Crônicas

quarta-feira, 28 de março de 2012

Vida que se faz vida

Vida que se faz vida; na concepção suprema: nascimento, o início, o prefácio, a consagração da espécie lutando bravamente contra as atitudes da própria espécie existente. Sim, o futuro desse presente depende desse tal de “agora” que todos falam, mas que muitos não fazem nada... Resignação e acomodação com a própria vida.

A espécie de hoje não aprendeu a se adaptar com a terceira lei de Newton: Ação “e” reação e com isso vivemos a lei da natureza: Prevenção “ou” reabilitação...

Em tempo: Nota-se a benevolência da natureza para com nós, uma espécie prepotente e degradante. Ironicamente podemos usufruir do nosso uso gramatical ao comparar o eminente “e” com o misericordioso “ou” na frase citada acima.

Quem nasce a partir desse instante, tem como adiante, enfrentar o inconstante; deslumbrante, por vezes desafiante.

... E quem destoa e não é determinante nessa vida, jaz em um epitáfio intitulado: petulante!

Desvaloriza, resmunga, reclama e não tem seus cinco sentidos voltados para o mais eloqüente valor humano: O amor ao próximo.

Amar quem não nos pertence significa se graduar com as experiências que nem sempre são assinadas e outorgadas por nós, e sim pelo vizinho.

Tudo é uma questão de posicionamento. Já se imaginou algum dia sem as pernas? Já se imaginou algum dia na fila de um SUS com um filho enfermo nos braços? Já imaginou o controle emocional que este indivíduo tem quando olha para você, de notebook e Blackberry na mão, sorridente?

Não teria ele o direito de pensar: “Por que eu e não ele?”

A vida se fez assim para alguns. A vida se faz assim para outros. A personificação quase que congênita e real do equilíbrio humano embutida no dia a dia em um relato contrastual chamado de vida!

Vida que se faz vida!

O contraste social, emocional e físico são aspectos irrefutáveis no convívio humano. Tão implacável quanto à própria morte e tão desejável quanto à própria vida alheia. Quantas vezes você já não se pegou em transe querendo ter a vida de outro alguém?

Difícil tolerar a tristeza, a rejeição, o momento de inquietação. Todo mundo quer a felicidade, entretanto todo mundo se ilude ao pensar que viemos para essa vida para sermos felizes como um conto de fadas... Até os mais felizes já foram infelizes um dia!

Ser infeliz é uma questão de manobrar as estratégias do destino... Quem respeita a infelicidade se vangloria e se resguarda da própria felicidade. A Felicidade é um estado efêmero, assim como a infelicidade. Ambos são fugazes. Nada nessa vida é permanente, graças a Deus, não?

E nessa roleta russa de vantagens e de fracassos, a gente vive! Vive com a insatisfação pessoal ao se deparar com o espelho. Vive a incompreensão de uma pessoa querida que nos deixou tão inesperadamente. Vive a intolerância de ver tanta gente má se dando bem na vida... Enfim, vivemos por viver, porque a vida se fez assim...

Quem está vivo, está vivo por algum sentido, por algum motivo, por algum significado e com esse significado tão relevante, interagimos juntos com outros significados que podem ser insignificantes graças ao seu teor de insignificância alheia... Voltamos ao caderante ou ao prepotente.

Já notaram como viver é fascinante, cíclico e reciclavelmente belo?

Viver é um ciclo, por isso devemos fazer a diferença na vida de alguém. Emprestando nossos ouvidos, doando nosso amor.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Aquele par que virou ímpar

Meu micro universo novamente possui gavetas vazias aptas por novas roupas. Os porta-retratos iniciaram uma nova dieta (aguardando o prefácio de mais uma nova história).

Neste ambiente - outrora poluído por tantas presenças - reina uma paisagem semi inaugural, convidativa, hospitaleira. Me cativa essa transição de “amontoação vs desocupação”, dá pra desmedir o tamanho da minha carência e do meu alívio auditivo das vozes que habitavam ilicitamente os meus ouvidos.

Amor e felicidade são ambulantes que perambulam pela mesma calçada e pelo mesmo ambiente, mas não significa que moram juntos ou que ataram um relacionamento, são no máximo roommates!

E diante dessa profusão de imagens e odores eu desconstruo os mitos de uma vida tradicional e construo os medos de uma vida passional. Solidão ás vezes é uma amiga que não tem semancol pra levantar e ir embora.

É fácil gostar do que é fácil: Não brigar nem pelo último pedaço de torta holandesa que sobrou na geladeira; não discutir por coisas pequenas, não se exaltar pelos hábitos alheios, entender as razões, compreender as vontades mesmo não sendo você a vontade, enfim... Gostar do que é fácil é muito fácil.

E neste ambiente não testemunho mais a minha saudade. Puxei o fio da tomada e me desliguei provisoriamente, até ficar ligado em outra desventura; Como é gostoso abraçar as almofadas. Como é gostoso dormir com os travesseiros espalhados pelo colchão e como é bom chegar e não ter a emoção de ter alguém te esperando...

Veja o lado lúdico do amor:

Um quebra cabeças só pode ser preenchido e desvendado a sua arte com peças diferentes. Um cubo mágico possui dezenas de cores, mas as cores iguais preenchendo os lados tornam o objeto muito mais atraente, entretanto, brincar de “resta um” faz com que aquele par se torne ímpar.

Mesmo assim, ainda é melhor do que viver a meticulosidade e a estratégia arquitetada de um jogo de xadrez.

O amor pode ser um jogo prazeroso, mas nunca um jogo de compensações.

quinta-feira, 1 de março de 2012

De grife a pano de chão

Sabe aquela camiseta que você ama de paixão e que gostaria de ter mais de duas só para revezar com os dias da semana? Ela te faz um bem irracional e incógnito... Exerce um poder inexplicável sobre a sua autoestima; você fica mais cheio de si e mais confiante até mesmo para com as suas relações sociais...

Porém, seguindo o dress code tradicional, você não tem uma cópia desta “camiseta mágica”, então você, entorpecido pela energia positiva que ela oferece ao seu Alter Ego, começa a usá-la com freqüência, dia sim, dois dias não...

De repente, sua vivacidade começa a desbotar feito um livro aberto exposto ao sol. Foram tantos “lava/seca/passa” que ela não resistiu: Sua gola esgarçou, sua manga alargou e um pequeno furo jaz logo abaixo da sua estampa – em um local malditamente visível... E comentado.

No âmbito desesperador de continuá-la a usá-la, você restringe este relacionamento a quatro paredes, mas, com o poder degradante do tempo, aquele pequeno furo se torna um rasgo e você obrigatoriamente a transforma em um pano pra lavar seu carro, sua moto ou a sua bicicleta.

Você depositou tanto amor naquela mistura de poliéster com algodão que agora perdeu toda a sua avaliação como indivíduo perante o mundo que você vive...

Expressada em afeto, aquela camiseta incitava em você uma pessoa sorridente, confiante, e que agora vivia em campo neutro, sorrindo à conta gotas, hipotecando suas vontades, fazendo prestação da felicidade... Um ser opaco, eu diria.

Para centenas de pessoas, a baixa estima provém do excesso de peso, do poder aquisitivo desnivelado, da falta de emprego. Para você, o desafio maior é a rejeição pela punição traduzida na relação tempo e uso da camiseta que, de um dia para o outro, lhe abandonou.

O tempo desgasta, mas o tempo também contrasta e, com o amor próprio ameaçado, você vai pra rua à procura de uma nova vitrine, uma nova concepção e porque não de uma nova inquietação?

Afinal de contas, aquela camiseta vivenciou uma história com você, mas já passou, virou pano de chão e outras novas histórias precisam dar vazão a todo este conjunto de sensações, reações e intempéries que somente um ser racional possui.

Ser você depende somente de você. Não é isso que prega os mandamentos do senso comum?

Assim como a camiseta, o amor um dia desbota e precisamos estar oferecidamente ávidos para uma nova história, um novo recomeço e com uma nova camiseta para sair com este futuro grande amor.