A rotina é o algoz da permanência e a alforria da
reciclagem. Nos divorciamos da tolerância.
Ninguém tem mais paciência com a última porta batida, o
último tapa na mesa, a saideira com os amigos após uma discussão...
Par perfeito tem um monte por aí dando sopa, difícil é
achar o par suportável.
Paixão é descanso. Amor é trabalho. Não queremos uma
primeira vez, mais de uma vez.
O ar está rarefeito para o amor, por isso, a maioria
prefere envolvimentos menos densos, mais respiráveis e menos autênticos.
Ninguém mais perde tempo ensinando, todo mundo quer achar o voluntário com PHd
nos lençóis e MBA na conquista.
Já dizia Isaac Newton: “Se fiz descobertas valiosas,
foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento.” Talvez aí esteja a
razão de tanta incompetência: Cansamos do ineditismo da descoberta.
Aliás, muito aliás, além do desinteresse pela
descoberta, nós já nos apresentamos com o nosso manual automatizado debaixo do
braço, ou seja, facilitamos todo o mistério para o interessado e assim, deixamos
de ser surpresa para sermos mais uma leitura com final previsível.
Nós somos mais óbvios que placa de trânsito.
Em poucas horas é possível descobrir tudo, porque o
tudo se editou em três estágios:
- Troca de olhares.
- Frases ensaiadas.
- Atalho para a cama.
E assim nos transformamos em frutas, espalhadas na
quitanda ou em produtos pendurados em uma gôndola qualquer.
Puritanismo? Falso moralismo? Sexismo?
Não não, vivência no circo mesmo. As críticas existem
embasadas no que se quer da vida, no atual momento e no enlace que você se
depara consigo mesmo. Se você se ama, você não precisa disso.
Mas carregamos dentro de nós uma suspeita vontade de
ludibriar a solidão, o medo de estar só num sábado à noite em pleno verão, isso
assusta. Dá calafrio imaginar que tem um mundão lá fora tomando todas e
trocando fluídos e você lá, de bem com a TV e a almofada do sofá.
Não tá na moda sofrer, é démodé. Melhor é estampar um
sorriso, desfilar por cima do sofrimento e vestir-se de um conto de fadas
qualquer, afinal de contas, o show não pode parar, e você nem faz tanta questão
que ele pare.