexo ou quer uma
porra de uma terapeuta?”.
Em
meio aos seus devaneios chamou o garçom e alterou o pedido: "Quero um suco de
abacaxi com hortelã."
“Javier”,
tentando ser o sedutor poético acanhou-se com a troca repentina de pedido e freou
o acesso a dose de Whisky. Pensou consigo mesmo: "Sexo por sexo eu teria saído
com a Babi, que tem 23 anos e adorava trocar fotinhas sórdidas pelo Whatsapp."
Beijos
ceifaram as falas do rapaz, entretanto, Catarina, principiante da vida
notívaga, havia acordado muito cedo e tido insônia na noite anterior, bocejou.
Bocejar
num primeiro encontro é mais contraceptivo que calcinha bege ou bojo no sutiã.
Desculpas foram postas a mesa:
A
ironia é super indicada nessas horas de afronta moral: “Noto que o suco de
abacaxi com hortelã te deu sono, vamos embora?”.
Catarina,
sem entender a derrapada, vestiu-se de seu ego e aceitou o convite.
Mais
uma noite dormindo na transversal da cama, só para ocupar um espaço imaginário
de um companheiro.
Se
cabe uma moral da história: Na próxima vez, vá de salto, é mais confiável que
uma rasteirinha.