A viagem mais difícil do ser humano não está nos
obstáculos das enormes filas da rodoviária do Tietê em pleno feriado.
A viagem mais difícil do ser humano não está em um
possível turismo para Marte, nem tampouco se aproximar fisicamente ao Titanic
há quatro mil metros de profundidade sem a ajuda de robôs.
A tua viagem mais difícil não está em refutar o passeio
de férias da sua filha de 12 anos juntamente com os amiguinhos da escola.
A tua viagem mais difícil está dentro de você, sem
pavimentações palpáveis, sem piche, sem cimento, apenas com um pouquinho de
audácia e atrevimento.
Audácia e atrevimento.
Audácia, sempre exibida como material abundante nos
filmes de heróis e nas figuras históricas que permearam as épocas medievais.
Atrevimento, confundida invariavelmente por petulância,
faz parte do conjunto de palavras dúbias do nosso dicionário, mas, em
detrimento do texto e do que busco transmitir, prefiro adotar a ideia exata de
enfrentamento e confrontamento sem excessiva confiança pela certeza do caminho.
Coragem além da inteligência é usar o coração como
instrumento de navegação. Atrevimento além da presunção é amaldiçoar a própria
viagem. Audácia além da transposição de medo é desafiar os limites.
O que escolhemos para nós? Qual é o caminho menos
ardiloso, menos arenoso e com júbilos e libido constante?
Muitos reclamam soltando ao vento a seguinte frase:
“Gostaria de ser livre como um pássaro”, mas quem disse que o pássaro é livre?
Ele não escolheu nascer com asas e não pode não deixar de voar, tua vida se
resume ao céu por aceitação, a nossa, se resume ao inferno por indagação.
Não aceitamos nossas escolhas. Não sabemos não viver
sem reclamar.
Outros balbuciam sobre a falta de dinheiro e a associam
estupidamente ao sucesso e aos orgasmos materiais.
Quem nasce em berço de ouro vive com a angústia de perder
o dinheiro que tem. Vive com receio de sequestro, convive com a sombra da
aproximação por interesse, do amor de alpinistas sociais, vulgo mulheres
interesseiras a procura dum porto seguro.
Como ninguém pode ter medo de perder o que não tem,
dessa tristeza não morrerei, assim como muitos por aí, creio eu!
Qualquer caminho escolhido será difícil. Não existe
moleza. Existe complexidade. A complexidade do básico e o básico está em
compreender que somos protagonistas e antagonistas da nossa realidade.
Realidade, sim.
Não substitua o contato pessoal com você, permita-se ao
tédio, ele é decisivo para você construir uma vida criativa e quem sabe assim,
entender um pouco mais sobre as tristezas inesgotáveis dos caminhos que você
escolheu, afinal de contas, a gente não suicida nossos hábitos, nós aprendemos
a conviver com eles tal quais os insetos, o tempo quente ou a chuva torrencial
do caminho que optamos seguir viagem.