Crônicas

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Catarina sem coração. Tinder sem depressão.


Cansada de encher a cara todos os finais de semana... De Neutrogena e Hipoglós. Catarina se aventurou no submundo-ninfo-tecnológico do Tinder...

Achou que seria amada, mas hoje se contenta em ser comida, o que lhe causava uma pseudo redenção emocional.

Antes de se endemoniar pelo aplicativo, se surpreendeu com a sua vaidade exacerbada e foi comida (não como gostaria) pelo seu ilustre ego – agora – de saco cheio de canalizar seus desejos em seu salto 15, debutou em seu primeiro encontro virtual de rasteirinhas - que – metaforicamente – lhe assegurava em evitar tropeços para “cair na real”.

Abdicou-se dos quilômetros de fala para ser a ouvinte (tarefa quase que transcendental para uma fêmea formada em publicidade, hoje, escritora solitária).

Mas foi precavida de previsões; não se assanhou no decote, tampouco fez questão do make na cara. Encontrinho as escuras merece gente às claras; sem escova, sem saia e sem batom mesmo.

Catarina foi ao encontro como se estivesse indo à padaria às 7h da manhã de um sábado chuvoso, azar do postulante a sua vagina que – no afã de achar que estava abafando – foi todo “paquitinho” ao encontro.

Mas era um paquito com cara de galã de rodoviária; barba por fazer, cabelo repicado, olhar de vagabundo nato (estilo Javier Bardem de ser).

De súbito, Catarina levanta o indicador e pede uma caipirinha de saquê ao garçom.

Enquanto Catarina ansiava por beijos lascivos e mãos abusadas brincando debaixo da mesa do bar, “Javier” exibia uma estratégia um tanto que exótica para estes tipos de abordagem; falou da Tia que mora em Conchal, reclamou do ar seco, orgulhou-se das suas coleções oitentistas e falou até da porra do pré-sal.

O rapaz estava tentado pavimentar o caminho para a cama, mas Catarina queria que ele passasse o rolo compressor nela sem muitos rodeios, afinal de contas, pra que o cara quer pegar balsa se podemos ir de avião?

Sua pressa em se sentir necessária trazia uma voz inaudível para o rapaz. Era o seu maldito desespero questionando o cenário: “Ele quer fazer sexo ou quer uma porra de uma terapeuta?”.

Em meio aos seus devaneios chamou o garçom e alterou o pedido: "Quero um suco de abacaxi com hortelã."

“Javier”, tentando ser o sedutor poético acanhou-se com a troca repentina de pedido e freou o acesso a dose de Whisky. Pensou consigo mesmo: "Sexo por sexo eu teria saído com a Babi, que tem 23 anos e adorava trocar fotinhas sórdidas pelo Whatsapp."

Beijos ceifaram as falas do rapaz, entretanto, Catarina, principiante da vida notívaga, havia acordado muito cedo e tido insônia na noite anterior, bocejou.

Bocejar num primeiro encontro é mais contraceptivo que calcinha bege ou bojo no sutiã. Desculpas foram postas a mesa:

A ironia é super indicada nessas horas de afronta moral: “Noto que o suco de abacaxi com hortelã te deu sono, vamos embora?”.

Catarina, sem entender a derrapada, vestiu-se de seu ego e aceitou o convite.

Mais uma noite dormindo na transversal da cama, só para ocupar um espaço imaginário de um companheiro.

Se cabe uma moral da história: Na próxima vez, vá de salto, é mais confiável que uma rasteirinha.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Moça, me responda: o que você faz no Tinder?


As desculpas sempre são maiores que os acontecimentos. Catarina deixou de ser donzela em período integral e decidiu seguir o coelho branco.

Ao encontrar o pingente vermelho em forma de chama reluzente, viu ali a oportunidade bater-lhe a ponta dos dedos, geralmente do indicador.

Imaginou encontros pomposos em restaurantes com guardanapos de linho. Imaginou-se também se aposentando da balada (aquela espécie de ambiente teatral notívago que engrandece o ego e potencializa as olheiras).

Imaginou também que todos os subterfúgios que permeavam aquele ambiente repleto de gente carente sairiam de cena (e do bolso também); gastos excessivos com estacionamento, gastos desnecessários com substâncias etílicas que a lubrificavam socialmente, fora os agregados: maquiagem, roupa, scarpins, manicure, pedicure, podólogo, cabeleireiro.

A propósito, toda essa produção para ficar 5 horas ou menos suando diante de um lugar abarrotado e com pouca luz. Compensaria muito mais se fosse para prestigiar a entrega do Oscar, por exemplo.

Enfim...

Entrou no Tinder!

Como toda expectativa gera uma frustração, com Catarina não foi diferente. Sua expectativa a engoliu como a pintura de Francisco de Goya, isso porque a moça tratou de selecionar demais o seu próprio cardápio, uma expectativa de 1.80 (ou mais), que morasse próximo a ela, que tivesse uma carreira profissional resolvida e que não a imaginasse sem calcinha logo no primeiro encontro.

E mais: Que fosse esteticamente bem cuidado. Socialmente bem relacionado e que respondesse positivamente a todas as suas necessidades, todas.

Catarina foi além, além da zona desconhecida das suas projeções em formato de sombras avidamente alimentada pelo seu alter ego.

Tentou uma... Duas... Três vezes e pronto, descambou para o “simulado dissimulado” que todo ser humano inseguro adora por em prática.

- Rejeita por antecipação, tipo adulto adivinhando o que a criança quer, pura dedução baseada na sorte.

- Não deixa espaço para explicações, vai logo tratando de julgá-lo por traumas oriundos de outras frustrações amorosas.

- De aplicativo das probabilidades para achismo das possibilidades matemáticas:

Foto só de rosto significa que é gordo. Poucas fotos significa que é feio. Fotos com amigas é mulherengo, perfil sem propósitos significa falta de inteligência. Fotos na academia é narcisista. Fotos com óculos de sol é um feinho tentando ser atraente.

Tudo bem tudo bem, salvo algumas bizarrices existentes, eu te pergunto: E a foto que você tem na frente da Torre Eiffel? E as fotos de biquíni? E as fotos em preto e branco?

Quando as desculpas são maiores que os acontecimentos, não será um “match” que te fará subir a um altar, mas serão alguns critérios e julgamentos que te farão comer pipoca vendo telecine num sábado à noite.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Síndrome de Estocolmo



Diante da realidade e da simbologia que permeiam minha vida momentaneamente solitária, eu tento entender a lacuna que se passa dentro de mim e o que distancia o Mundo Real do Mundo Ideal.

Horas tento tomar contato com o buraco negro que se alojou dentro de mim, horas digo oras, não vou fazer nada pra isso, se ele está lá, deixe estar.

Defendo – com lascívia e engajamento - a prática do permitir, mas noto que muitas vezes é mais um discurso em forma de uma catarse do que um posicionamento em busca de seguidoras.

Sim, eu disse seguidoras.

É muito mais fácil tomar contato com o ego por meio de seguidoras, do que de seguidores insensíveis que ainda perdem preciosas duas horas de seu tempo vendo homens correndo atrás de uma bola.

Quer saber o que se passa na mente de um homem que ainda se encanta na sessão de detergentes e de produtos de limpeza do mercado?

Há um passado em nosso presente, um conjunto de vivências que nos fazem dizer muito mais “sim” do que “não”... Em tempo: Isso não é um elogio, ok? Leve em consideração que um sim nem sempre esboça sorrisos e um não nem sempre borra maquiagens.

Homens solteiros que não sabem dizer não tomam contato com uma ideologia semelhante à Síndrome de Estocolmo, a conivência com o agressor.

Homens solteiros que não pensam em dizer não porque o “não” não os compraz, não os levam a lugar algum. Não há desventuras, não há intersecções, não há desafios para quem sempre diz sim.

Esse complexo mecanismo de funcionamento gera muito mais energia  se o rapaz morar num sobrado.

Se cabe um #nãoficadica, morar num duplex é conviver distintivamente com a discórdia e a concórdia. Não há encontros entre a morte e a vida e, embora possa ser um local pequeno, não há esbarrões nem na sala, nem no elevador.

Enquanto a intuição está na sala, confabulando mais uma aventura, o instinto está no quarto, distraindo o ego com mais um desenho oitentista.

A conivência não predomina em nada, nem mesmo quando a intuição se sobrepuja ao instinto, tipo criança quando perde a partida de futebol na escola, vai embora no ônibus sem olhar para o amigo.

Entretanto, existe a presença de sentimentos hostis com muito respeito e esportividade, não há espaço para debates, o debate aqui é moral e convive no silêncio de uma casa recém reformada.

Engana-se porém, quem pensa que respeito e maturidade caminham juntos neste cenário dúbio e prolixo. Sobra impulsividade e falta maturidade emocional para ambos.

E quando não há uma conclusão, quando os sistemas se dividem pela metade ou, melhor dizendo, quando nada se enquadra na própria quadra, o Whisky entra em cena e estabelece a paz... Temporariamente.

Porque o sim provisório ás vezes é mais encantador que um não a prestação.