Crônicas

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Vamos falar de canções...


Vamos falar de canções...

Cá entre nós, já ouvi tantas melodias até meus 40 anos e alguns meses. Músicas que pautaram uma circunstância, músicas que registraram um momento, músicas que se transformaram em eternas trilhas sonoras de saudade (o pai que se foi, a palavra que não saiu, o sorriso que se engoliu)... Com as músicas reservo-me ao direito da antipatia das lágrimas...

Quantos momentos me imaginei com asas ouvindo uma canção? Quantas muitas vezes me teletransportei sem precisar sair do lugar, fisicamente. Quantas vezes convidei a solidão pra dançar em meio a minha sala insuportavelmente vazia?

E convenhamos:

Quem nunca aqui abraçou o travesseiro com força num sábado a noite com uma trilha tocando baixinho no MP3? Quem nunca sustentou a fome por um desejo ouvindo uma canção arrebatadora?

Quem nunca assobiou no mercado? No metrô? Na rua? Sob o olhar crítico daqueles que não compreendem a felicidade?

Música e sua mágica: É possível beber com os ouvidos? Sim! Quem nunca aqui “tomou” uma atitude por encorajamento oriundo de uma canção?

Criamos diálogos imaginários com a memória por uma simples nota musical. Cantamos a letra sem saber. Dançamos sós. Sorrimos e falamos como se estivéssemos numa festa.

Suportamos certas distâncias com a música - a saudade não passa - mas a canção anestesia o sofrimento.
Decoramos nossos problemas com música, embora alguns prefiram se afugentar dos problemas com o bolso, gastando horrores numa loja de roupas.

Existe música pra todo um instante, mas quando esse instante representa um todo, a música muda de sentido, passa de casulo a borboleta, a mutação transforma a música e eu a vejo.

Vejo-a naquela mulher revestida de gracejos, com um charme desconcertante para trocar uma lâmpada, com um silêncio entremeado de indagações, afagos e melindres. Vejo-a na concepção sublime do suor trocado no edredom, dos beijos acontecidos sem um motivo para acontecer...

Ouvi-la é a mais pura das melodias, até mesmo quando o verso é parcialmente esquecido, quando o timbre oscila ou quando o ritmo é ameaçado pelo descompasso... 

Quando ouço aquele anjo revestido de gente, tenho a certeza de que nunca morrerei, porque criarei versos para ouvir do outro lado de lá, na certeza de que em breve, dançaremos juntos... Novamente.


Com ela abdiquei o rótulo poético do amor à primeira vista, foi amor à primeira ouvida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário