Do pouco que me recordo da minha infância, lembro-me
que debochava copiosamente das pessoas que admiravam estranhos... Tirava sarro
e pensava comigo mesmo: “Que ridículo chorar por causa de um ídolo”.
A criança vive de simbologias, mas quando essas figuras
saem de cena, damos importância a uma realidade nada virtual...
A saudade inventa e revigora o nosso ímpeto de enxergar
um ponto além do horizonte... Um ponto que mesmo distante, buscamos
incessantemente chegar até ele em corpo físico...
E depois notamos que após a chegada a este ponto, temos
mais um adiante, numa espécie de “esconde esconde”... E brincamos de “pega
pega” até o fim dos nossos dias, em uma longa e extenuante caminhada...
Toda perda é imprevisível, mas ela nos aponta para
valores indescritíveis que estavam adormecidos dentro de nós, descobre-se o que não é mais, o que não será, mas revela-se o que está por se eternizar: A saudade.
Não é fácil enxergar o que não se pode enxergar mais com os nossos olhos materiais. A nossa fotografia mental é o melhor recurso para nos
aproximarmos dessa vontade incontida e pressentirmos um contentamento
intangível, porém real.
Restam as canções. Por detrás da ausência, sobra um
alívio ofertado por uma trilha sonora que ouvíamos juntos, ele – ao volante –
eu, descobrindo a estrada...
E que estrada! Não se permitia buracos, oscilações
bruscas, muito menos invariáveis mudanças climáticas, era sol o tempo todo.
Quando surgia alguma manobra mais grosseira, ele
tratava de me acalmar em uma espécie de recapeamento, o que hoje traduzo como
“a chance de recomeçar”.
Temos muita dificuldade em aceitar um abandono
repentino, uma perda imprevisível, talvez seja por isso que muitos renunciam o
fracasso dos laços e evitam a recordação, o que acredito ser um suicídio
indireto. É tão desumano escamotear uma despedida.
Por isso elevemos a nossa sabedoria e sensibilidade à
forma mais poderosa de sobreviver depois que inventaram o amor; a lembrança.
Hoje, entendo perfeitamente as lágrimas que escorrem ao
trazê-lo em minha memória. Hoje entendo perfeitamente porque as pessoas choram
quando um ídolo se vai, por isso invento saudades.
Te julgo imortal em minhas lembranças e as transformo
num porto seguro. Esta é a maneira mais anestésica que encontrei para suportar
o sofrimento causado pela ausência. Assim convivo amistosamente com o meu luto
interior, na certeza de que em breve nos encontraremos novamente para curtir
mais uma estrada juntos...
Valorizem o Dia dos Pais, pois somente quem passa este
dia sem o seu principal protagonista, sabe que o espetáculo passa batido e sem
aplausos.
Aproveitem essa estrada como se não houvesse o amanhã.
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