Crônicas

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Poetizando cafés


No Facebook dou meu check in:

“Sentado no lounge macio e convidativo de uma cafeteria.”

Existe personificação mais clarividente de um escritor? Fixo. Concentrado. Pensativo... E solitário.

Me vejo só em minha própria companhia, mas em um ambiente lotado de perguntas. Me vejo pleno em minhas apreensões, mas endorfinado em minhas epifanias... Nos termos usuais, seria um bipolar, mas me acho ousado para descrever minhas narrações alegóricas.

Em tempo: Bipolar é um termo afanado da psicologia e banalizado pela sociedade para amenizar a falta de caráter de uma pessoa.

Sim, eu sou uma parábola no sentido geométrico: Uma curva plana cujos pontos distam igualmente de um ponto fixo (vulgo foco) e de uma reta fixa (vulgo diretriz).

Nessa ilustração eu colocaria um acostamento, uma barraca de água de côco, algumas bifurcações e claro, o lounge confortável que me encontro.

Escrevo porque ainda acredito em algo revolucionário. Escrevo porque ainda acredito que as palavras mudarão o mundo - ideologia? Não, insistência. Parafraseando Jabor: Escrever é não esconder a nossa loucura.

Em um mundo que não vale o mundo que tem e em uma sociedade onde pessoas não merecem pessoas benfeitoras (raras exceções), a gente ludibria as horas, confabula momentos, memoriza saudades atuais e joga tudo num tablet.

O coração de um escritor possui o mesmo domicílio que o de um analista de sistemas, de um açougueiro ou de uma paisagista, mas o inquilino não pode mudar nunca. Precisamos de uma paixão, sempre!

Ah, uma paixão.

Uma teologia que se faz mitologia. Um anjo escamoteado de mulher. Uma correlação entre os sentidos e os neurônios.

Pura infusão literária entre as palavras que dou vida e as emoções que brotam de mim, graças a ela, a minha inspiração.

E o que eu irei escrever agora?

Vou pedir outro café com leite e convidar a emoção para participar do clima... Ela é a minha tutora em tudo o que faço.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Os anjos renegados inventaram as baratas



Vida de incorpóreo não é fácil. Já imaginaram o caminho penoso que um ser desencarnado passa até chegar à condição homérica de “anjo”?


Os anjos são seres ativos na edificação do reino dos céus, entretanto (e sempre existe um tanto) sempre tem um indivíduo com a mente desenganada, um desvirtuado que cansou do ministério branco e preferiu as baladas da superfície mundana.

A história é longa e inadequada para uma página de Word, mas a história que se segue abaixo vai mexer com os seus principais temores... ... ...

Ser um anjo não é fácil. Supervisionar a adoração celestial não é fácil. Morar em casa também não é!

Convivemos com um emaranhado - a contragosto - de situações e condições inconvenientes:

O vizinho nunca tem o gosto musical alinhado ao seu. A poluição sonora da cidade é bem mais sonora vista daqui debaixo (comparada ao 15° andar de um edifício). Falta liberdade de expressão, falta liberdade para reclamar, e até para amar...

Toda semana enfrentamos uma infindável gama de religiões a nossa porta, se dependesse do desejo de todos, eu já teria me tornado um politeísta nato! Isso sem contar nos pedintes; se você ajuda uma vez, terá um casamento eterno com ele.

Falta atmosfera para expor o que se pensa porque somos monitorados full time pela intersecção arquitetônica de uma casa (as paredes são finas e o ouvinte dispensa o uso do copo grudado na parede). Morar em casa é viver dentro de um Reality Show sem o tão almejado paredão.

Não que eu queira morar em um Mosteiro (o celibato me cansaria), mas também não quero morar no centro de Kabul...

Indiferenças a parte, o pior sempre fica para o final de qualquer linha de defesa: Sobram baratas!

Baratas!

Meu Deus, baratas!

Os anjos renegados inventaram as baratas e nós – novatos aprendizes no campo espiritual – inventamos o inábil repelente (eu pelo menos desconheço um repelente que chegue próximo a uma barata sem ela correr 20 mts antes mesmo dele atingir a atmosfera).

As baratas (Usain Bolts da vida) – assim como os anjos renegados – satirizam nosso despreparo e a nossa inabilidade para afugentar sua própria criação... Nosso repelente é mais lento que uma tartaruga com overdose de Rivotril...

Mas, além deste grupo de insetos cosmopolita, existe a família e os parentes: intrépidos e incansáveis seres na arte de aporrinhar...

Parente não é serpente, porque serpente não dá em cidade grande. Parente é barata, isso sim, e super desenvolvida, com poderes que vão além das forças da natureza:

A família (ao contrário da barata) não escolhe horário, temperatura, nem clima. Invade sua vida, se intromete em sua agenda, questiona seus compromissos, profetiza o seu futuro, palpíta em suas decisões e o que é pior:

Não temos a ação bactericida de um inseticida.

Deus abençoe o fone de ouvido!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Somos covardes na arte de amar



Buscamos avidamente o amor em todas as nossas suposições mundanas, mas não queremos o seu ônus.


Ônus = Sofrimento.

Se o sofrimento de quem gosta é doloroso feito uma punção, imaginem a reclusão de quem foge do amor? Nenhum sofrimento é lacônico porque o que é ruim nunca possui a brevidade de um suspiro e sim a longevidade de um arrependimento.

Voltemos ao que queremos:

Queremos passear de mãos dadas confabulando um ensolarado caminho repleto de girassóis em coreografia com o vento, mas não, não queremos mudanças drásticas de temperatura.

Pensamos e desejamos que o outro possa ser o paraíso, mas não encaramos a relatividade instável da vida. Cabulamos as aulas de física e ignoramos a influência dos gênios da história (Issac Newton e Albert Einstein).

Queremos demonstrar afeto, gratidão, heroísmo, companheirismo, preocupação, suavidade, mimos, mas não queremos o julgamento dessas ações.

Queremos surpreender sempre. Agradar sempre. Impressionar sempre, mas esquecemos que é necessário manter uma média na dosagem, porque tudo que é exagerado se torna exaustivo e previsível.

Somos ilusionistas, mas não queremos nos surpreender com algo que não gostamos – daí - interpretamos...

E com isso desenvolvemos o pecado mais letal do amor: a projeção. Quem projeta tem o seu futuro endividado de juros... Os juros das injúrias.

A gente acha que amar é se explicar quando na verdade é se confundir, ter dúvidas, incertezas, frio na espinha e suor gelado na palma da mão.

E na contramão disso:

Entendemos que para o essencial não existe certo ou errado, existe amor. Mas temos receio de se permitir, de se entregar e de se expor, principalmente se já passamos por algo amorosamente indigesto.

E quem nunca passou?

Nos bastidores da vida, somos todos carentes, mas protegemos a todo custo a popularidade desse sentimento porque confundimos carência com fragilidade e acreditamos na modelagem de algum idiota que se deu bem sem demonstrar carência. Pura PNL!

Quem ama não muda de vida justamente para não ensaiar os erros com outros coadjuvantes. Quem ama se veste de coragem e enfrenta a própria vida.

O sofrimento é cego sem o amor e o amor é manco sem o sofrimento. Escolhas e renúncias vitais angustiando nosso cotidiano, simples assim.