Não era amor.
Era uma necessidade de se sentir necessário. Um
documentário para o imaginário. Um tributo ao extraordinário. Um brinde ao
incendiário.
Não era amor. Eram dois celulares dominados pelo silêncio,
vibrando – poucas vezes – por pessoas que ainda persistiam em romper essa
lógica.
Não era amor. Eram duas mentes se oxigenando, se
libertando dos pensamentos rarefeitos de histórias pretéritas, ambas, mal
sucedidas, mas que nos moldavam para uma chance maior, para um desafio apoteótico,
erótico, total exótico para aquelas almas que ali se reconheciam.
Não era amor. Era a interpretação de todos os sentidos,
fazendo um único sentido, o nosso sentido, a nossa forma olfativa de amar as
palavras que trocamos juntos com o atrito dos nossos corpos em movimento.
Não era amor. Era a desconstrução de um mundo real pela
construção de um mundo ideal - O nosso mundo - intocável, insólito, peculiar
entre nós, mas visto com indiferença pelas visões externas.
Não era amor. Era a fusão inexorável de duas solidões.
Solidões que se somam, que se completam, que se preenchem e que se fundem
espiritualmente em um único cenário. Na cama ou dentro de um armário, sem receituário
e muito longe da compreensão de um dicionário.
Não era amor.
Era o apetite, o desprezo pelo limite. A vontade
incessante de se plugar a dois e se desligar do mundo dos bilhões. A união
legítima de dois pensamentos em busca de um lugar seguro, o nosso porto, o
nosso cais, a nossa casa. Aqui, tudo é permitido, inclusive a fragilidade das
nossas inconcordâncias.
Não era amor, era o próprio amor depois das três, numa
tarde frenética, numa escapada estratégica para a devoção assimétrica de dois
corpos em simetria. Convivência, quebra de tabus, obediência ao que nos faz
bem, somente ao que nos faz bem.
Não era amor, era o medo inconsciente, o pavor pela
distância, a redenção pela aproximação, o descontrole pela saudade, a imposição
química e física pela gana de estarmos juntos.
Não era amor, era melhor, muito melhor que o amor.
Inexplicável. Concordante. Incontestável. Cúmplice. Realidade
incontornável.
... Nós!
... Nós!
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