A nossa mania de perseguição é a curiosidade. Embora seja
fascinante desvendar o que nos desperta interesse, isso pode ser letal...
... E foi.
O crime se deu há alguns meses atrás, quando a vida já
não oferecia – aparentemente – nenhum risco e tudo se conjecturava em peças
teatrais ensaiadas com roteiros formatados...
Idealização é a punição para quem espera demais; um
completo desalinhamento entre “ganhar” e o “desejar”.
Por isso, sabotei a minha inércia e me propus ao risco
da curiosidade.
No início confrontei-me com meus muros - aos poucos – o
suor de pular estes muros deu lugar a um cenário propício para o logro de um delito.
Ceguei minhas contenções. Calei minhas verbalizações e trancafiei minhas hesitações:
Fui sem compaixão, sem pena, sem dó nenhuma. Me
transbordei de desejo e ignorei por completo os escrúpulos da minha sanidade.
Também pudera, tamanha vontade depositada foi
amplamente justificada em detrimento de uma cúmplice, uma conivente a tudo que
lhe foi ofertada neste cenário sedutoramente convincente.
Ela compactuou com cada gesto, cada plano, cada pulso,
cada transpiração... Descobriu-se em si mesma uma notável capacidade de ir além
da sua zona de conforto. Permitiu-se a um mundo que - até ali – na execução
primária de suas ações – era algo extremamente inédito em sua vida.
Sentiu-se – assim como eu – uma sensação de vivacidade,
de tenacidade, como uma pessoa que escapa da morte, como um atleta que bate um
recorde mundial... Como uma criança descobrindo a fala.
Acreditamos na impunidade dos nossos atos e não nos
bate nenhuma natureza de remorso ou constrangimento pelo que fizemos, somos
réus confessos pelo crime que cometemos.
Matamos nossa vontade e simplesmente morremos de amor!
Não envolvemos terceiros, não deixamos rastros, marcas,
digitais, simplesmente morremos de amor.
Hoje, vivemos uma vida além da vida, simplesmente
porque morremos de amor.
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