Crônicas

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Os juros das injúrias

As pessoas precisam se comparar às outras; se faz necessário quando se deixa escapar uma oportunidade promissora de fazer sorrir.

Pagamos caro pelas atitudes impensadas, geridas pelo impulso e pela vontade intrépida de puxar o fio da tomada. Queremos a qualquer custo mudar de estação ou sair de sintonia.

Entramos em uma espécie de hipotermia sentimental.

Não existe nada de impudico no arrependimento. Terreno infértil e hostil para qualquer germinação de sapiência. Nesses casos julgam-se juvenis e infantis os mandamentos do coração; o cérebro aconselha o contrário, porém segue adiante só para ter o gostinho de dizer lá na frente: “Viu? Eu te avisei para não fazer isso!”.

Entretanto, entre o prefácio e o fim de uma história sempre existe o elo conjecturamente chamado de “meio”... E nesse anestésico e confuso intervalo, um universo de pechinchas se joga diante dos nossos pés do qual eu divido em quatro estágios de ação:

Ocupação: Barganhamos o descontentamento pela quantidade. Saímos em busca de entretenimento e interação. Tudo é válido para corrigir ou ludibriar o estado provisório do sentimento.

Instabilidade: Saudade não é arrependimento, é atrevimento. Tentamos nos envolver e ocupar o espaço de outrem com pessoas não tão notórias, justamente para nos perdoarmos nos defeitos alheios.

Subjeção: Após essa longa viagem à Disneylândia, voltamos à realidade; a temerosa rotina, tão imperdoável quanto à lei da gravidade. Nos confrontamos internamente numa espécie de guerra fria entre a razão e a emoção. O réu ocupando o banco da vítima, a vítima inocentando o acusado, o réu outorgando pelo juiz, enfim... Um emaranhado confuso de ordens e de posicionamento. Resta saber quem é quem nesse balaio todo, o coração e o cérebro trocam de personagem até mesmo na própria cena.

Quietação: Passado a confusão vocacional entre a razão e a emoção, vem à calmaria e o entrelaçamento consensual; ocupamos nossa vida com as desocupações rotineiras, retomamos a paz e a guerra fria entra em recesso temporário – sim - temporário, logo mais voltamos a investir projetando uma resolução e um firmamento amoroso antes da chegada da 3ª idade.

De qualquer forma, antes de outro investimento e, passado essa epopéia de sensações, conflitos e alívios, nos deparamos com uma clarividência indivisível e reveladora:

Não existem réus, culpados ou juízes, somos vítimas de nós mesmos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Vida agendada

Se o acaso não expirasse e se um caso virasse casual, a indiferença não faria diferença entre dois corpos, e você não desejaria retornar para sua casa cobiçando ser de alguém.

Por que sentimos este prazer escuso e confidente de querer ser de alguém? Por que esta vontade incontida de querer a liberdade de se prender a alguém?

E disfarçamos isso, e como!

Tentamos e fazemos de tudo para preencher essa voraz necessidade: Lotamos nossa agenda cultural, marcamos cada noite de sair com um amigo diferente, compramos livros, jogamos vídeo game, saímos pra jantar, enfim... Vale tudo para esquecer essa bendita vontade de se apegar quando sentimos falta de um companheiro (a)...

Amor? Acomodação? Satisfação individual?

Todos nós queremos uma vida agendada com o amor, mas menosprezamos o próprio, assim como uma visita desejada num momento indesejado; queremos mandá-lo embora quando bem queremos, ou convidá-lo quando bem precisamos.

Mentimos para nos proteger. Procuramos uma desculpa. Mentalizamos diante do espelho. Omitimos para nós mesmos tentando acreditar em nossa covardia, e assim o amor nunca mais volta... Se revolta!

Nessa vida agendada, burlamos o momento da conquista / Demoramos a nos declarar / Prolongamos o sofrimento de uma discussão / Refutamos o alívio do perdão. Amor não depende só de amor, depende da sorte.

Mas, se a sorte está sempre aliada à capacidade com a oportunidade e as oportunidades são racionais, como saber sobre o amor?

Não se sabe... Assim como a saudade... Não se sabe; nunca se sabe!

Pode parecer deturpado, mas é um alento; aos poucos entramos em nossa concha e permanecemos ali, incrustados em nossa zona de conforto: A comodidade diminui a margem de erros, a ousadia amplifica os riscos... O que incomoda nos erros são a manutenção e a restauração dos mesmos!

Dá preguiça consertar as cagadas, por isso o sofá da sala é bem mais confortável que o banheiro.

Entretanto, a vida monótona e sem tentativas não possui o exagero de uma promissora inspiração cinematográfica... Exagero?

Sim, por que não?

O amor é uma enorme distinção do exagero; exagero entre a disposição e a estagnação!