Crônicas

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Visitando minhas defesas


Nos últimos dias visitei alguns cômodos diferentes dos quais não estava acostumado a visitar, aliás, há algum tempo, não fazia ideia de como era dar um “olá” a mim mesmo e saber se estou bem ou precisando de algo... Enfim...


O que me impulsionou esta visita foram às novas tônicas em minha vida, bem como alguns momentos de transição e a exigência de novas disciplinas. Motivos de sobra para bater um bate papo construtivo e amistoso.

Sendo assim, lá fui eu reativar algumas memórias que insistiam em me trair...

Certo de que “ela” (sim, minhas defesas usam saias e faz as unhas periodicamente) me faria participar do seu joguinho compensatório, fui precavido adotando uma postura mais ouvidora, abismando-me em meus pensamentos.

E nessa grandiloqüência camuflada, nós conversamos abertamente, resgatando antigas e inefáveis situações...

Dentre carrinhos de rolimã, banhos de mangueira aos sábados e os primeiros envolvimentos sentimentais, ela me lembrou de algo em forma de pergunta:

Quando foi a última vez que eu recordei a primeira vez de alguma coisa?

Rebobinei alguns anos e me calei diante da pergunta, notei que ela – ardilosamente – traía meus pensamentos novamente.

De certo, vivemos uma vida corriqueira, tecnológica e cíclica, que não nos permite retrocessos, passos para trás ou longas olhadelas em um porta-retrato.

Quando divagamos extensivamente por uma lembrança, o presente nos proíbe taxativamente e logo retomamos a realidade. Parece que invadimos o playground do prédio vizinho e fomos pegos pelo zelador bem na hora de começar o futebol.

Passado e presente são estados distintos e estão longe de ser uma ilusão persistente (como dizia Einstein). Há de se dar suas devidas responsabilidades para cada um, mais nada.

Retomando meu diálogo libertário, aproveitei a repentina visita para propor algumas mudanças a fim de me libertar da era napoleônica que vivia minhas defesas e voltar a brincar com certos ineditismos.

Posso reaprender a ser surpreendido? Vamos lá!

- Que tal uma elasticidade maior para aceitar minhas indigestões? Jogo minhas sensações em frases bem conjugadas, mas na hora de por na prática sou intransigente e dispersivo.

- Não sofro de nenhum tipo de supressão de identidade, mas no ímpeto de uma proatividade exagerada, confundo o escolhido entre ser devoto e ser intenso. Sinto um prazer inenarrável em fazer tudo e esqueço que até a saudade não pode faltar em um convívio.

- Que tal - antes de se rotular com medo de sofrer - desacelerar alguns ritmos e se acalmar dentro de uma construção afetiva? Expectativas devem manter uma ordem e não um desnível rarefeito tipo o Parque de Yellowstone.

Agora que eu descobri onde minhas defesas me sabotavam, o encontro entre o equilíbrio e a dissipação das minhas ações ficarão mais fáceis. Correto? Positivo operante?

Sair do banco dos réus não está sendo tão difícil assim, complicado é a injeção de endorfina que desejo para esta minha “vida intravenosa”.

Confiar que no conteúdo da seringa tem amor e permitir tal aplicação dá frio na espinha e calafrio na palma da mão, entretanto, a coragem de entrever o homem além do escritor já foi feita, então, vamos em frente e coragem na hora da “espetada” da agulha.

Caso não seja amor, a gente muda de hospital e não volta nunca mais nesse.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aprendendo a se desconhecer


Se para o amor existe uma escola onde poucos atrevem a freqüentar a sala de aula, na amizade existe uma atração imediatista, bem mais curta que um curso de férias aos sábados... Transborda uma vida pequena que afirmo ser pequena em equação com a vastidão do nosso universo.


Somos aprendizes da vida eterna!

Protocolarmente, uma amizade de anos é coroada de “melhores amigos” devido ao tempo e ao que se “ouve” e ao que se “fala” durante todo este tempo.

Fantasiosamente, uma amizade que transcende barreiras temporais e espirituais é condecorada de “alma gêmea”.

Mas como classificar aquelas pessoas que cruzam com a gente e, em um incrível e meteórico espaço de tempo nos ofertam gratuitamente uma quantidade enorme de alegria e reflexão?

Prazer híbrido. Satisfação unilateral. Gentileza descabida. Amor aquisitivo.

Pra sentir tudo isso não precisa ser o melhor da classe. Não precisa ser um renomado sommelier, nem tampouco ter um prêmio Nobel na estante do quarto, simplesmente porque não temos esta autonomia.

Isso mesmo!

Não escolhemos! Mas somos escolhidos por uma atração que se compactua com o tempo, o espaço e algumas “permissões” que escapam do nosso entendimento e, de quebra, participamos – desconcertantes e entorpecidos – a uma espécie de dança das boas intenções.

Essa correspondência mútua nos decifra feito leitor de código de barras e nos faz viajar além da nossa vã introspecção. Afinidades que se manifestam por horas de conversa e parece que conhecemos aquela pessoa há anos – ou – no meu caso – que fui traduzido em minutos.

O resultado?

Libertei fantasmas que estavam em cativeiro há anos e vi que é possível atenuar minha alergia a transformações, afinal de contas, todo mundo tem pavor a preposições.

Se fôssemos definir um ambiente da nossa casa para a terminologia “comodidade”, eu diria que seria a sala:

Aconchegante. Convidativa. Sedutora. Irresistível ao cansaço.

Entretanto, vale muito à pena se desvencilhar do medo de perder as artimanhas da sala, como a TV de plasma, o sofá retrátil e reclinável, além do ventinho gostoso da janela para visitar outros cômodos, pois esquecemos que ao cativar a insistência em não perder tudo, botamos tudo a perder.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Distância da própria distância


Dar a devida distância para certas distâncias está distante até mesmo de qualquer invenção tecnológica...


Inventaram um encurtador de URL para o Twitter, porém não dão a mínima para um encurtador de distância? Isso mesmo; faz sentido ficarmos próximos a certas distâncias.

Devaneio? Divagação? Insanidade?

Nada disso!

Os astrofísicos e geofísicos estudam a remota possibilidade de alcançar planetas inimagináveis através de atalhos por dimensões maiores. Podemos viajar para outra galáxia daqui a 100 anos, mas não encurtamos uma distância entre a vontade e a desnecessidade?

Até a viril e mais implacável de todas as forças amorosas já foi aniquilada pela tecnologia. Hoje em dia você amortiza a saudade pela amada por um sms, um whatsapp, ou pelas redes sociais.

Mas e a distância inversa? Como fica?

A humanidade gasta abusivamente os recursos naturais do planeta, codificando-os em suprimentos, máquinas, estudos e o cassete a quatro só pra encurtar uma distância (seja ela qual for), no entanto, cadê o distanciamento para a própria distância?

Eu não suporto mais o “lá vou eu, lá vou eu” da Globeleza todo santo começo de ano. Me dá náusea ouvir e ler Big Brother como se fosse uma necessidade fisiológica entre as pessoas. Tenho pavor das fotos nas redes sociais exibindo os pés das pessoas de fronte a uma piscina.

Até a Copa do Mundo já perdeu a graça (e olha que é de quatro em quatro anos).

Sempre que esta data se aproxima eu procuro um encaixe para os meus avessos, na tentativa de encontrar um panorama ao estilo “síndrome de Poliana” e inventar uma realidade distorcida, um conto de fadas que me faça acontecer, sei lá...

De fato, a distância é inflacionária, quanto mais a colocamos num divã, mais complicada ficam suas traduções... Melhor do que equacionar é orar e torcer para quem sabe – em 2014 – possa existir turismo espacial.

Milhas para Marte? E lá vamos nós!