Crônicas

terça-feira, 24 de março de 2015

Soprando compreensões


Gosto de sair na ventania, o vento modifica fisionomias, assim vejo alegrias.

Gosto de sair na ventania, o vento contra o meu rosto não me deixa esquecer de que as palavras sempre retornam de onde saem.

Gosto de ficar estático num campo descampado. Sinto o vento me rebater de todos os ângulos, me reequilibro, me refaço e agradeço, porque se o vento escolhesse somente uma direção, as árvores nasceriam tortas e os nossos cabelos permaneceriam à mercê dos anos 80.

Sabe, a maioria das pessoas não gostam do vento contra o rosto; umas acham que ficarão gripadas, outras resfriadas, outras tantas com a maquiagem borrada ou com o cabelo desfeito...

Sabe, a grande parte das pessoas se esquecem de que os ventos fazem curva, não porque se afugentam de um obstáculo, e sim, porque preferem adotar um novo caminho para não desistirem de soprar...

Gosto de sair na ventania, não por ansiar a modificação das paisagens, e sim, para compreender a relação mutável das coisas... Tudo passa, deixa marcas, nos liberta e nos revigora....

Eu só tenho uma coisa a reclamar; eu acho que o arco-íris não deveria ter o privilégio de ser colorido.

quarta-feira, 11 de março de 2015

A espera do momento ideal


Esperaram os oficiais seis meses de namoro para se confrontarem com a primeira crise. De fato, existe um ritual intransponível em uma relação: a crise dos seis meses.

A crise dos seis meses é como um salto com varas ou uma corrida de 100 mts com barreiras; é uma cláusula contratual da qual você tem que passar de qualquer jeito. Não existe leviandade para burlar esta etapa, nem tampouco o jeitinho brasileiro de querer tirar vantagem.

O casal sensato aguarda pacientemente a crise dos seis meses sem antecipar os meses, é uma forma nobre de não interromper a rotina prazerosa do ineditismo, de aceitar, absorver e permear individualmente o que está bom e o que poderá ficar melhor ainda.

A crise dos seis meses é o temeroso provão do final do ano - entretanto – a dedicação comprova que quem se prepara, não teme.

Casal que posterga a crise dos seis meses está incitando o suicídio indireto da própria relação, evitam o inevitável, contornam o incontornável e dão voltas e mais voltas mesmo estando em uma linha reta...

Não se preocupam com a validação das gentilezas, com a manutenção do acúmulo dos aborrecimentos, não questionam se o parceiro está realmente feliz daquele jeito, enfim, casal que não enfrenta junto não é casal, são competidores.

Atrasar a crise dos seis meses para futuramente acumular com a crise do 1° ano é se afugentar de si mesmo, uma hora você será farejado pela tão temida cobrança e esta, não permite intersecções.

A crise dos seis meses não é um capricho de casal moderno, é um mal necessário que oferta aos dois um tipo de propósito ainda maior ao que unem essas almas, nos dá a oportunidade de escolha, de saber se o que estamos trilhando para a nossa vida é o que realmente acreditamos e, acima de tudo, se estaremos preparados para as crises seguintes.

Porque casal que esquece de brigar, esquece de fortalecer a relação.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Com vista para o mar...


Com vista para o mar...

Ela me lembra uma janela com vista para o mar...

Enigmática. Transponível. Insólita. Cobiçada.

Com vista para o mar...

O tempo medita diante dessa paisagem, fica absorto como se fosse um vira-lata diante dos suculentos frangos a rodopiar em frente à padaria... O tempo esquece a sua principal atividade: a de exercer o próprio tempo.

Assim fico diante dela, por vezes me calo e observo, por vezes mentalizo e verbalizo não necessariamente nesta ordem...

Intriga-me este mistério que me ressalta calafrios, me enaltece o orgulho, confabula meus sonhos e enriquece minha alma. Sou espectador de uma vista para o mar, hidratado pelo amor que ela me oferta.

Com vista para o mar....

Com o caos se tornando instituição nas grandes metrópoles, não duvido nada que o sonho de muitos não seja o de abrir a janela do quarto e se deparar com o recuo das ondas, com o avanço dos ventos e com o voo desconcertante dos pássaros...

Quem não gostaria de acordar todos os dias com uma janela de frente para o mar?

Seria hilário se não fosse triste, mas o sonho com vista para o mar não necessita da sorte de 6 dígitos de uma lotérica... Não precisa de uma MBA, não se compadece com currículos invejáveis nem tampouco de escolaridade...

Com vista para o mar necessita apenas de olhos bem atentos e de uma visão que reconhece a cada dia que mesmo sendo o mesmo mar, as ondas nunca são iguais, mesmo sendo o mesmo céu, as nuvens sempre se recriam e mesmo tendo os mesmos pássaros, ainda assim cada voo é incerto...

Por isso que amar requer mais do que amor, requer a devoção e o encantamento que faz de cada manhã, uma pintura diferente para a mesma moldura.

quarta-feira, 4 de março de 2015

O belo nunca sai de cena


Há 5 meses venho acompanhando os episódios da vida ao teu lado, e notei um fato curiosamente descarado:

Você nunca fica feia!

Em hipótese alguma a tua beleza dá oportunidades para qualquer feiura existente na humanidade. A tua beleza é egoísta e não permite substituição por outra coisa, a não ser pela sua própria beleza.

Implacável, soberana, austera, a tua beleza ofusca qualquer Penelope Charmosa no auge da autoestima. Até mesmo uma Barbie entraria em deprê se cruzasse com você em alguma calçada...

Você é o “hors concours” da beleza!

Você pode usar uma Hering furada debaixo do braço. Você pode esquecer-se de passar rímel em um dos cílios. Você pode simplesmente esquecer-se de ser bela, que mesmo assim, continuará linda.

Observo você e não consigo encontrar nenhum entrave sequer entre o seu charme e alguma possível insegurança. Você tem muito mais bravura e coragem que qualquer heroína fictícia. Você é a minha ficção nada científica!

Você é um exemplo raro de abstinência de paraíso; Não necessita de excentricidades para “egocentrar” a sua vaidade. Não precisa estar num comercial de shampoo em um lindo corredor de Azaléas. Não precisa fazer parte de nenhuma campanha publicitária. Não precisa ser capa de revista... A tua beleza simplesmente não precisa.

Luminosa. Irradiante. Original. Tua beleza não se nutre dessa necessidade moderna de “querer aparecer” a qualquer preço. Sonega um vestido elegante. Ignora um salto poderoso. Rejeita um decote vulgar ou uma saia extravagante... Se sair do seu apartamento de calça rasgada e camiseta básica – como se fosse comprar pãezinhos – já estaria linda de qualquer jeito.

Tua beleza é assustadoramente independente; não necessita de juras, promessas e contratos. Não desafia nenhuma lei da física, simplesmente convive um compromisso despojado com o bem estar.

Antecipo minha ansiedade quando você me envia um whatsapp dizendo “estou chegando”, porque sei que qualquer produção cinematográfica não faria diferença para a sua beleza – sendo assim – eu adoto a postura inteligente da espontaneidade, porque sei que a tua beleza compreende uma beleza maior ainda: a autenticidade.

Você pode ser o que quiser ser que a sua beleza saltará aos meus olhos de qualquer jeito.