Crônicas

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mundo dos Pinóquios



Um tanto de um monte pode ser - ainda assim - o resto de um pouco, depende da ótica e da necessidade.
De alma anestesiada e coração gelado, aquarianos, cancerianos, capricornianos, geminianos, virginianos, sagitarianos, librianos (sim, librianos) e todo o universo astral, paradoxal, bilateral, dimensional e principalmente consensual, perambulam e trafegam no que eu chamo de E.H.S.I (“estranha harmonia satisfatória imediata”).

E.H.S.I. O que se mostra por fora e o que se é por dentro.

Confundimos constantemente essência com aparência. Todo mundo quer exibir uma felicidade ideológica de bem estar, geralmente visto em casais que acabaram de se separar. Antes do litígio, a suposta progressão de uma relação duradoura por meio de fotos, check ins e declarações. Pós litígio, uma felicidade transbordantemente chata, como se a vida tivesse ficado bem mais atrativa com o kick na bunda.

Mas não são só as relações frustradas que fomentam as redes sociais.

Vivemos numa época paradoxal onde tenho medo de imaginar qual será o seu legado para as futuras gerações.

Época que - em detrimento do poderio bélico digital – nos revela uma inóspita dicotomia:
Nos aproxima nos afastando.

Nos separa pela manipulação da mídia, nos distancia pela intolerância de opinião e nos faz guerrear verbalmente pelo confronto das verdades absolutas de cada um.

Sim. Nos tornamos juízes detrás de um teclado cuja a intenção é discordar, reclamar, ofender e xingar quem não faz parte da sua “bandeira”.

Pseudos nacionalistas participando de ONGs, defendendo o partido “x” fazendo selfie com roupa da Guaraná Brasil.

Pseudos moralistas destilando duras críticas em assuntos que surgem nos canais informativos de páginas do Facebook curtindo foto de depravação e dizendo “bem feito” pra corrupção.

Pseudos intelectuais que se dividem em esquerdistas e direitistas se digladiando em posts nas mídias sociais acreditando que essa divisão realmente existe. Se ofendem demasiadamente com apelidos infantis, mas se esquecem (ou não sabem) que o esquerdismo de hoje foi o socialismo de ontem.

Pseudos progressistas relativizando a crise postando em seu feed de notícias dicas para evitar o caos hídrico.
Pseudos ressentidos/vitimistas/sensacionalistas/passionais fazendo selfies melancólicas, de sofrimento por algum tipo de mazela como preconceito e fobia, mas que no fundo, clamam para serem aceitos na sociedade.
Que maldita mania de querer ser incluído em tudo.

Obesos, transexuais, nordestinos, anglo saxões, gente de esquerda, gente de direita, progressistas, homossexuais, homofóbicos, todos tentando enfiar goela abaixo as suas verdades, quando na própria verdade, todos estão vivendo uma mentira insólita e surreal... Vivemos na mão da contradição encharcados de barro até a cabeça porque nos enfiamos na lama.

Pessoas incapazes de compreender a própria incapacidade atacando a competência alheia, artimanha diabolicamente promovida e disseminada pela mídia televisiva, digital e impressa, que assiste por “cima das nuvens” uma audiência baseada no conflito e no fundamentalismo, mas tudo bem, dá dinheiro, não é mesmo?

Vivemos num mundo de Ariel, onde o faz de conta nos trás a conta do que poderia ter mudado se pensássemos na prevenção antes da reabilitação.

Agora, vivemos num mundo de Pinóquios, aonde pessoas vão às ruas por 20 centavos, mas lotam os bares de segunda a segunda confabulando uma situação adversa a realidade, de sorrisos, de satisfação plena e de diversão congênita.

O que mostra por fora e o que se é por dentro. Estamos nos viciando pela inutilidade e pela futilidade.
Mesmo vivendo em um Mundo de Pinóquios, quando eu vejo uma imagem dessas acredito que ainda é possível nascer, ao invés de ser fabricado.


Precisamos nos refazer pelo bem porque ao contrário do Pinóquio, quem mente o nariz não cresce... Infelizmente.

Me conte sobre nós


Me conte sobre nós, ando me distraindo pelas distrações corriqueiras do intrépido cotidiano, por mais insanidade que pareça, estamos sempre nos perdendo de nós e - vez e outra - necessitamos daquela puxada nos pés e de uma âncora amarrada a nossa cabeça.

Firmar o pensamento. É isso.

Me conte sobre nós; fora a reforma íntima sobre as minhas dispersões existe algo que preciso entender, saber, descobrir? Eu mesmo me passo para atrás algumas vezes; sou esquecido, sou prolixo, sou descuidado, mas jamais deixarei de ser um apaixonado.

Me conte sobre nós; sei que as obrigações e responsabilidades que eu mesmo construo me fazem vivenciar uma relação torturante comigo mesmo, parece que eu tenho um prazer sado em perpetuar certos sofrimentos, não é mesmo? Quando tudo está nos trilhos, a gente desce do trem e inverte a bifurcação, coisa de gente grande.

Me conte sobre nós. Me enxergo com certa miopia quando estou angustiado. Me vejo no espelho e tento me notar inversamente, sendo eu próprio porque sei que o espelho é astuto e dissimulado, ele mostra a minha senilidade, mas jamais a minha decrepitude moral.

Eu preciso rejuvenescer os meus valores e me propor ao desafio inóspito de uma revisão punitiva acerca do meu egocentrismo escancarado.

Falar de si mesmo desafia a observação imparcial. É invocar fantasmas, ressuscitar antigas personalidades emergidas de mim mesmo com a finalidade de reunir todos os responsáveis do passado pelas angústias que afloram neste presente, por isso estou aqui, com certo descaramento, mas com muita audácia e atrevimento convidando a pessoa que mais me faz sentir presente nesta sala.


O debate está aberto. Me conte sobre nós. 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Viagem distraída


A viagem mais difícil do ser humano não está nos obstáculos das enormes filas da rodoviária do Tietê em pleno feriado.

A viagem mais difícil do ser humano não está em um possível turismo para Marte, nem tampouco se aproximar fisicamente ao Titanic há quatro mil metros de profundidade sem a ajuda de robôs.

A tua viagem mais difícil não está em refutar o passeio de férias da sua filha de 12 anos juntamente com os amiguinhos da escola.

A tua viagem mais difícil está dentro de você, sem pavimentações palpáveis, sem piche, sem cimento, apenas com um pouquinho de audácia e atrevimento.

Audácia e atrevimento.

Audácia, sempre exibida como material abundante nos filmes de heróis e nas figuras históricas que permearam as épocas medievais.

Atrevimento, confundida invariavelmente por petulância, faz parte do conjunto de palavras dúbias do nosso dicionário, mas, em detrimento do texto e do que busco transmitir, prefiro adotar a ideia exata de enfrentamento e confrontamento sem excessiva confiança pela certeza do caminho.

Coragem além da inteligência é usar o coração como instrumento de navegação. Atrevimento além da presunção é amaldiçoar a própria viagem. Audácia além da transposição de medo é desafiar os limites.

O que escolhemos para nós? Qual é o caminho menos ardiloso, menos arenoso e com júbilos e libido constante?

Muitos reclamam soltando ao vento a seguinte frase: “Gostaria de ser livre como um pássaro”, mas quem disse que o pássaro é livre? Ele não escolheu nascer com asas e não pode não deixar de voar, tua vida se resume ao céu por aceitação, a nossa, se resume ao inferno por indagação.

Não aceitamos nossas escolhas. Não sabemos não viver sem reclamar.

Outros balbuciam sobre a falta de dinheiro e a associam estupidamente ao sucesso e aos orgasmos materiais.

Quem nasce em berço de ouro vive com a angústia de perder o dinheiro que tem. Vive com receio de sequestro, convive com a sombra da aproximação por interesse, do amor de alpinistas sociais, vulgo mulheres interesseiras a procura dum porto seguro.

Como ninguém pode ter medo de perder o que não tem, dessa tristeza não morrerei, assim como muitos por aí, creio eu!

Qualquer caminho escolhido será difícil. Não existe moleza. Existe complexidade. A complexidade do básico e o básico está em compreender que somos protagonistas e antagonistas da nossa realidade.

Realidade, sim.

Não substitua o contato pessoal com você, permita-se ao tédio, ele é decisivo para você construir uma vida criativa e quem sabe assim, entender um pouco mais sobre as tristezas inesgotáveis dos caminhos que você escolheu, afinal de contas, a gente não suicida nossos hábitos, nós aprendemos a conviver com eles tal quais os insetos, o tempo quente ou a chuva torrencial do caminho que optamos seguir viagem.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O não pelo perdão


Não. Um dos primeiros fonemas que ouvimos assim que a nossa cognição dá as boas vindas em nossas vidas.

Não.

Um minúsculo elemento sonoro capaz de estabelecer uma distinção de significado entre as palavras, entre as condutas e principalmente entre as permissões.

Sim.

O não pela inaceitação. O não pela ilusão do conformismo confortável. O não pelo falseamento das nossas ideologias.

O não pela própria ideologia, desde que ela seja pura e simplesmente um desejo.

Desejo não concebido, não sanado, não saciado é utopia.

O não pela maquiagem social. O não pelas nossas irrealizações projetadas por nossa ideologia de certo ou errado, desde que a ideologia seja uma condição de dominação.

Ideologia. Vou na onda de Karl Mark: “ideologia age mascarando a realidade”.

O não pela vida não pulsante. Vida morna. Vida inativa. Vida cansativa, compassiva demais.

O não pelo esconderijo do romantismo. Pela chancela de um sorriso. Pelo espanto de um gesto bom.

O não pela abstinência de reforma, não de reforma da cozinha, do banheiro ou do escritório. O sim pela reforma interna e – como diz um excelente livro – o sim pela reforma íntima sem martírio.

O não pelo previsível contínuo. O não pelo automatismo. O não pelo pragmatismo porque tudo que é demais enjoa. Seja de kichute no pé, seja de barco, canoa ou iate, a mesma paisagem deixa de ser uma obra prima pra virar quadro de pintor de Avenida Paulista.


O não pelo perdão. O que não conseguiremos executar nessa vida, postergaremos para a próxima, mas devemos entender que um futuro sem o perdão do passado é a estagnação de um presente sem fim.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Os mornos não têm juízo



Temer ou não temer, eis a questão que se faz do seu juízo.

A ideia de que seremos “questionados” ou indagados perante Deus sobre nossas obras aqui neste planeta escola me faz repensar sobre o juízo Final.

Juízo final...

De fato, o final é inexorável, o que me assusta mesmo é o juízo.

Juízo do que algumas pessoas fazem do seu próprio juízo e da maneira como conduzem a sua vida.

Juízo final...

O que fizemos e o que não deveríamos ter feito e fizemos?

Ou melhor:


O que não fizemos e por que fizemos do jeito que achamos que deveria ser feito?

A crença de um julgamento do homem tendo Deus como juiz levando em consideração os atos executados por este me espanta.

Mas o que é o Juízo Final?

Eu tenho uma ideia!

A divindade suprema (opinião privada de cada um) chama o sujeito eloquentemente em particular e – com uma mão carinhosamente em seus ombros – lhe pergunta:

Filho, o que foi que você fez durante toda a sua vida?

Uma pergunta simples, entretanto, em detrimento de seu sofrimento contínuo e unilateral em busca do poder a qualquer preço, do ter sem pensar além do ter e do pouco pelo saber, é impossível responde-la em 5 minutos.

Gaguejou... O sujeito - sabotado por uma gama avassaladora de pensamentos, culpas e receios - gaguejou, hesitou, vacilou, fraquejou, bobeou, transformou uma pergunta decisiva em um silêncio morno.

Conhece gente morna?

Aquela que economiza sorriso, que poupa questionamentos, que não admira o ato de contestar, que fala gesticulando a cabeça em tom de aceitação, que conjuga a cautela como consternação absoluta do seu cerne.

Gente morna... Abraça de lado, não sabe o que é apertar uma mão, desconhece o medo pelo fracasso ou a descarga emocional pela conquista, vive de “sei lás”, de “tudo indo”, de “seja o que Deus quiser”.

Gente morna... Tanto faz para as despedidas, tanto fez para as permanências, vive sem ter muito o que fazer num mundo onde se precisa de gente pra se fazer muito. Acredita piamente nas fórmulas e justamente por isso, não altera alguns coeficientes fundamentais para o seu aprimoramento, simplesmente vive assim, morrendo vagarosamente, dia após dia, suspiro após suspiro, sem se dar conta de que todo ser – por mais medíocre que seja, necessita deixar algum tipo de legado.

Nem fria... Nem quente... Gente morna.

Enquanto muitos se julgam diariamente compreendendo que a razão é oriunda da alma, gente morna prefere a cautela pelo não risco, a ocupação de matéria e ponto final... Apertam “esc” para a ousadia e dão “enter” para os atalhos da vida.

Atalhos da vida... Encurtar um caminho é reduzir o sofrimento e diminuir o conhecimento porque a gente só aprende na dor e só se agiganta perante os desafios, por isso que viver contraria a matemática: viver (dividir) é igual a somar (compartilhar).

Trocar é crescer, isso é viver. Quem não troca não se equivoca e quem não erra não aprende a crescer. Viver é a capacidade de partilhar, por isso a vida é um milagre para os inquietos... Não para os mornos.

E aí você me pergunta:

Mas todos nós sairemos de cena um dia, a vontade em permanecer não importa, correto?

Sim, é verdade, mas se você entender a máxima que o único jeito de ficar é fazer falta, você será eterno, aqui ou em qualquer outro lugar.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

A ótica do holofote


                                    
Aos olhos do mundo, uma pessoa com fala mansa, educadora, motivacional.

Aos olhos dela, uma pessoa que se esforçava em ser o que dizia de si mesmo.

Aos olhos do mundo, apaziguador, pacato, promotor da justiça e da igualdade em qualquer nível de importância.

Aos olhos dela, calmo até uma ventania emocional comprometer os seus alicerces morais.

Aos olhos do mundo, mergulhava seus amigos em risadas debochadas e extremas com seu jeito sarcástico fazendo o maxilar ter câimbras.

Aos olhos dela, admiração com certa mediação em detrimento de já conhecer os seus dotes conquistadores.

Aos olhos do mundo, uma pessoa segura de si, exagerada em suas objeções, impetuoso em suas convicções.

Aos olhos dela, uma pessoa escamoteando a insegurança com a própria segurança, ufanista em suas críticas,
invariavelmente impetuoso em suas convicções (padrões comportamentais comuns a todos as pessoas).

Aos olhos do mundo, uma pessoa ponderada, persuasiva em seus pontos de vista, oratória eloquente e engajadora.

Aos olhos dela, uma pessoa que não paga a prestação suas palavras, resmunga, contesta, exclama, de forma eloquente e engajadora, desde que o coração não assuma o discurso.

Aos olhos dele, os olhos dela. Num esforço individual contínuo para sobrepor o seu orgulho e a sua vaidade sem deixar de ser quem é assimilando as críticas do que já fora um dia.

Intimidade é isso; Tolerar o previsível, amar o que é possível, abandonar o que não é saudável... Entretanto - é - acima de tudo - a união sem litígio entre dois temperamentos que se fundem, muitas vezes de forma destemperada.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

A cura pela inovação


A era dos problemas de esfera psicológica finalmente infestaram a sociedade. Digo finalmente porque já estávamos sem criatividade e sem ideias inovadoras para nutrir nossa antipatia pela rotina – afinal de contas – sempre são as mesmas doenças e sempre na esfera biológica, precisávamos inovar!

Vejam como exemplo a hanseníase (amedrontamente chamada de lepra), foi a doença mais antiga da humanidade (1350 a.C) e sua cura só foi descoberta no início dos anos 80. Isso sem mencionar nas epidemias (aquelas doenças que não suportam somente os 5 minutos de fama e se propagam mundialmente).

As doenças se reinventam (isto é fato), a tuberculose, a difteria, a febre amarela saíram de cena e deram vazão ao sarampo, a rubéola e que, por conseguinte foram substituídas pelo Câncer, Aids, gripe aviária, ebola e atualmente (ainda em menor escala) dengue.

Dengue, todas as vezes que reflexiono sobre, analiso a imensa fragilidade do ser humano e a sua burrice em larga escala. Dengue é um desleixo nosso, causado pela ausência de educação, pelo excesso de ignorância e pelo descaso de chefes de estado eleitos por quem mesmo?

Ah tah, por nós!

Deixemos a culpa e o vitimismo de lado (essas patologias serão abordadas no próximo parágrafo), pois bem, correlacionado a isso, temos as mudanças dos hábitos e o desenvolvimento irrefreável do capitalismo moderno, arrastando pessoas e mais pessoas aos principais centros urbanos, ocasionando problemas, caos e principalmente a inovação das nossas doenças: Os problemas psicológicos.

Respeito os sintomas terríveis que uma depressão oferece ao indivíduo, imagino o terror que deva ser a síndrome do pânico, mas a nova adesão que contamina as pessoas possui um clamor ainda maior: O vitimismo.

O vitimismo é um poço de sentimentos negativos, dele surge à tendência para culpar os outros sob a justificativa irracional do “ele tem mais do que eu tenho”. Deste sentimento mesquinho e tacanho surgem às couraças de autodefesa que não permite - ao que se faz de vítima – viver e conviver numa esfera social de forma consciente, sensata e digna.

Dele, deriva a impressão congênita e absurda de que o vitimista não precisa mudar e reciclar seus pontos de vista, os outros é que sempre estão errados, os outros é que precisam sucumbir e concordar com eles.

O vitimismo renega qualquer tipo de meritocracia em favor da idiocracia; Estudou em colégio bom? Tem casa própria? Carro? Qualidade de vida? Fez por merecer? “Desculpe, você pertence à elite branca e o seu modo de vida me irrita!”

Sim, ser eficiente, investir numa ideia, acreditar em seu potencial, ir á luta, se dedicar por um estudo, por uma tese ou simplesmente herdar algo digno que seus ancestrais construíram, sim, você será o novo odiado da nova doença do século XXI, o vitimismo.

Do vitimismo ao espertismo, da política a sociologia (aqui, na ordem cronologicamente inversa), falemos de César (o governante romano): Dividir para conquistar, em português evidente, dividir para reinar.

Espertismo no dicionário: Consiste em ganhar o controle de um lugar por meio da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo que se mantenham individualmente. Estratégia que tenta romper as estruturas de poder existentes e não deixar que grupos menores se juntem.

É certo, evidente e latente que a sociedade se rachou por sua adesão ao fanatismo, assim como Hitler, líder que conquistou a empatia do povo alemão por abusar de um sistema desacreditado por conta da primeira guerra mundial e seus resquícios (miséria, fome, pobreza) – aqui – metaforicamente (e coincidentemente) pintado de vermelho, temos uma nação (em sua totalidade) corrompida por se achar inferior e por não acreditar em si mesma.

A falta de fé nos leva a dependência e a falsa ideologia de que uma nação, a beira de uma falência geral, sempre precisa de um líder. A falta de fé raciocinada compensa a falta de habilidade social, assim sendo, o povo vai na onda do coletivo pela discriminação, pelo extremismo e pelo fundamentalismo.

Vitimismo; a pior das cegueiras; destrói a pessoa pelo descontrole de autocrítica, pela carência de discernimento e pela falta de conhecimento pela sua capacidade de avaliação racional.

Uma doença praticamente incurável a qual me faz chegar a uma conclusão nostálgica: Sinto saudade da gripe espanhola e da peste negra.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A escolha errada


Desafiou a lógica e rejeitou as uniões matrimoniais protocolares. Optou por viver em primeira pessoa.

Resultado?

Vivenciou uma miragem afetiva consigo mesmo.

Poderia ter desejado aquele amor efusivo, dia após dia, todos os dias. Poderia ter casado com a primeira namorada, mas optou por viver um estágio mais prolongado de experiências...

Também poderia (após as supostas cobaias), casar com aquela que dificultou todos os estágios da conquista e valorizou o seu passe, mas, de tanto valorizar o passe, acabou sendo passada para trás.

Tentou uma relação unilateral, mas se esqueceu que relações não respeitam mão única, protagonizou uma estrada sem possíveis retornos. Parou no acostamento e resolveu pedir carona.

Nessa carona conheceu uma nova cidade, um novo hemisfério de oportunidades e um novo cenário para suas avaliações amorosas... Passeou, analisou, testou e tentou fazer residência, mas também se esqueceu de consultar o seu coração que não gostava de estados nômades de migração.

Investiu pesado em terapia. Ouviu mais do que falou. Devorou livros de autoajuda, assistiu diariamente palestras no you tube sobre entendidos no assunto...

Resultado?

Fez a sua opção, finalmente decidiu por algo; casar aos 30!

Infelizmente, a casa inaugural dos 30 não ofertou nenhuma opção relativamente assertiva e confiante, se linkou por algumas pessoas, mas descobriu que a ligação era por mentiras inteiras escamoteadas por meias verdades. O planejamento dos 30 havia deflagrado.

A fase balzaquiana adentrava e com ela, pilhas e mais pilhas de currículos mal elaborados por recrutamentos mal executados. Opção: Hipotermia sentimental.

Comprou um vídeo game. Adotou um animal. Colecionou DVDs antigos. Resolveu caminhar, malhar, meditar... ... ... Enfim, nada deduzia uma total exclusividade libidinal por algum entretenimento. Adotou a convicção de suas dúvidas sobre como enganar o tempo e deixar a vida transcorrer.

Por fim, ficou só, preso em sua liberdade de escolha. Socializou-se com a sua “sociopatia”. Preferiu o som solitário do motor da geladeira aos sábados a noite. Consolidou-se com o abstrato.

Cansou do supermercado de paixões que havia construído ao seu redor e optou pela escolha errada:
Casar-se com o seu individualismo.

Morreu há pouco tempo, entre o suspiro do arrependimento de não ter se permitido e o desespero de não ter compartilhado amor.


Moral da história: Não existe amor em excesso. Não existe amor em recesso. Existe desamor.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Vamos falar de canções...


Vamos falar de canções...

Cá entre nós, já ouvi tantas melodias até meus 40 anos e alguns meses. Músicas que pautaram uma circunstância, músicas que registraram um momento, músicas que se transformaram em eternas trilhas sonoras de saudade (o pai que se foi, a palavra que não saiu, o sorriso que se engoliu)... Com as músicas reservo-me ao direito da antipatia das lágrimas...

Quantos momentos me imaginei com asas ouvindo uma canção? Quantas muitas vezes me teletransportei sem precisar sair do lugar, fisicamente. Quantas vezes convidei a solidão pra dançar em meio a minha sala insuportavelmente vazia?

E convenhamos:

Quem nunca aqui abraçou o travesseiro com força num sábado a noite com uma trilha tocando baixinho no MP3? Quem nunca sustentou a fome por um desejo ouvindo uma canção arrebatadora?

Quem nunca assobiou no mercado? No metrô? Na rua? Sob o olhar crítico daqueles que não compreendem a felicidade?

Música e sua mágica: É possível beber com os ouvidos? Sim! Quem nunca aqui “tomou” uma atitude por encorajamento oriundo de uma canção?

Criamos diálogos imaginários com a memória por uma simples nota musical. Cantamos a letra sem saber. Dançamos sós. Sorrimos e falamos como se estivéssemos numa festa.

Suportamos certas distâncias com a música - a saudade não passa - mas a canção anestesia o sofrimento.
Decoramos nossos problemas com música, embora alguns prefiram se afugentar dos problemas com o bolso, gastando horrores numa loja de roupas.

Existe música pra todo um instante, mas quando esse instante representa um todo, a música muda de sentido, passa de casulo a borboleta, a mutação transforma a música e eu a vejo.

Vejo-a naquela mulher revestida de gracejos, com um charme desconcertante para trocar uma lâmpada, com um silêncio entremeado de indagações, afagos e melindres. Vejo-a na concepção sublime do suor trocado no edredom, dos beijos acontecidos sem um motivo para acontecer...

Ouvi-la é a mais pura das melodias, até mesmo quando o verso é parcialmente esquecido, quando o timbre oscila ou quando o ritmo é ameaçado pelo descompasso... 

Quando ouço aquele anjo revestido de gente, tenho a certeza de que nunca morrerei, porque criarei versos para ouvir do outro lado de lá, na certeza de que em breve, dançaremos juntos... Novamente.


Com ela abdiquei o rótulo poético do amor à primeira vista, foi amor à primeira ouvida.

Fingindo residência


No ritmo frenético dos passos apressados eu estabeleço o meu luto.

Já não apresso tanto mais os meus passos a fim de evitar a posteridade com um marca passo encravado dentro de mim, para tal, parei de viver o futuro.

....... O meu luto é uma retaliação, um protesto contra a minha saudade que insiste incansavelmente em me fazer relembrar os meus desejos.

Sim, saudade é um luto agraciado pelo desejo, sentimos saudade pelo irrevogável e por uma vontade que jaz em vontade, nada mais, além disso.

Mas a minha saudade se contradiz do populismo prescrito em dicionários ou em livros de autoajuda, minha saudade vai além do senso comum e de uma ordem cronológica.

Sinto falta do que não foi, do que está por vir, numa espécie louca de emancipação do destino. Sinto falta de dobrar a esquina da minha rua e me deparar com árvores, árvores de todas as espécies, juntamente com pássaros de todas as espécies e, na real? Sem muita gente da minha espécie. Sinto falta da cor bege no chão, a cor bege, tanto execrada por estilistas e por entendidos de moda - hoje – o bege (ou pastel) ao qual me refiro possui milhares de pequenos grãos, cansei do cinza do asfalto, muito embora essa cor super me caia bem, no chão, ela já não cai mais.

Meus pés precisam sentir a incerteza do equilíbrio da areia.

Sinto falta dos vínculos afetivos, cansei de pontes, viadutos, paredes e portas, quero uma vida de portões de madeira translúcidos, daqueles que você enxerga quem vem te visitar e a surpresa sorri com a vista.

Aqui, o medo, as preocupações, as angústias possuem CEP, quero fingir residência sem precisar ser alguém pra ser feliz. A saudade nos reserva um vazio, mas na cidade grande, ela se contradiz. Obras e mais obras, britadeiras, betoneiras, centenas de operários gritando de segunda a segunda... 

O domingo perdeu o respeito, ninguém mais o vê passar... Sinto falta do vazio, e a falta do vazio me sufoca feito uma asma congênita. 

E por falar em faltas...

Falta aquela sensação de acordar no sábado achando que é sexta. Falta aquela sensação de ser anônimo, de ser abundantemente você, de se arrumar pra ficar em casa... Eu substituiria o pau de selfie pelo pau arremessado na fogueira com crianças que se divertem com uma simples brincadeira, ao invés de se encantarem com vídeos no You Tube... 

Dividiria meu tempo entre as redes sociais com uma rede em fronte a varanda da minha casa. Queria álbuns vivos dividindo um sábado a noite com taças de vinho, ao invés de álbuns virtuais que só abastecem minhas recordações a cada “like”... 

Sinto falta de ver criança correndo, com o braço quebrado, enfaixado por um gesso rabiscado, com kichute no pé e joelho arranhado.

Não sinto falta das inversões gramaticais modernas!

“Vácuo” para mim é sentir o vento sem construções a minha volta, sem milhares de janelas intercaladas e não ficar no vácuo por um bom dia não correspondido, por um email não respondido ou por um não a prestação. 

Sabe?

Eu não abriria mão da modernidade, mas tá faltando muita humanidade por onde eu optei viver, talvez por isso eu me arriscaria...

Eu arriscaria me perder, me perder longe dessa cidade e do que já fui com ela, e acho que isso tem a ver com a contradição da minha saudade; perder-se em minhas buscas.

terça-feira, 24 de março de 2015

Soprando compreensões


Gosto de sair na ventania, o vento modifica fisionomias, assim vejo alegrias.

Gosto de sair na ventania, o vento contra o meu rosto não me deixa esquecer de que as palavras sempre retornam de onde saem.

Gosto de ficar estático num campo descampado. Sinto o vento me rebater de todos os ângulos, me reequilibro, me refaço e agradeço, porque se o vento escolhesse somente uma direção, as árvores nasceriam tortas e os nossos cabelos permaneceriam à mercê dos anos 80.

Sabe, a maioria das pessoas não gostam do vento contra o rosto; umas acham que ficarão gripadas, outras resfriadas, outras tantas com a maquiagem borrada ou com o cabelo desfeito...

Sabe, a grande parte das pessoas se esquecem de que os ventos fazem curva, não porque se afugentam de um obstáculo, e sim, porque preferem adotar um novo caminho para não desistirem de soprar...

Gosto de sair na ventania, não por ansiar a modificação das paisagens, e sim, para compreender a relação mutável das coisas... Tudo passa, deixa marcas, nos liberta e nos revigora....

Eu só tenho uma coisa a reclamar; eu acho que o arco-íris não deveria ter o privilégio de ser colorido.

quarta-feira, 11 de março de 2015

A espera do momento ideal


Esperaram os oficiais seis meses de namoro para se confrontarem com a primeira crise. De fato, existe um ritual intransponível em uma relação: a crise dos seis meses.

A crise dos seis meses é como um salto com varas ou uma corrida de 100 mts com barreiras; é uma cláusula contratual da qual você tem que passar de qualquer jeito. Não existe leviandade para burlar esta etapa, nem tampouco o jeitinho brasileiro de querer tirar vantagem.

O casal sensato aguarda pacientemente a crise dos seis meses sem antecipar os meses, é uma forma nobre de não interromper a rotina prazerosa do ineditismo, de aceitar, absorver e permear individualmente o que está bom e o que poderá ficar melhor ainda.

A crise dos seis meses é o temeroso provão do final do ano - entretanto – a dedicação comprova que quem se prepara, não teme.

Casal que posterga a crise dos seis meses está incitando o suicídio indireto da própria relação, evitam o inevitável, contornam o incontornável e dão voltas e mais voltas mesmo estando em uma linha reta...

Não se preocupam com a validação das gentilezas, com a manutenção do acúmulo dos aborrecimentos, não questionam se o parceiro está realmente feliz daquele jeito, enfim, casal que não enfrenta junto não é casal, são competidores.

Atrasar a crise dos seis meses para futuramente acumular com a crise do 1° ano é se afugentar de si mesmo, uma hora você será farejado pela tão temida cobrança e esta, não permite intersecções.

A crise dos seis meses não é um capricho de casal moderno, é um mal necessário que oferta aos dois um tipo de propósito ainda maior ao que unem essas almas, nos dá a oportunidade de escolha, de saber se o que estamos trilhando para a nossa vida é o que realmente acreditamos e, acima de tudo, se estaremos preparados para as crises seguintes.

Porque casal que esquece de brigar, esquece de fortalecer a relação.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Com vista para o mar...


Com vista para o mar...

Ela me lembra uma janela com vista para o mar...

Enigmática. Transponível. Insólita. Cobiçada.

Com vista para o mar...

O tempo medita diante dessa paisagem, fica absorto como se fosse um vira-lata diante dos suculentos frangos a rodopiar em frente à padaria... O tempo esquece a sua principal atividade: a de exercer o próprio tempo.

Assim fico diante dela, por vezes me calo e observo, por vezes mentalizo e verbalizo não necessariamente nesta ordem...

Intriga-me este mistério que me ressalta calafrios, me enaltece o orgulho, confabula meus sonhos e enriquece minha alma. Sou espectador de uma vista para o mar, hidratado pelo amor que ela me oferta.

Com vista para o mar....

Com o caos se tornando instituição nas grandes metrópoles, não duvido nada que o sonho de muitos não seja o de abrir a janela do quarto e se deparar com o recuo das ondas, com o avanço dos ventos e com o voo desconcertante dos pássaros...

Quem não gostaria de acordar todos os dias com uma janela de frente para o mar?

Seria hilário se não fosse triste, mas o sonho com vista para o mar não necessita da sorte de 6 dígitos de uma lotérica... Não precisa de uma MBA, não se compadece com currículos invejáveis nem tampouco de escolaridade...

Com vista para o mar necessita apenas de olhos bem atentos e de uma visão que reconhece a cada dia que mesmo sendo o mesmo mar, as ondas nunca são iguais, mesmo sendo o mesmo céu, as nuvens sempre se recriam e mesmo tendo os mesmos pássaros, ainda assim cada voo é incerto...

Por isso que amar requer mais do que amor, requer a devoção e o encantamento que faz de cada manhã, uma pintura diferente para a mesma moldura.