Sempre fui locatário do meu coração e passei uma parte
significativa da minha vida procurando um inquilino para tal.
Por sorte, merecimento e teimosia pelo
errado, não só
encontrei a inquilina, mas fui morar junto com ela.
Morar junto... Que arte surpreendente!
Girar a chave da porta e se deparar todos os dias com
diferentes intersecções, diferentes pontos de vista e muitos objetivos em
comum.
Morar junto...
Há alguém que se importa com o teu silêncio, com a forma
em que você dá bom dia, com a maneira em que você levanta para arrumar a
cama... Se está sério, dormiu mal... Se está quieto teve pesadelo, se está sorridente
sonhou com ela...
Morar junto é uma constante adivinhação gestual em prol
do querer bem, do cuidar com zelo.
Não existe fingimento para consigo mesmo daqueles
tempos de solteirice onde você tentava se convencer de uma meia verdade e o
tempo insistia em te mostrar suas mentiras inteiras - aqui – tudo é devidamente
às claras, sem manipulação de resultados porque os meios complementam os
recomeços e os recomeços convivem em todos os ambientes da casa.
Morar junto é catequisar o ensino das ruas com o ensino
acadêmico. As experiências são divididas e incorporadas, os planejamentos
precisam de aprovação conjunta, os debates dão lugar às decisões precipitadas,
as boas notícias viram motivos para um Prosseco.
Você descobre novas e incríveis vocações; enquanto ela
te ensina a mexer na cafeteira, você aprende a colocar os lustres da casa...
Enquanto ela lava a sua roupa, você arruma a mesa do café e prepara as torradas
do jeito que ela gosta...
A vida passa desapressada quando se mora junto, basta
compreender que o seu amadurecimento se divide com o dela, os teus medos se
diminuem com os dela e o tempo se multiplica com o dela.
Matemática simples, desde que você tenha sorte e
merecimento para encontrar o denominador comum.
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