Sol, chocolate, leitura, vídeo game, música e sofá. No
freezer, um pote de La Basque de menta, no armário debaixo da TV, centenas de
DVDs alternativos.
Gavetas lotadas. Coração desocupado.
Lembrando que “desocupado” não se aplica a “vazio”, na
verdade ele está cheio de sentimentos que se alternam em virtude do que se
enxerga por aí, pelas ruas, calçadas e aplicativos.
Ando vivendo um pseudo romance com as minhas tralhas.
Me sinto uma entidade abstrata que ás vezes não existe, coexiste se alimentando
das frases veladas ditas e ouvidas.
Me indago sobre algumas preposições e sobre a
disposição dos meus tênis no armário, armário este, que já está com a sua
capacidade máxima de lotação. Aliás, tênis (não sapatos) que seriam selecionados
a dedo caso o critério de escolha fosse a marca de algum traseiro fossilizado neles.
Não dou pé-na-bunda em ninguém.
O pé-na-bunda é uma avaliação equivocada que se faz
para uma solução que nunca (geralmente nunca) reside no outro.
Quando as respostas já não alimentam mais, as pessoas preferem
mudar o coadjuvante a se predisporem a mudar o protagonista.
Resultado?
Desconheço a resposta, mas note uma coisa: Quem vive de
pé-na-bunda não abandona as muletas emocionais, jamais.
Volto o olhar para meus ambientes e noto que alguns
afazeres (deixado de lado) viraram pequenas e obrigatórias tarefas ao qual só
debruço meu senso de reconstrução quando me deparo com elas.
Elas ficam escondidas, brincando de cabra cega comigo;
é uma prateleira que vive caindo, um parafuso que precisa ser apertado, o sifão
que está com vazamento...
Num sentido lúdico e filosófico, já notaram a mania
fixa que temos de escamotear os nossos ajustes, sejam eles emocionais, mentais ou
de ordem comportamental?
O medo de arrumar o sifão prevendo uma enxurrada de
água suja na cara. A preguiça de encarar a própria preguiça em arrumar a
prateleira optando por se jogar no sofá. A falta de coragem pelo receio da
mudança.
Já imaginou se trocássemos os ensaios pelo risco do
improviso?
Nossa casa estaria sempre nova e o nosso coração muito
mais disposto por histórias com prefácio, meio e recomeço.
A nossa peça teatral se chamaria vida, e não sobrevivência.
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