Crônicas

terça-feira, 19 de maio de 2015

Os mornos não têm juízo



Temer ou não temer, eis a questão que se faz do seu juízo.

A ideia de que seremos “questionados” ou indagados perante Deus sobre nossas obras aqui neste planeta escola me faz repensar sobre o juízo Final.

Juízo final...

De fato, o final é inexorável, o que me assusta mesmo é o juízo.

Juízo do que algumas pessoas fazem do seu próprio juízo e da maneira como conduzem a sua vida.

Juízo final...

O que fizemos e o que não deveríamos ter feito e fizemos?

Ou melhor:


O que não fizemos e por que fizemos do jeito que achamos que deveria ser feito?

A crença de um julgamento do homem tendo Deus como juiz levando em consideração os atos executados por este me espanta.

Mas o que é o Juízo Final?

Eu tenho uma ideia!

A divindade suprema (opinião privada de cada um) chama o sujeito eloquentemente em particular e – com uma mão carinhosamente em seus ombros – lhe pergunta:

Filho, o que foi que você fez durante toda a sua vida?

Uma pergunta simples, entretanto, em detrimento de seu sofrimento contínuo e unilateral em busca do poder a qualquer preço, do ter sem pensar além do ter e do pouco pelo saber, é impossível responde-la em 5 minutos.

Gaguejou... O sujeito - sabotado por uma gama avassaladora de pensamentos, culpas e receios - gaguejou, hesitou, vacilou, fraquejou, bobeou, transformou uma pergunta decisiva em um silêncio morno.

Conhece gente morna?

Aquela que economiza sorriso, que poupa questionamentos, que não admira o ato de contestar, que fala gesticulando a cabeça em tom de aceitação, que conjuga a cautela como consternação absoluta do seu cerne.

Gente morna... Abraça de lado, não sabe o que é apertar uma mão, desconhece o medo pelo fracasso ou a descarga emocional pela conquista, vive de “sei lás”, de “tudo indo”, de “seja o que Deus quiser”.

Gente morna... Tanto faz para as despedidas, tanto fez para as permanências, vive sem ter muito o que fazer num mundo onde se precisa de gente pra se fazer muito. Acredita piamente nas fórmulas e justamente por isso, não altera alguns coeficientes fundamentais para o seu aprimoramento, simplesmente vive assim, morrendo vagarosamente, dia após dia, suspiro após suspiro, sem se dar conta de que todo ser – por mais medíocre que seja, necessita deixar algum tipo de legado.

Nem fria... Nem quente... Gente morna.

Enquanto muitos se julgam diariamente compreendendo que a razão é oriunda da alma, gente morna prefere a cautela pelo não risco, a ocupação de matéria e ponto final... Apertam “esc” para a ousadia e dão “enter” para os atalhos da vida.

Atalhos da vida... Encurtar um caminho é reduzir o sofrimento e diminuir o conhecimento porque a gente só aprende na dor e só se agiganta perante os desafios, por isso que viver contraria a matemática: viver (dividir) é igual a somar (compartilhar).

Trocar é crescer, isso é viver. Quem não troca não se equivoca e quem não erra não aprende a crescer. Viver é a capacidade de partilhar, por isso a vida é um milagre para os inquietos... Não para os mornos.

E aí você me pergunta:

Mas todos nós sairemos de cena um dia, a vontade em permanecer não importa, correto?

Sim, é verdade, mas se você entender a máxima que o único jeito de ficar é fazer falta, você será eterno, aqui ou em qualquer outro lugar.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

A ótica do holofote


                                    
Aos olhos do mundo, uma pessoa com fala mansa, educadora, motivacional.

Aos olhos dela, uma pessoa que se esforçava em ser o que dizia de si mesmo.

Aos olhos do mundo, apaziguador, pacato, promotor da justiça e da igualdade em qualquer nível de importância.

Aos olhos dela, calmo até uma ventania emocional comprometer os seus alicerces morais.

Aos olhos do mundo, mergulhava seus amigos em risadas debochadas e extremas com seu jeito sarcástico fazendo o maxilar ter câimbras.

Aos olhos dela, admiração com certa mediação em detrimento de já conhecer os seus dotes conquistadores.

Aos olhos do mundo, uma pessoa segura de si, exagerada em suas objeções, impetuoso em suas convicções.

Aos olhos dela, uma pessoa escamoteando a insegurança com a própria segurança, ufanista em suas críticas,
invariavelmente impetuoso em suas convicções (padrões comportamentais comuns a todos as pessoas).

Aos olhos do mundo, uma pessoa ponderada, persuasiva em seus pontos de vista, oratória eloquente e engajadora.

Aos olhos dela, uma pessoa que não paga a prestação suas palavras, resmunga, contesta, exclama, de forma eloquente e engajadora, desde que o coração não assuma o discurso.

Aos olhos dele, os olhos dela. Num esforço individual contínuo para sobrepor o seu orgulho e a sua vaidade sem deixar de ser quem é assimilando as críticas do que já fora um dia.

Intimidade é isso; Tolerar o previsível, amar o que é possível, abandonar o que não é saudável... Entretanto - é - acima de tudo - a união sem litígio entre dois temperamentos que se fundem, muitas vezes de forma destemperada.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

A cura pela inovação


A era dos problemas de esfera psicológica finalmente infestaram a sociedade. Digo finalmente porque já estávamos sem criatividade e sem ideias inovadoras para nutrir nossa antipatia pela rotina – afinal de contas – sempre são as mesmas doenças e sempre na esfera biológica, precisávamos inovar!

Vejam como exemplo a hanseníase (amedrontamente chamada de lepra), foi a doença mais antiga da humanidade (1350 a.C) e sua cura só foi descoberta no início dos anos 80. Isso sem mencionar nas epidemias (aquelas doenças que não suportam somente os 5 minutos de fama e se propagam mundialmente).

As doenças se reinventam (isto é fato), a tuberculose, a difteria, a febre amarela saíram de cena e deram vazão ao sarampo, a rubéola e que, por conseguinte foram substituídas pelo Câncer, Aids, gripe aviária, ebola e atualmente (ainda em menor escala) dengue.

Dengue, todas as vezes que reflexiono sobre, analiso a imensa fragilidade do ser humano e a sua burrice em larga escala. Dengue é um desleixo nosso, causado pela ausência de educação, pelo excesso de ignorância e pelo descaso de chefes de estado eleitos por quem mesmo?

Ah tah, por nós!

Deixemos a culpa e o vitimismo de lado (essas patologias serão abordadas no próximo parágrafo), pois bem, correlacionado a isso, temos as mudanças dos hábitos e o desenvolvimento irrefreável do capitalismo moderno, arrastando pessoas e mais pessoas aos principais centros urbanos, ocasionando problemas, caos e principalmente a inovação das nossas doenças: Os problemas psicológicos.

Respeito os sintomas terríveis que uma depressão oferece ao indivíduo, imagino o terror que deva ser a síndrome do pânico, mas a nova adesão que contamina as pessoas possui um clamor ainda maior: O vitimismo.

O vitimismo é um poço de sentimentos negativos, dele surge à tendência para culpar os outros sob a justificativa irracional do “ele tem mais do que eu tenho”. Deste sentimento mesquinho e tacanho surgem às couraças de autodefesa que não permite - ao que se faz de vítima – viver e conviver numa esfera social de forma consciente, sensata e digna.

Dele, deriva a impressão congênita e absurda de que o vitimista não precisa mudar e reciclar seus pontos de vista, os outros é que sempre estão errados, os outros é que precisam sucumbir e concordar com eles.

O vitimismo renega qualquer tipo de meritocracia em favor da idiocracia; Estudou em colégio bom? Tem casa própria? Carro? Qualidade de vida? Fez por merecer? “Desculpe, você pertence à elite branca e o seu modo de vida me irrita!”

Sim, ser eficiente, investir numa ideia, acreditar em seu potencial, ir á luta, se dedicar por um estudo, por uma tese ou simplesmente herdar algo digno que seus ancestrais construíram, sim, você será o novo odiado da nova doença do século XXI, o vitimismo.

Do vitimismo ao espertismo, da política a sociologia (aqui, na ordem cronologicamente inversa), falemos de César (o governante romano): Dividir para conquistar, em português evidente, dividir para reinar.

Espertismo no dicionário: Consiste em ganhar o controle de um lugar por meio da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo que se mantenham individualmente. Estratégia que tenta romper as estruturas de poder existentes e não deixar que grupos menores se juntem.

É certo, evidente e latente que a sociedade se rachou por sua adesão ao fanatismo, assim como Hitler, líder que conquistou a empatia do povo alemão por abusar de um sistema desacreditado por conta da primeira guerra mundial e seus resquícios (miséria, fome, pobreza) – aqui – metaforicamente (e coincidentemente) pintado de vermelho, temos uma nação (em sua totalidade) corrompida por se achar inferior e por não acreditar em si mesma.

A falta de fé nos leva a dependência e a falsa ideologia de que uma nação, a beira de uma falência geral, sempre precisa de um líder. A falta de fé raciocinada compensa a falta de habilidade social, assim sendo, o povo vai na onda do coletivo pela discriminação, pelo extremismo e pelo fundamentalismo.

Vitimismo; a pior das cegueiras; destrói a pessoa pelo descontrole de autocrítica, pela carência de discernimento e pela falta de conhecimento pela sua capacidade de avaliação racional.

Uma doença praticamente incurável a qual me faz chegar a uma conclusão nostálgica: Sinto saudade da gripe espanhola e da peste negra.