Crônicas

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Liberdade: O anticorrosivo do tempo


Agora que enxerguei o que me espera, vou na onda, vou correndo, vou de bike, vou de táxi, mas hoje me revelo e me afirmo: Não sei domar a fera, fujo dela.


Agora que descobri a obra que sou, vejo que meus parágrafos vão além, vejo que posso escrever por qualquer bem e vejo que minha vida não se anula nos pontos finais. Eu sou uma constante reticência tropeçando em vírgulas.

Sempre usei as palavras para algo alegre, e noto que a loucura possui uma inócua parcela de tristeza. Anulei minha adolescência por trabalhar obrigatoriamente em uma peça teatral de longa data e com inúmeras apresentações. Representei um roteiro que me prendeu em um desfiladeiro... Ou seria um atoleiro?

Vivi – sem saber – uma trama.

Agora que enxerguei o deslumbramento da liberdade, sinto forças para saltar e agarrar o sol, mesmo que ainda sinta uma incômoda atrofia nas pernas. Sinto que o cérebro se exercitou, fez ioga, fez pilates, fez até pole dancing e tá louco de vontade pra viver o ritmo. O ritmo da liberdade.

Decolo de braços abertos para uma viagem insólita! É o fim dos joguinhos psicológicos.

Agora que enxerguei a permissão descubro que não existe tempo ideal, e sim ideologia no tempo. A ilusão sai de cena, o desgosto – a contragosto – se manda do palco e a privação dá lugar as minhas permissões. Eu me permito ser feliz!

O sentido da vida não está dentro de uma gaveta, no entanto, em meio a esta surpreendente revelação, encontro minha essência escondida atrás da minha falta de coragem (como uma criança encolhida num canto escuro de um quarto à espera da punição do pai).

Agora que a miopia foi curada, vejo um limbo de aporrinhações estratégicas voltadas para um benefício egoísta...

Ficou pra trás! Junto com suas caretices repressoras de mãe protetora. Ainda vai levar um tempo, mas o primeiro passo foi dado, mesmo que este passo seja um simples esboço do meu desenho rebuscado. Se viver é uma arte, quero somente cores vivas e latentes para pintar o meu caminho.

E nessa revelação existencial que até então inexistia, ainda me espanto, ainda estou tonto, ainda me aterrorizo com o passado de meias verdades e de completas mentiras. Essa peça teatral não permitia ensaios; era por a roupa, entender o cenário, ler o script e foda-se o resto.

Hoje a meia verdade me abraça. Abandonei a cegueira momentânea de anos para lutar pelo meu fim. A outra metade da verdade eu divido em algumas partes – modestas – porque todos nós temos as nossas verdades. A minha é igual a sua e igual a do advogado que defende o bandido no tribunal.

E de caso com o acaso eu traço minha timeline:

Se o prefácio é amargo, lutemos por um doce fim.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Encontrando com o desencontro



O que embala um homem em sua formação?


O poder financeiro “e ilusório” do primeiro emprego? A coleção libidinal das conquistas deflagradas em micro contos ressaltados nas mesas de bar com os amigos recém formados? O primeiro carro? A primeira desilusão?

Muita coisa me vem à mente.

E o que embala um homem em deformação?

Certo dia – exaurido das minhas aptidões sentimentais – marquei um encontro comigo mesmo...

... E não fui!

Refleti sobre o meu juízo e a reflexão desse resultado me deixou em cativeiro: Simplesmente não fui!

Embora as “dancinhas sociais” sejam obrigatórias para preservar o bom comportamento (coisas do tipo: avisar se vai desmarcar, atrasar e taus), eu fui indecoroso e insensível comigo mesmo, nem “sms” mandei cancelando o tão esperado, porém maluco, encontro.

Fui frio, calculista, metódico.

Não deixei recado na caixa postal. Não preguei “post it” na geladeira muito menos avisei via inbox pelo Facebook.

Talvez a intenção fosse realmente gerar uma repulsa, um arrependimento pelo convite, sei lá... Quando a gente quer desmarcar um encontro sem criar futuras expectativas o que fazemos? Mostramos o nosso lado ogro, o inverso da nossa aparência. Mostramos o nosso “coeficiente deficiente” em prol da nossa paz em não receber outro convite.

Estranho esse meu destino, me privando de ser eu mesmo comigo mesmo.

Logo eu que posso ser qualquer coisa, mas na maior parte do tempo sou consumido pelas dúvidas e pelas intenções das minhas extensões em tentar ser algo mais apropriado para os outros.

Me reinvento ou me reciclo? Eis a questão!

A expectativa de menino amadurecida na eclosão de um homem, assim se faz a dança da vida propriamente dita: Evitamos magoar, evitamos arquivar e ás vezes, evitamos a felicidade. Anulamos o risco com medo dele não passar de um simples risco e com isso, riscamos da nossa agenda sentimental muita coisa boa que esperava reencarnar.

Perguntas? Tenho uma para cada poro da minha pele.

Aqui, cabe a mais recente:

Será que se eu tivesse ido ao meu encontro eu teria sido feliz? Teria mudado algo? Teria feito a diferença?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

"Sou filho único"



“Sou filho único” – Não diga essa frase nos primeiros encontros com uma mulher. Em hipótese alguma. É o fim do feitiço!

Não existe lealdade em segredar isso para a moça logo nas primeiras intersecções... Devemos protelar essa confissão assim como se protela a ida ao dentista (por falta de tempo e por recordar a dor incessante da última visita).

Aqui, numa ordem inversa, a dor vem imediatamente após a ingênua confissão, sacramentada como um veredicto final de carceragem, sem regime semi-aberto.

Dizer que é filho único no início de uma pretendida relação é permanecer na fila do desemprego no amor. Se você procura ser recrutado: Omita!

Devemos evitar constrangimentos desnecessários no começo a fim de evitar o término da idealização pelo que se está buscando. Você pretende conquistá-la pelos motivos que o cativaram? Então não afugente a moça por razões que ela não espera ouvir de você... Não agora.

Aaaahh, a conquista...

A conquista – desde os primórdios mais remotos – sempre foi anestésica; os primatas arrebatavam suas pretendentes com um golpe de tacape e depois as arrastavam até suas cavernas pelos cabelos – convenhamos – um ato gentil para aquela época. Hoje o vereador Netinho de Paula faz igual, só que com métodos diferentes – a inovação a serviço do homem... E do ogro.

Retomando o assunto em pauta, a conquista – novamente anestésica – não permite devaneios inúteis, não aceita a clemência das falhas ou derrapadas, muito menos tolera o indigesto – nesse caso – que você é filho único... A conquista vive do encantado, do visto pelo não visto, do imaginário e do ponto G da mulher, que – para engano seu – situa-se nos tímpanos e não aonde você viu no programa da Sue Johanson.

Enfim...

Evite comparações! Ela pode chegar atrasada ao encontro. Ela pode falar do ex namorado (só para preencher as intersecções). Ela pode criticar e dar foras. Ela pode escolher o local para jantar e ela pode ser filha única também... Mulheres possuem este “free pass” sobre nós. Nem pense em mudar essa ordem!

O filho único não sofre de preconceito. Ele sofre por um ato de nobreza, justamente por ser único... Ele sofre por um estigma hipotético dos opressores que imaginam que ao se relacionarem com um filho único, darão continuidade aos mimos do papai ou da mamãe numa espécie de troca de bastão... Mas você sabe que não é bem assim!

Ah, os filhos únicos: taxados de esquisitos na 1ª série, invejados da 4ª à 5ª série e depois intitulados unanimemente de “mimadinhos” até sei lá quando...

Reinar absoluto entre pai e mãe nos dá uma condição de “pessoas complicadas’, mas a gente dribla o rótulo, engana o protocolo e faz aquela noite valer a pena com sorrisos e um destemperado jogo de cintura, mesmo se no primeiro encontro a sinceridade falar mais alto que a malandragem.

“Sou filho único” – Ooops!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ser feliz é para loucos



Acho a maior graça; pessoas que são felizes por ambição, não por necessidade. É esquisito pensar assim, mas é uma maneira assertiva de roteirizar a felicidade como a própria felicidade, uma beleza esquisita e dissoluta...


Dissoluta sim, para aqueles que forçam a perpetuação da felicidade imaginando um conto de fadas efusivo e edificante, a felicidade ludibria, envolve e trapaceia.

A felicidade não mora na Rua da Felicidade, e também não provém da Rua da Amargura... Emolduram-na em contos, em filmes “sessão da tarde”, em frases via inbox, em mensagens de texto, mas é pura dramaturgia, ficção nada científica...

A felicidade é sentida por dementes que nunca fizeram terapia. Por audaciosos que nunca saltaram de um precipício e por poetas que sequer leram Saramago... A felicidade não é um estado provisório para os loucos, por isso ela dá um puta barato!

Geralmente a felicidade surge para as pessoas que abandonam o pátio, a boneca, o playmobil, a mesmice alheia... Surge pra quem investe após uma topada mesmo sabendo que os riscos de outra topada são eminentes. É arriscar sem projetar expectativas pelo deslumbramento inicial.

A felicidade não aceita palpiteiros, a não ser que os palpiteiros sejam loucos como você, aí sim vejo sentido, do contrário, são pessoas tentando te convencer que o que você diz ser felicidade não é a sua felicidade. Oras, é a de quem então?

A felicidade é uma insanidade desprovida de temas, rótulos e dizeres protocolares. Quem é feliz de verdade cabula qualquer ordem organizacional, mas é displicente com a sua própria felicidade, afinal de contas, burlar etapas de uma felicidade é apressar um futuro possivelmente promissor.

Para os loucos, a felicidade não possui rendimentos subjetivos, porque ninguém equaciona réplicas, ninguém contabiliza derrapadas, ninguém dá o troco com a mesma moeda e ninguém compete pra ver quem é melhor numa discussão.

Não existe revanchismo para a felicidade, existe a clarividência, a transparência e ninguém sofre da SPT (Síndrome de Personagem Teatral).

Ser feliz não é pra poucos, é para loucos!

Entretanto (porque para tudo existe um tanto), há de se entender que se pretendemos eleger um coadjuvante para ensaiar a nossa felicidade, que essa pessoa não seja um diagnóstico, nem tampouco um prognóstico, que ela seja insana, atrevida e com apetite em ser feliz.

Felicidade é assim: Estar feliz para um dia fazer feliz!