Crônicas

terça-feira, 29 de abril de 2014

O pit stop da relação


Você consegue identificar quando algo não vai bem em sua relação tal qual o desequilíbrio quase que imperceptível do teu corpo após uma caipirinha?

Aprendeu a enxergar à dificílima arte de abalizar os resquícios que ficaram após a última DR tal qual se troca um pneu furado debaixo de um poste sem luz?

Já doutrinou a equilibrar as perdas e ganhos que se comete ao tentar ser melhor que o seu parceiro numa discussão tal qual subir num slackline bêbado?

Já compreendeu que num momento torpe e impudico não adianta invocar o seu arsenal de cantadas açucaradas?

Já notou que não se pode ignorar a dependência de certos hábitos na relação tentando substituir por “novas-antigas” manias ensaiadas tal qual o setor de inovação de uma Multinacional?

Com exceção daquelas mulheres bipolares, com patológica preguiça por segundas chances e que passam a vida tentando se sentir desejada por todos os homens, menos por aquele que deseja, sim, o amor possui suas ficções nada científicas.

Se na aritmética do amor, onde predomina a equação a qual 1+1 = a tudo e 2-1 = a nada, há de se atualizar periodicamente sua planilha do excel do amor.

Sim, coloque o amor em tudo que fizer, desde o momento em que abrir os seus olhos materiais até o momento de repousá-los, mas não se esqueça de colocá-lo numa estrutura bem organizada.

Se não curte o Windows, coloque no Mac ou no bloco de notas do seu smartphone, mas não se esqueça dessa manutenção.

Amar é ensinar pedagogia sem sequer saber quantas letras possuem um alfabeto. É cantarolar sem ter vocação nas cordas vocais. É acertar no vinho mesmo tendo passado a vida inteira tomando sangue de boi. É deixa-la partir mesmo com a sua vontade pedindo pra ela ficar.

E como discernir estes afixos com tantos sufixos aparentemente contraditórios?

Aí está o ponto; é necessário se antecipar de você mesmo, senão você viverá tal qual o pit stop de uma relação onde você só compreende que precisa parar quando a gasolina está acabando, ou quando precisa trocar os pneus.


Tarde demais. Você ocupará a última posição.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sensações em cativeiro


Existe um certo prazer, algo digno em brincar com as nossas sensações e escolhas. Vivemos insatisfeitos com o que temos, somos seres insaciáveis vivendo em busca, sempre em busca.

Adoramos sentir falta!

Tratamos nossa saudade de forma clandestina, uma espécie de lavagem de dinheiro no quintal dos fundos. A gente finge que nada está acontecendo, mas por dentro tá tudo dando cambalhotas...

Temos libido pela saudade, adoramos a incerteza da presença e o retorno da ausência, isso porque o ser humano aprendeu que exercitar a ausência é uma ótima terapia para quem se fez presente.

A saudade que sentimos não aceita dinheiro a vista, gostamos de parcelar nossas vontades em longas e extenuantes prestações.

E assim jogamos nossas sensações mais profundas no cativeiro... Deixamos ela lá, passando fome e vontade.

Vontades.

Quem nunca passou perto da rua de uma ausência e não sentiu vontade de enviar um whattsapp?

Quem nunca sentiu essa ausência na sala de um cinema? Na mesa daquele bar de esquina? Ao ouvir uma música numa rádio qualquer?

A saudade é irresistível e nos oferta algo que chega quase a suprir a nossa necessidade de deixa-la no anonimato: a coragem.

Nos falta coragem para enviar o whattsapp, para ligar para a pessoa quando a música tocar, nos falta à apresentação da peça, e ficamos – por assim dizer – no ensaio.

O sofrimento é o cinto de segurança da ousadia, entretanto, numa ordem inversa de conceitos, aqui ele não nos protege, nos impede de arriscar, de ver pra crer, de saber o que aconteceria se tivéssemos mandando uma simples mensagem ou feito uma despretensiosa ligação.

A dedução é a musa inspiradora da imaginação e prima de 1º grau da frustração. As oportunidades transcorrem – inúmeras – e a nossa curiosidade insiste em nos assombrar...

Será que não vale a pena pensar com mais atrevimento da próxima vez ao invés de imaginar como seria?

terça-feira, 22 de abril de 2014

O irresistível diferente


Gostamos do não usual e do não óbvio. Rejeitamos os desdobramentos das nossas opções para vivermos numa zona tranquila e pacata de conforto, entretanto, na contramão dessas decisões, nos encantamos pelo menos usual.

Quanto mais se escolhe, quanto mais decidimos por algo, menos liberdade adquirimos e, de quebra, limitamos ainda mais o nosso tão convidativo horizonte.

Somos subjetivos demais para as realidades que queremos – por conseguinte – postergamos.

Pessoas que gostariam de ficar, mas deixamos passar...

Acaso? Destino? Hora errada? Lugar certo?

Porra nenhuma! Medo mesmo!

O medo seguido de um comodismo prazeroso que nos oferta um falso – ou – paliativo poder de decisão sobre nós e sobre nossas escolhas.

A criança mulher que quer antecipar sua “adultiçe” aguda. O “vovolescente” baladeiro com patologias de Peter Pan. A mulher que quer retroceder aos seus 20 e poucos anos, confabulando atitudes infantis... O “garanhão italiano’’ que insiste em desafiar os desígnios da gravidade... E da velhice.

Somos “super-humanos” quando o assunto é fazer o que se quer da vida.

Enfim...

Gostamos do diferente, simplesmente porque ele é irresistível.

Os casados (muitos, por sinal) deliram vendo a vida dissoluta dos amigos... Os solteiros (muitos que se dizem poucos) analisam um casal apaixonado com vários questionamentos, dentre eles: Por que ele e não eu?

Passamos grandiosa e notória parte dessa jornada procurando soluções no mundo e não enxergamos – por conta da nossa miopia seletiva – que existe dentro de nós, um mundo de soluções.

Sonhos...

Convém prestarmos mais atenção em muita coisa, principalmente no poder que temos de transformar a nossa vida no que bem entendemos, e essa é uma liberdade ao qual muita gente ainda se sente encarcerada. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Recomeços



... Que seus olhos enfeiticem os meus para que eles nunca olhem para baixo.

... Que seu sorriso encare de frente um dia chuvoso, nostálgico e nublado.

... Que suas palavras sejam um complemento para as minhas, nunca uma anulação.

... Que a tua volúpia, tua forma de se entregar e todo o teu sexo me tirem do cansaço, porque sexo com você nunca é cansaço, é enlaço.

... E que os seus beijos tapem minha boca quando eu ensaiar uma discussão.

Sendo assim, já me sinto bem. A dor nas costas, a preguiça e a má vontade já se foram.

Vamos recomeçar?

terça-feira, 15 de abril de 2014

Manias fixas


Fui acostumado a me relacionar no meio de promessas, planos e palavras... Tive a péssima mania de aceitar os afagos quando me cobriam de beijos e mentiras.

Tais hábitos – enfermiços por sinal – me transformaram – ou melhor – me condicionaram a ter preferência por tudo que é – digamos – não tão demorado.

De fato, a humanidade atual, largou mão do "merecimento de um momento" para uma satisfação "imediata e instintiva".

Nós temos preferência pela urgência. Temos uma obediência cega em relação aos nossos padrões. Evidenciamos o que não queremos e sabotamos o que desejamos.

Existe algum tipo de “projeto aprendiz” para os corações que cabulavam as aulas de sociologia?

Necessitamos de uma revolução. Precisamos ser mais subversivos com o que queremos e aprisionar as nossas subserviências por terceiros.

Vejo dignidade em ficar sozinho, mas não posso me deleitar ao bel prazer pegando alguma pessoa como se a mesma estivesse à venda em uma loja de conveniência.

Conveniência: O termo mais profuso para delinear a conjunção - nada convencional - das minhas palavras e sentimentos.

Queremos nos empanturrar de momentos que nos façam nos sentir vivos, mas não queremos dar oportunidade para uma vida que se preocupa em nos fazer viver. Sempre tem alguém querendo aparecer, e a gente sempre finge esquecer.

Diversifico entre a 1ª e a 3ª pessoa porque sei que este sentimento é total unilateral, todo mundo já sentiu isso e – ultimamente – ele vem adquirindo tonalidades que me assustam quando penso em dar mais uma chance para o amor.

Viramos commodities descansando em gôndolas a espera do consumo. Um consumo nefasto que se satisfaz depressa demais porque existe uma infinita e estratosférica variedade desse mesmo commodity e, o nosso paladar, ahhh, o nosso paladar, se tornou impulsivo, insaciável, nefasto (por assim dizer, novamente).

Retrocedemos ao canibalismo? Sim. Obviamente com requintes mais tecnológicos, substituímos apenas a “forma de comer” pelas teclas de um smartphone.

Em meio aos velocistas de hoje, eu dou preferência para os paisagistas.

O paisagista aprecia, promove o projeto, recria, confabula... Admira a estética sem deixar a cênica de lado.


O imediatista se comporta sem se preocupar com as consequências dos seus atos, age sem pensar nos detalhes, engole sem apreciar, e isso dá uma gastrite dos infernos.

terça-feira, 8 de abril de 2014

O casual, o erotismo e o sofá...



Eu me aquieto vendo um espetáculo em meu camarote, sentado no sofá, sem mover meu corpo para as ruas de Sampa, o que é visto com certa insanidade pelos meus amigos que sempre presenciaram o meu enlace libidinal pela vida notívaga.

Me aposentei, todavia, se soubesse dos júbilos, haveria pendurado minhas frases em outros ouvidos bem antes, ao invés dos gritos na orelha de uma pretendente qualquer se chacoalhando numa pista de dança.

O meu mundo é uma fronteira a ser compreendida. Gerenciar minhas emoções sem assinar um contrato de obrigações é a forma mais inteligente de direcionar minhas energias emocionais e intencionais sem ludibriar a contratante.

Eu me sinto um convidado dentro da minha própria sala. A conquista acomodada em um sofá é muito mais condizente e cativante que se arrumar, fazer esquenta, pegar fila e suar... 

O processo seletivo proveniente da locução de um “whattsapp” é muito mais interessante e curioso que trocar olhares, pagar uma vodka ou balançar os cabelos.

Diante da poluição visual da balada e de tanto esforço por algo possível e remoto, suemos de outra forma!

Tesão por tesão é algo lógico e racional, vamos em busca do não óbvio, do não prescrito em bula. Vamos entorpecer com a nossa cadência olfativa... Excitar com a inteligência é ativar uma libido unilateral; é fazer pensar, imaginar e hipotetizar sem ter a certeza de nada.

O suor de uma entrega imprevisivelmente previsível é o que existe de mais extraordinário na era virtual, ou você se anula seguindo um protocolo pueril de bons modos familiares tendo um aplicativo chamado “Tinder” no celular?

As redes sociais é uma lascívia sexualmente descabida?

Não. De forma alguma. Tudo depende do bom uso e do bem que esse uso fará.

Quem faz do casual um cenário cheio de erotismo sem projeções e com objetividade, se dá ao luxo de tirar férias remuneradas de si mesmo. Quem quer amor que se predisponha ao esforço, porque o amor dá trabalho, e como dá.

O casual nos convida para sermos amigos de nós mesmos, sem angústia, sem desconforto; a gente se reajusta melhor porque não há a fragilidade da entrega palpitante de um coração carente em busca de um postulante. A gente se remaneja, oferece os tímpanos ao locutor e brinda o ilimitado universo de uma sala com uma taça ou uma bela dose de “double black”.

O casual não te deixa sujo, culpado, com vergonha de si mesmo, isso é obscenidade. A pornografia é uma descrição dos prazeres carnais e não tem a ver com o erotismo de uma troca gostosa de energia, mesmo que culmine numa entrega deliciosamente prazerosa e sem muita lógica.

Um encontro casual não te reduz, o que te reduz são os seus próprios limites e a sua mania intrépida de viver a margem de você mesmo. Solta a corda e dê uma direção ao barco.

Não ser de ninguém e ser de nós mesmos é muito mais corajoso que viver uma vida neutra, com as malditas pretensões da sociedade.

Arrisque-se, ouse, atreva-se. Faça dos teus medos, gemidos insanos de tesão, transforme tuas dúvidas em orgasmos sem culpa. Viva a intensidade com entrega, porque o sexo a dois (para muitos) ainda é uma masturbação individual. Infelizmente.


Precisamos nos aceitar mais!