No seu umbigo transitam intermináveis momentos de
presunção e certeza acerca do que o seu empreendedor recita. Um CEO astuto,
ardiloso e sorrateiro ao qual você fidedignamente o segue sem olhar para os
lados, sem perceber as arestas.
Ego!
A explanação absoluta e soberana da sua ilusão de
super-herói.
Esqueça o desânimo, o fracasso e as topadas. Quem chama
para si a vaidade que gravita em torno do seu umbigo não tá nem aí para estes
tormentos, eles são mínimos desconfortos do plano físico e um rombo do tamanho
da camada de ozônio para o plano espiritual.
Conjugamos o verbo ter e esquecemos por completo das
aulas de português sobre o verbo ser.
Na adolescência dos oitentistas de plantão
perguntavam-lhes: O que você quer ser quando crescer?
Hoje, na volátil e canibalesca sociedade a gente
pergunta para a criança: O que você quer ter quando crescer?
Estamos deturpando os nossos conceitos?
Ter e não ser, eis a questão.
A personalidade - de muitos - se confabula diante de um
guarda roupa e de um belo condutor na garagem. Comprar é inebriante, enfeitiça,
enaltece, sobrepuja o dia que foi ruim, ressalta o alto astral que estava
neutro, traz a ilusão de uma Lua de Mel permanente.
Nenhuma tragédia tira a graça de sair de uma loja
treinando bíceps com dezenas de sacolas.
Nada como uma linda bolsa, um charmoso Scarpin ou a
compra de outro carro para aniquilar uma personalidade.
E diante dessa luta a qualquer preço pelo “ter”,
esquecemos que o papel da vida se adultera juntamente com os nossos valores.
O solteiro vira banqueiro. O papai vira Papai Noel. A
esposa vira sócia. Os amigos viram sanguessugas.
A desconfiança seria a sua graduação. A soberba a sua
negociação. A emoção o seu cartão de crédito.
Somente quem prestou atenção nas aulas de português sabe
dar valor a ordem natural da oração; até mesmo no abecedário o ser vem antes do
ter.
Quem busca a evolução como ser humano não troca o
sacrifício da conquista pelo pragmatismo das coisas fáceis conseguidas sem
esforço.
Essa gama reduzida e rara de pessoas não abandonam o
bom gosto, mas optam por aquilo que dá gosto. Não desfilam diante de um
conglomerado de gente, caminham como se fizessem parte de um todo. Não se
justificam, esclarecem. Não desperdiçam, aproveitam cada segundo porque
respeitam a incerteza do amanhã.
Quando se encaminhar para uma lotérica e for abordado
na saída por algum repórter que certamente lhe perguntará o que você fará
depois de milionário, corrija a pergunta dizendo: O que eu deixarei de ser
depois de milionário.
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