Existe uma fase da vida que a gente deixa de ser aquela
silhueta projetada em pessoas para virarmos realidade. É o momento de evitar o
sofrimento do calendário, imaginando as razões que te levaram a não estar mais com
o passado.
É o rompimento do cordão umbilical com certas
satisfações que você tem que dar a certos compromissos, uma espécie de queda
livre de um Bungee Jump (sem corda), sentindo o vento na cara.
É a fase do namoro consigo mesmo, de se olhar no
espelho e se orgulhar do que é, ou encarar os defeitos, apontar as fobias,
sentimentais (ou não) e seguir adiante sem ter que mudar por conta de algo ou
alguém.
É sentir uma saudade nostálgica num sábado à noite. É
se indagar sobre o que nos leva a ficar lendo um livro num sábado à noite ou libertar
a imaginação ao pensar em nossa jornada até aqui... Num sábado à noite.
Sem arrependimentos. Sem ressentimentos. Sem boicote.
Sem sabotagem. A gente se convida a participar da nossa vida.
Para muitos isso se rotularia em desapego, para mim, reconstrução
individual.
O desapego não é a chave da felicidade, aliás, não
existe chave para isso ou para aquilo, as pessoas atribuem a esperança pela
felicidade, como sendo um sentido primordial de vivência, de barganha, de
escambo e, quando as coisas não vão bem, fogem da realidade sem tomar contato
com a mesma.
E como fogem dessa vida? Procurando outra vida. Esse é o
grande equívoco que cometem; repassar a nossa vida para uma outra administrar;
projeções, expectativas, devoção, entrega, álbuns precoces no Facebook.
Divulgamos o pretenso relacionamento como se estivéssemos vendendo uma ideia de
exato, de correto, de bem maior.
Viemos com a ideia de que pra ser feliz é preciso ter
alguém para preencher tudo que está repleto de vazio dentro de nós, repassamos
a nossa sombra adiante e esquecemos que essa encarnação é única, intransponível
e valiosa demais para arrendarmos para outrem.
O fato é que todos nós (implacavelmente) já servimos e
já fizemos alguém de muleta emocional; ninguém escapa de um discurso bem
arquitetado, ou de uma persuasão egoísta bem camuflada. É por isso que a frase
de Oscar Wilde nos afugenta tão bem: “Pouca sinceridade é uma coisa perigosa,
muita sinceridade é absolutamente fatal.”
Revogo-me ao direito de ter um período sabático e
entender que ausentar-se do valor inestimável que é fazer alguém feliz é
temporário, como estar triste ou estar alegre.
Enfim, estar só é correr riscos, mas nos convidar ao
autoconhecimento é algo digno de um apaixonado pela vida, pela própria vida.
O apaixonado jamais adia o encontro, e eu precisei me
atrasar para entender isso.
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