Crônicas

terça-feira, 8 de abril de 2014

O casual, o erotismo e o sofá...



Eu me aquieto vendo um espetáculo em meu camarote, sentado no sofá, sem mover meu corpo para as ruas de Sampa, o que é visto com certa insanidade pelos meus amigos que sempre presenciaram o meu enlace libidinal pela vida notívaga.

Me aposentei, todavia, se soubesse dos júbilos, haveria pendurado minhas frases em outros ouvidos bem antes, ao invés dos gritos na orelha de uma pretendente qualquer se chacoalhando numa pista de dança.

O meu mundo é uma fronteira a ser compreendida. Gerenciar minhas emoções sem assinar um contrato de obrigações é a forma mais inteligente de direcionar minhas energias emocionais e intencionais sem ludibriar a contratante.

Eu me sinto um convidado dentro da minha própria sala. A conquista acomodada em um sofá é muito mais condizente e cativante que se arrumar, fazer esquenta, pegar fila e suar... 

O processo seletivo proveniente da locução de um “whattsapp” é muito mais interessante e curioso que trocar olhares, pagar uma vodka ou balançar os cabelos.

Diante da poluição visual da balada e de tanto esforço por algo possível e remoto, suemos de outra forma!

Tesão por tesão é algo lógico e racional, vamos em busca do não óbvio, do não prescrito em bula. Vamos entorpecer com a nossa cadência olfativa... Excitar com a inteligência é ativar uma libido unilateral; é fazer pensar, imaginar e hipotetizar sem ter a certeza de nada.

O suor de uma entrega imprevisivelmente previsível é o que existe de mais extraordinário na era virtual, ou você se anula seguindo um protocolo pueril de bons modos familiares tendo um aplicativo chamado “Tinder” no celular?

As redes sociais é uma lascívia sexualmente descabida?

Não. De forma alguma. Tudo depende do bom uso e do bem que esse uso fará.

Quem faz do casual um cenário cheio de erotismo sem projeções e com objetividade, se dá ao luxo de tirar férias remuneradas de si mesmo. Quem quer amor que se predisponha ao esforço, porque o amor dá trabalho, e como dá.

O casual nos convida para sermos amigos de nós mesmos, sem angústia, sem desconforto; a gente se reajusta melhor porque não há a fragilidade da entrega palpitante de um coração carente em busca de um postulante. A gente se remaneja, oferece os tímpanos ao locutor e brinda o ilimitado universo de uma sala com uma taça ou uma bela dose de “double black”.

O casual não te deixa sujo, culpado, com vergonha de si mesmo, isso é obscenidade. A pornografia é uma descrição dos prazeres carnais e não tem a ver com o erotismo de uma troca gostosa de energia, mesmo que culmine numa entrega deliciosamente prazerosa e sem muita lógica.

Um encontro casual não te reduz, o que te reduz são os seus próprios limites e a sua mania intrépida de viver a margem de você mesmo. Solta a corda e dê uma direção ao barco.

Não ser de ninguém e ser de nós mesmos é muito mais corajoso que viver uma vida neutra, com as malditas pretensões da sociedade.

Arrisque-se, ouse, atreva-se. Faça dos teus medos, gemidos insanos de tesão, transforme tuas dúvidas em orgasmos sem culpa. Viva a intensidade com entrega, porque o sexo a dois (para muitos) ainda é uma masturbação individual. Infelizmente.


Precisamos nos aceitar mais!

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