Crônicas

sábado, 31 de dezembro de 2011

Obedecendo ponteiros


Me olhei no espelho hoje pela manhã de uma forma diferente das outras manhãs. A última olhada de 2011? Claro que não! Mas a última manhã de 2011 (já viu libriano se desquitando de um espelho?).

Uma olhada mais prolongada que as normais e, dessa vez, sem pensar nas reuniões e nas tarefas diárias do dia... Troquei meus pensamentos imediatistas por um pacote de satisfações chamadas de “reflexão”.

Encarei. Confrontei. Me peitei!

Um embate saudável entre o consciente e o ciente, entre a realização e a aceitação, entre o isolamento físico e mental feito fita isolante separando os fios desencapados do abajur.

Acho que respeitei o relógio... Obedeci cada ponteiro e seus movimentos circundados e metódicos durante grande parte desses 365 dias que se passaram, jazidos pela única força capaz de superar o tempo: a saudade!

Em 2011, estudei os meus movimentos sem compreender exatamente a sua causa. Cinemática pura!

As pessoas que me roubaram, pessoas que me tomaram emprestado e as que me devolveram provando que a física e as suas leis são verossímeis em suas regras – aceleração e desaceleração – densidade de energia – força resultante.

Entretanto, há de se honrar o trabalho como um montante e não na reta final como todo processo organizacional impõe... Talvez aí esteja infiltrado o grande desentendimento da humanidade: analisar o resultado somente pelo fim...

Sou um psicanalista assumido dos meus resultados, por isso encosto a porta educadamente para 2011 rejeitando-o seu pedido de esmola. Se levo algum resquício de insucesso para 2012 fico com a sensação de que sou um livro decorado e previsível... Talvez aí esteja infiltrado o grande desentendimento da humanidade: fracassar nas metas anteriores e pensar na mudança somente nas doze badaladas do ano seguinte...

Por que temos essa mania patológica de transformar o ano em uma espécie de ata? Precisamos mesmo desse marcador de tempo? Para as mudanças não, nunca! Para sinalizar que estamos envelhecendo sim, se faz necessário!

Os números do calendário existem justamente para nós compreendermos que a ordem progressiva é sempre do número menor para o maior, para tanto devemos nos amplificar e comemorar cada ação, cada atitude, cada gesto... Lembrando que a jornada desse plano é uma brilhante e surpreendente brincadeira de “boomerang” num universo de “voz e eco”.

Agradeço de coração a todas as pessoas que realçaram a minha vida em 2011; satisfatoriamente ou não, tudo é um aprendizado quando o otimismo é o guia do caminho que se escolheu seguir...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Umas doses a mais


Fui dar indulto de Natal para o meu fígado e veja o resultado? Um súbito, porém previsível mal estar...

Sempre fui de traçar limites para as minhas estribeiras, mas sempre estendo este limite para uma linha mais longínqua; é como se o desenhista se empolgasse com a sua obra e continuasse sua arte mesmo após o término da sua cartolina...

Eu adoro o sabor intenso das coisas desmedidas e sem protocolos. Tudo que se preserva na esfera popular é cansativo, dá enjôo! Porém, nesse caso, o gosto inebriante da ousadia em provar situações diferentes deu lugar ao gosto agonizante da maestria em fazer cáca!

Exagerei.

Engraçado que - na gramática dos bêbados – não existe discordância nominal e nem verbal. O ponto final nunca aparece nas frases (nem nas atitudes), é vírgula atrás de vírgula que culmina em uma reticência infinita... ... ... ... Haja ponto pra tanto conto!

Poético, não?

Embora as atitudes sejam abstratas, notei algo de concreto na bebedeira:

A relação entre o metabolismo e o catabolismo é fantástica! Viva a ciência em prol da consciência!

Analise:

Enquanto você (bebum por excelência) ingere altas doses de álcool à medida que se socializa com os amigos, o organismo assimila o processo da sua ingestão desenfreada em prol da sua desinibição irrefreável.

A finalidade do catabolismo circunda na obtenção de energia através da matéria orgânica adquirida pelos seres vivos (razão fisicamente comprovada por quem bebe demais). Você já viu bêbado indo embora da balada antes das quatro da manhã? Haja energia!

Outro ponto interessante e relevante de toda essa “operação interna” é que estas etapas – momentaneamente invisíveis – dizem respeito às vias de degradação que são a quebra das substâncias ingeridas... Logo e subseqüente a isso, a degradação emocional está intrinsecamente correlacionada com a degradação fisiológica e biológica do ser que troca a calmaria da sobriedade pela insanidade da soberba alcoólica.

Perfeito isso!

Deus realmente existe, e os caminhos para se chegar a ele são tão tortuosos quanto os caminhos de um bêbado para se chegar ao seu leito.

Fiquei boquiaberto em descobrir a conivência dessa degradação, estou em choque!

Isso me ensina a difundir uma outra tese:

O álcool é um lubrificante social, mas há de se ter cuidado para não exagerar nas aplicações, justamente para não vazar para outras engrenagens.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Em dissonância com nós mesmos

O vazio possui uma estampa, um código de barras que se diferencia e que se auto-intitula perante a civilização, haja vista, desde que o ser humano aprendeu a falar - tudo é devidamente nomeado e catalogado...

O vazio (a que me refiro sem a eloqüência que aprendi em minha criação) se chama rotina... Pura e cristalina rotina.

A rotina é uma verdade intranqüila, isso porque o maldito ser humano precisa – além de dar nome aos bois – justificar as características de cada nome.

Entretanto, ao justificar a razão de sua existência, julgam a essência do seu significado. E julgam mal, muito mal!

A rotina é o reverso da vontade humana. Ninguém gosta desse nome e do que ele pode significar. Ela é uma cobrança intrépida e voraz que te acompanha desde a placenta, passando pela incubadora, pela transição da fralda para a bicicleta e consecutivamente – em ordem progressiva e escalonada – para as escolhas que você optou seguir.

A rotina é um fato paleontológico. Uma obra condenada pelo vício humano.

No desespero nosso de cada dia, na guerra fria entre a inércia e a vontade, sucumbimos à frase “não caia na rotina” e tentamos formular um roteiro para a nossa vida ser mais temperada, entretanto, transferimos as responsabilidades do mundo prático para o futuro, hipotecamos o tempo como se ele fosse um escambo, uma negociação.

Desconhecemos o valor da mesmice porque queremos saborear a todo instante o valor do ineditismo, uma fracassada realidade virtual criada pela nossa capacidade efêmera de imaginar. De inédito a vida não tem é nada, os acontecimentos perdem a harmonia do ineditismo quando são revelados!

Será que se vivêssemos em segredo seríamos mais atraentes e mais respeitados? Haveria mais cobiça em desvendar a nossa própria caixa preta?

O vazio que devemos respeitar quando estamos em pleno tédio me leva a submergir em uma profunda reflexão onde noto um desequilíbrio triste entre a caixa preta e a caixa de Pandora que cada ser humano carrega em seu âmago.

Raio X: Estamos - a cada dia - mais envolvidos em nossa individualidade!

Por isso que – ás vezes – é sempre bom se entorpecer na rotina. Ela é o método mais civilizado e mais complacente de anestesiar o caos. Ela é o GPS dos caminhos que você escolheu pela vida, indo contra a sua vontade ou não!

Gestão... Planejamento... Organização... Amor e rotina, sempre!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

As palavras do meu silêncio


- “Este ovo em cima da mesa da cozinha é meu ou é dele?”


Quatro dias se passaram e o silêncio é a palavra de ordem de um relacionamento cuja linha que separa a razão da emoção é mais fina que um fio de cabelo.

Relações sensíveis merecem medidas insensíveis. Não deveria ser o contrário?

A humanidade e suas controvérsias.

O silêncio que jaz em minha casa tem tradução, porém, ao invés de escrever uma cartinha (como orientou a ex tutora parcial do meu coração), prefiro decifrar em “crônica” o meu silêncio, afinal de contas, escrever é reverenciar o silêncio, desde que a minha intenção seja permanecer calado.

O silêncio (obra da intersecção humana) tem os seus benefícios, porém, a exaustiva falta de um diálogo traz danos à imaginação. Um intervalo longo de penitências e hipotéticas conclusões que são constituídas pela raiva e pela indignação.

Esse mal entendido nos transforma em pessoas desvalorizadas, inúteis objetos do circo humano, por isso o silêncio não pode ser desmedido e autoritário, deve ser controlado e intercalado em trocas de pontos de vista.

Entretanto, na feira livre da vida, uns compram brigas, outros dividem rancores, outros deixam amor como fiado... Eu prefiro catalogar o meu silêncio:

1ª fase - Meu silêncio me traz um desafio e desafia o opressor. Dúvidas sempre são bem vindas em um relacionamento. Há de se ter medo para lá na frente ter respeito!

2ª fase - O meu silêncio me reedita e refaz meus conceitos, porém, isso não me basta para canonizar o perdão como agente passivo da minha conduta.

3ª fase – Meu silêncio me traz a paz compulsória de uma biblioteca, sem eu ter que me entristecer com o livro que escolhi.

Um livro nunca se fecha. Uma briga sempre se anexa. Uma frase nem sempre é complexa.

“Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo.” – Oscar Wilde

Já já tudo volta ao normal. Hoje toma-se uma decisão, amanhã já não sabemos se queremos defendê-la!