Em
face da nossa teimosia em brincar de “esconde-esconde” com as nossas
realidades, a gente se sabota, se adultera e se contamina em uma
auto-colonização equivocada de nós mesmos.
Eles
falam mal do Dia dos Namorados querendo um dia protagonizar uma mesa de jantar
a dois. Levantam orgulhosamente e
afonicamente a bandeira do Dia dos Solteiros exclamando-se em redes sociais e
não se tocam que o protesto infantil não é uma questão de opção, e sim de incompetência
em estarem sozinhos.
Eles
levam horas e mais horas se produzindo, mas na balada, no club ou no barzinho
com som ao vivo, mais parecem seres de uma “fabricação em série”, todos com o
mesmo dialeto e com as mesmas roupas.
A
carência por um cavanhaque roçando o pescoço é muito mais forte que o medo do
auto enfrentamento num sábado – sozinha - entre o sofá, livros e a HBO.
O
ímpeto de comprar um camarote e se exibir com Chandon cheio de foguinhos de
artifício na garrafa é muito mais forte que a meditação de ficar em casa assistindo
o UFC sozinho ou curtindo o sobrinho com a família.
E
assim a vida segue em lugares cheios de gente vazia:
“Aqui
estou de volta, sem perder a razão das minhas defesas. Aqui estou de volta sentindo-me
só, mas entorpecendo o vazio por meio de olhares insinuantes e justificativas
entre amigas.
Aqui
estou de volta; salto alto, tinta na epiderme vislumbrando uma gola em “v” com
o peito depilado e braços torneados. Se ele disser que estou linda e perguntar
meu nome já me sinto plena e convicta das “minhas realidades”.
Aqui
estou de volta, francamente, não me importo em fazer atividades que enalteçam a
minha saúde, gosto de fumar, gosto de encher a cara e amo selfies com garrafas
de Veuve Clicquot, Absolut ou Smirnoff, quando não tem playboy chamando pro
camarote a gente caça na pista com ostentação.
Balanço
as coxas até dar câimbras, bebo até perder a postura (postura?), mas chego à
minha casa satisfeita pelo que vivi, afinal de contas, amanhã a vida acaba,
temos que viver tudo que há pra viver, não é mesmo?
Outra
coisa que não me importo e também não perco o meu tempo são com as indagações
que os amigos mais velhos, mais experientes, namorados ou casados me fazem, não
me aniquilo por certos porquês:
Por
que estou aqui? Por que tenho 33 anos com pele de um crocodilo com um
centenário de vida? Por que gasto horrores com xampus “fancies” se vivo fedendo
cigarro? Pra que cremes e mais cremes se pareço um guaxinim com olheiras
intermináveis?
Aphe,
cada perguntinha besta pra se fazer, não ligo pro que dizem.
Aqui
estou de volta, as coisas perderam o sentido, a rotina literalmente acabou com
a festa, mas eu to aqui pra ver e ser vista, afinal de contas, a única coisa
capaz de sobrepujar o tempo é o Ego.
Mudam-se
as maquiagens. Mudam-se o dress code. Mudam-se os cabelos, mas a festa do
branco, o festival sertanejo ou a feijoada com pagode continuam “bombando”, e é
isso que realmente importa.”
E
assim ela vai aos embalos de terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo à
noite, sem conhecer, claro, um John Travolta da vida.
A
real é que pessoas que agem com autenticidade estão dentro de casa, talvez por
isso haja tanta gente boba e desinteressante falando da idiotice dos que estão
na balada, sem se dar conta que estão dividindo o mesmo balcão ou a mesma pista
de dança.
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