Crônicas

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Entre sonhos, pés e edredons


Tão entregue, tão indefeso... Tão absorto.

Toda a virilidade de um homem submissa diante dos meus pés, imerso no edredon da minha cama. Eles ficam tão vulneráveis quando dormem; de imponentes seres a machos sensíveis.

Esse desequilíbrio existencial na vida de um homem me leva, sem passaporte, a viajar para outra dimensão, onde os afagos são longamente extensos e a fronteira entre o toque carnal e os afetos se funde em uma conjunção indivisível e sem despertador!

Essa não é a primeira vez que me pego em reflexo, mas talvez seja a primeira a ser reparada de uma forma inócua. Ele dormia um sono pueril e quase juvenil e, eu lá, desperta por conta de uma sede repentina surgida em meio a uma madrugada fria, porém calorosa com ele aqui; jaz em mim.

Desci pra pegar água e, entre “gracejos e bocejos” divaguei:

As intempéries do dia se acalentam quando ele me abraça. O encaixe é bom. O carinho é constante e por certas vezes efêmero. Sinto uma promessa de felicidade ao enroscar meus pés nos dele. Sua fragilidade me atrai e me sinto mais segura, mais definida. Durmo leve na presença dele, me tranquilizo!

Sinto, quando ele me coloca em seu peito, uma vontade incontida de se enroscar em mim, de fato, nosso entrosamento é algo enigmático, intenso e que persiste em lutar contra os benditos afazeres do dia seguinte.

Ele me deseja, indubitavelmente, ele me deseja!

Desconexa da realidade, sacio minha sede rapidamente e subo as escadas em busca daquele abrigo gostoso e quente que é a minha cama com ele. Ao deitar sinto nele uma vontade acolhedora de me possuir, ele estava semi-acordado, provavelmente sentiu minha ausência...

Deitei de frente para ele e nos entrelaçamos entre sonhos, pés e edredons. Retomei a felicidade que ele me ofertava antes de me por em sono profundo e, juntos, navegamos para outro mundo, um mundo meu e dele do qual não convém representações poéticas.

Nos harmonizamos e nos entorpecemos por toda a noite.

(suspiros)

Um homem indefeso é algo deliciosamente encantador. Nele, a ordem da lógica é adulterada, sou eu quem o protege.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Faro pra lá de apurado


Me sujeito a dizer que todo preâmbulo de uma relação gravita em torno de expectativas; a gente fica no aguardo e na espera das atitudes alheias.

(O Ideias no Almaço Productions apresenta: Uma história verdadeiramente fictícia)

Rrrrrrrr, lembro desse figura aí, sua coreografia não me é estranha, ele já esteve aqui, ou será que passei por ele na rua de casa?

Bom, isso agora não é o mais importante, o mais importante é que ele está aqui, de corpo presente na minha quase residência, esparramado na sala como se fosse um gato (blergh, odeio gatos).

E o que é pior, tentando ludibriá-la com palavras e gestos, jogando esse charme de galã de 5ª categoria em cima dela (mulheres adoram este tipo de atenção), não é que ela parece estar caindo na dele?

Nããão, não caia não, deixa que eu mando ele embora, eu também tenho meus métodos nada educacionais!

Bom, ele ficou! Permaneceu naquele cômodo durante horas na justificativa marota de ajudá-la com o Iphone... Sujeitinho esperto.

Fui dormir!

O quê? Nem se passaram dois dias e sinto o cheiro dele aqui de novo? O que será que ela tem na cabeça? Tava tão bom só eu e ela. Não aceito penetras nessa relação, vou demonstrar minha indignação quebrando a casa, ou quem sabe rasgando as almofadas que ela tanto gosta.

Esse ritual que esses seres humanos têm em fazer fondue no inverno mais parece desculpinha pra se aproximarem, isso sim... E o cara tá lá, todo educado e proativo, mostrando interesse por ela.

Homem na cozinha? O cara realmente tá interessado!

Já vi esse filme, tá parecendo “A Dama e o Vagabundo”. E o cara continua todo dengoso pra cima dela, mal sabe ele que o dono aqui sou eu!

Opa, no auge do meu nervosismo ele veio do nada manifestar afeto por mim? Até que gostei, sabia? O cara é brincalhão, atencioso, não lembro de outros assim me dando tanto carinho, mas ainda tenho que ficar com uma orelha bem de pé com esse sujeitinho. Homens, bah!

Ela vale ouro pra mim, e pra conquistar esse tesouro vai ter que suar bem essa roupinha fashion aí meu filho!

Mas eu confio nela, ela sabe domesticar e doutrinar como ninguém, disso eu não posso duvidar!

Xiiiii, o cara subiu! Vão dormir? Como assim? Já? To começando a achar que esse sujeitinho vai passar a freqüentar meu espaço sagrado, meu e dela, claro. Tudo bem, minha audição apurada me permite ouvir tudo, qualquer coisa eu grito, quer dizer eu lato.

Hoje logo pela manhã ele desceu preocupado com a minha solidão, me libertou e veio “todo todo” conversar comigo como se eu entendesse uma consoante do que ele tá me dizendo, okay, relevei... Se ele é feliz assim, quem sou eu pra gesticular algo.

Rolamos e brincamos na cama durante alguns minutos enquanto ela se empetecava toda; reparei em como “ele” reparava nela, realmente o cara tá na dela, é o que parece.

Intuição canina? Pode ser! Nós (cachorros) enxergamos a alma da pessoa, algo que vai além de tudo que já foi inventado até hoje.

Parece ser uma alma branda, porém, se mudar de atitude, já vou avisando, quer dizer já vou logo mordendo.

Vai um rosnado aí?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Rolos sempre dão rolo


A denominação é uma só: Rolo é rolo em qualquer lugar ou situação. Não tem essa de estar associado à modernidade, teu pai ficava de rolo e, se bobear, teu avô também.

Os períodos da entressafra são os mais latentes e mais freqüentes também. Se não é o desfecho ainda fresco de um relacionamento é a falta justamente de adentrar em um relacionamento... O ser humano é realmente um conjunto padronizado de ideais. Por que é tão difícil ficar sem “beijar na boca”?

Raio X do tema:

O calor humano é assustadoramente irresistível. A inteligência da intersecção de um diálogo acompanhado por um vinho melhor ainda. A primeira mesa de bar: calafrio. A primeira aproximação: adrenalina. O primeiro beijo: não se descreve em palavras.

A real é que todos nós sentimos aquela falta que faltava para nos completar... Daí buscamos, buscamos e buscamos e quando ligamos o interruptor do descaso (booom), ele surge do nada.

O amor e sua brincadeira oitentista de “esconde-esconde”.

É tão gostoso esbarrar em alguém sem aviso prévio não é mesmo? Existe uma deselegância discreta em conhecer uma pessoa. Você injeta endorfina sem beira nem rima e a língua pensa no lugar do cérebro.

A felicidade e suas facetas imensuráveis:

“Conhecer” é divino. “Envolver” é cósmico. Se apaixonar é circunflexo. O amor é um sistema constante conjugado por seres inconstantes. Aí está a graça em amar!

Por que será que quando conseguimos absolutamente tudo da pessoa que se ama a gente perde o encanto? O amor é exato, as pessoas é que são inexatas em suas ambições.

Rolo sempre dá rolo, mas sua estrutura se baseia na inconstância, na vontade de querer mesmo sabendo que nunca vai ter. O proibido garante grande parte da diversão, entretanto, o “inalcançável” garante muito mais!

Ser constante é um tédio!

Sei que pareço um pouco fetichista, mas lutar pelo amor me parece melhor do que alcançá-lo sem luta!

Bom mesmo é namorar ficando de rolo, a gente carrega o frio na espinha em cada encontro e o desencanto fica sempre de canto.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Resolução de conflitos


Para resolver um conflito amoroso basta estar amando?

Para estar amando basta ter um conflito amoroso. Melhor assim!

Veja:

Nem tudo é tudo que se pensa dentro do pensamento humano. Mesmo diante de seres providos de inteligência, estética e articulação, o mecanismo de defesa (as know as) bom senso parece falhar diante de certas vitrines. É difícil resistir a uma boa cia. A solidão é uma obrigação disfarçada de opção...

Ninguém opta pela solidão quando se deseja ter alguém!

Ainda acho que deveríamos ter um cinto de utilidades emocionais; um interruptor para a solidão, para beijinhos casuais e para TPM também (aliás, este seria o primeiro dispositivo a viver travado no OFF).

Ôhhh fase!

Por que será que rola esse apagão quando avistamos o pretenso concorrente a ocupar nosso coração?

O que acontece com nosso discernimento individual feminino? Por que o "talvez" dá uma lavada na "certeza"?

Homens e essa força oculta... Que estranho poder eles exercem em uma lasciva e cativante conquista?

Poucos vários e muitos nenhum. Homem que conjuga o verbo conquistar merece estar no altar e, confesso, muitos já foram fisgados...

E o que nos sobra hoje? É tão raro encontrar pessoas bacanas que quando encontro alguém bacana eu viro uma chata. Mecanismo de defesa, claro.

Como tudo que repele também intriga em igual proporção, daí eu penso: quero ou não quero!? Questão que persiste em me cutucar em doses diárias. Tá parecendo bullying!

Enquanto mapeio a rota da minha fraqueza e seus significados, volto a pensar no bendito cinto de utilidades. A tecla "medo" não deveria ficar permanentemente no "OFF"? Não viveríamos melhor sem o peso da culpa ou do arrependimento se o medo fosse um mero estado temporário?

Arrependimento é pior que vizinho pedindo 1kg de açúcar, nunca vem na hora certa.

Resolução de conflitos: Na abstinência de um romance intenso, até as brigas provocam saudade. Sim, eu preferiria estar em um chat perguntando como se faz para resolver a discussão “x” ou o quebra pau “ÿ”, no entanto, minha matemática amorosa ta mais pra roteiro de novela mexicana, um chororó só.

O essencial nessa fase é estar em plena satisfação comigo mesma, concisa de que os grandes amores não possuem cenário e não respeitam local de exposição...

Ainda prefiro acreditar na sábia conclusão de Nietzsche: A maior inimiga da verdade não é a mentira, mas sim a convicção.

Chega de rolo, eu quero é namoro!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A parte para quem faça parte


Já passou algum período com alguma pessoa se desapaixonando?

Atipicamente eu sinto uma sensação típica de uma relação desgastada por imbecilidades a prova de bala. Sintoma clássico: Enquanto curtimos o gosto inebriante da liberdade, procuramos nos prender a alguém, mas quando nossa liberdade é adulterada, almejamos viver (no máximo) na condicional.

Relação bipolar: Cela e sentinela. No sentimentalismo lírico da cantora Ana Carolina mandando para o meu Semancol, sinais de fumaça organizados em 3 estágios de “jás”:

Já sei. Já foi. Já era.

O celular tocou em meio a uma turbulência que já fazia parte daquele sofá surrado da sala dela... Às vezes é bom tocar algo pra que a gente se toque. Cansei desse amor de conta de bar, tudo anotadinho minuciosamente, esperando a cobrança daquele que fez muito por tão pouco: Eu.

O amor não está para a contabilidade assim como a contabilidade não está para o amor. Ou você já viu alguém gostar de contabilidade? Isso é falta de opção!

A devoção a conta gotas dela me irritava e me colocava em questionamento; deixei ela a vontade desde a primeira mesa quadrada de bar, mas a minha vontade era maior que a vontade dela... Em resumo: perdi a própria vontade.

Sua sensibilidade, adequadamente do tamanho de uma lata de atum me espantava, mas depois minha frustração se acalentava por outras medidas que me mediam quando eu resolvia não me deixar mais de lado... Quando eu “vivia” reparava que outras pessoas poderiam viver comigo em uma vida saborosamente a dois...

Mas acho que na real, o que fez desbotar meus dias ensolarados foram suas ficções nada científicas em acreditar que sexto sentido resolve tudo... Há de se ter sabedoria para não confundir “avaliação” com “ilusão”!

Tentei dizer que eu não era um interruptor, mas bem antes disso, quem já havia se desligado era ela.

Malditas manias fixas: Sempre tentei preencher meu vazio preenchendo o vazio de outras pessoas. Já me reciclei!

Eu não queria ter certeza de nada, mas também não queria viver na dúvida. Por isso pulei fora...

É possível pular fora mesmo levando um fora? Dá um tempo pro tempo que é possível sim. Hoje sou grato pelo empurrãozinho que levei na porta do avião... Me faltou ar na hora, achei que ia despencar e espatifar a cara no chão, mas no desespero da rejeição, esqueci que estava de pára-quedas... Cheguei ao solo “pesadamente levitando”...

Enfim, todos nós nos transformamos em outra coisa (que o diga a minha inigualável mãe), que queria que eu fosse médico, mas fui me apaixonar pelas formas desuniformes das palavras...

Enfim, precisamos fazer a nossa parte para quem queira fazer parte de um todo, ou de um tudo...

Como diz o Ed Motta, virei um gato pingado fora da lei, voltei para os meus telhados de uma vez!

Assim que eu ver uma programação bacana em algum canal (lá dos meus telhados), eu aviso vocês...