Crônicas

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Era uma vez...


Nenhum obstáculo vivo passava ileso pelo movimento da espada de um príncipe. Dotado de um senso comum e inerente de bravura, os príncipes achavam que suas vidas não sobreviveriam ao próximo final de semana, embora o calendário na época fosse confuso e insensato...


Entretanto, em meio às defesas de seu reino, território ou coroa, um compromisso era inadiável e exato: Arrumar uma paixão!

Existia tempo hábil para isso? Sim, claro!

Embora submissos ao poder da monarquia e suas regras de servirem impiedosamente à somente um rei, os príncipes tinham tempo para a dedicação da pretensa candidata a ocupar o estofado macio do seu trono...

E não, isso não é um conto de Walt Disney!

O tempo passou e a humanidade consagrou a imagem desses jovens corajosos (com sua espada, seu elmo e seu cavalo branco) em imortais, dentro das páginas quadradas dos livros de história (ou da modernidade do seu Ipad).

Mas todos os príncipes foram dizimados? Sim, quase todos!

Hoje, os hábitos são outros, os costumes e os valores também e as tarefas para quem é príncipe se multiplicou relativamente em comparação aos anos da antiguidade.

Danou-se?! Sim, danou-se!

Os príncipes de hoje precisam (no mínimo) de uma formação acadêmica em heroísmo. A Sala da Justiça está pior que a USP: Se é difícil passar pela porta, pior é se manter lá dentro!

Entretanto, ao contrário do nosso regime empregatício de recrutamento, a Sala da Justiça está vazia, possui mais oferta do que procura; isso porque nenhum marmanjo quer se tornar príncipe ou herói por conta da evolução da promiscuidade e do desapego quase que institucional.

A concorrência quadriplicou. O casamento se banalizou. A sociedade se tornou uma quitanda de pessoas. Orgulho e prepotência só ficam atrás de “amor” e de “compreensão” no dicionário.

Sim, danou-se tudo!

E diante dessa relação desigual entre “oferta e procura” eu arrisco uma oferta:

Troco minhas redes sociais por uma espada e um puro sangue branco!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sonhos não morrem


Presumo que um dos segredos mais sórdidos da natureza humana seja a busca frenética em descobrir o segredo alheio, assim quem sabe seja possível suportar e conviver com os nossos.

Confuso, não?

Que nada, simples!

Os segredos não existem, eles coexistem em meio ao seu tempo e ao espaço do outro em permitir que você fale sobre o segredo alheio. Pura relação entre tempo e espaço.

Os sonhos se sobrepujam movidos pelo interesse (tempo) e os segredos sobrevivem nos tímpanos (espaço).

Se os sonhos não morrem as vontades não falecem e os obstáculos não se adoecem. Seguindo essa ordem cronológica de tempo e espaço, nosso ritmo alucinado nos transforma em seres individualistas: A consciência nos cobra! Existe a vontade, mas falta a iniciativa.

Entre a razão e a emoção está incrustada a maldita preguiça. Ela interfere na harmonia dessa relação (razão e emoção), talvez seja por isso que muitos amores sucumbem sem honras ao mérito, lançados nas fissuras do descaso ou caracterizados em frases sórdidas do tipo “a fila andou” ou “você merece coisa melhor”.

Talvez seja por isso que de vez em quando bata aquele arrependimento na porta da consciência pedindo para que você faça “valer à pena” na vida de alguém: uma ligação, um email, um “toc toc” na porta. Uma visita inesperada faz com que a esperança espere sempre um pouquinho mais.

Faça o teste: bata na porta de alguém que você gosta e que a falta de tempo desgosta. Você vai encontrar a sua alegria ao ver a alegria do contemplado.

Sonhos que não morrem. Vida que escorre. Tempo e espaço inatingíveis. Relógio incansável.

A vida escorre paulatinamente e nos causa um frisson esquisitamente gostoso porque vivemos sem saber sobre o amanhã, mas ela não é curta, jamais!

A vida não é curta!!!

Quem foi o metido a sábio que ditou isso na humanidade? A vida é suficientemente longa para que façamos dela algo marcante e eterno.

E se o relógio marca o tempo incansavelmente e nossos sonhos dependem da nossa validade aqui neste plano, como será a unidade de medida da eternidade?

Nossas ações!

- Alice: Quanto tempo dura o eterno?

- Coelho: Às vezes apenas um segundo.

(Alice no País das Maravilhas)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Abraços sem laços


Ao perseguir um abraço lutamos pela sobrevivência da carência e afugentamos nosso medo de permanecer só.


Ser carente não é brega! Ser carente é mó barato!

Ao recusarmos a carência, submergirmos em uma passionalidade silenciosa, tímida, rejeitada e negada. Já viu alguém elogiar a carência de alguém?

- “Ah, ele é um amor de pessoa, tão inteligente, altruísta, perspicaz, mas é tão carente...”

A única coisa que acompanha a carência (além da sua vontade em perseguir um abraço) é o advérbio “mas”...

- “Adoro você, mas você é tão carente.”

O exagero persegue a carência do carente porque o carente é sempre intitulado de exagerado, mas na verdade não existe exagero, existe abstinência de carência nas pessoas. Hoje em dia quase ninguém é carente e, os que são, vivem uma peça teatral encenando uma vida completa e adocicada.

Querer carinho a todo instante, não é carência, é insegurança. Não confunda!

Ah, um abraço...

São segundos caracterizados por uma emoção que vai além da vida, saindo da penosa realidade e brincando de viver. É um clássico da conjunção afetiva humana.

É isso; é o mais clássico dos clássicos!

E mesmo sendo um clássico, a cada dia se torna mais jurássico; tá faltando abraço em vários braços, ta faltando coragem para reivindicar abraço e ta faltando humildade para reconhecer a falta que faz um abraço.

Os abraços de hoje precisam de laços, Assim como uma caixa de presente necessita ser envolvida e abraçada por um laço! Acho que até cabe uma campanha do abraço nas redes sociais.

Os abraços são dobras que viciam a vida e enrugam nossos braços.

Já ganhou um abraço hoje?