Crônicas

quinta-feira, 1 de março de 2012

De grife a pano de chão

Sabe aquela camiseta que você ama de paixão e que gostaria de ter mais de duas só para revezar com os dias da semana? Ela te faz um bem irracional e incógnito... Exerce um poder inexplicável sobre a sua autoestima; você fica mais cheio de si e mais confiante até mesmo para com as suas relações sociais...

Porém, seguindo o dress code tradicional, você não tem uma cópia desta “camiseta mágica”, então você, entorpecido pela energia positiva que ela oferece ao seu Alter Ego, começa a usá-la com freqüência, dia sim, dois dias não...

De repente, sua vivacidade começa a desbotar feito um livro aberto exposto ao sol. Foram tantos “lava/seca/passa” que ela não resistiu: Sua gola esgarçou, sua manga alargou e um pequeno furo jaz logo abaixo da sua estampa – em um local malditamente visível... E comentado.

No âmbito desesperador de continuá-la a usá-la, você restringe este relacionamento a quatro paredes, mas, com o poder degradante do tempo, aquele pequeno furo se torna um rasgo e você obrigatoriamente a transforma em um pano pra lavar seu carro, sua moto ou a sua bicicleta.

Você depositou tanto amor naquela mistura de poliéster com algodão que agora perdeu toda a sua avaliação como indivíduo perante o mundo que você vive...

Expressada em afeto, aquela camiseta incitava em você uma pessoa sorridente, confiante, e que agora vivia em campo neutro, sorrindo à conta gotas, hipotecando suas vontades, fazendo prestação da felicidade... Um ser opaco, eu diria.

Para centenas de pessoas, a baixa estima provém do excesso de peso, do poder aquisitivo desnivelado, da falta de emprego. Para você, o desafio maior é a rejeição pela punição traduzida na relação tempo e uso da camiseta que, de um dia para o outro, lhe abandonou.

O tempo desgasta, mas o tempo também contrasta e, com o amor próprio ameaçado, você vai pra rua à procura de uma nova vitrine, uma nova concepção e porque não de uma nova inquietação?

Afinal de contas, aquela camiseta vivenciou uma história com você, mas já passou, virou pano de chão e outras novas histórias precisam dar vazão a todo este conjunto de sensações, reações e intempéries que somente um ser racional possui.

Ser você depende somente de você. Não é isso que prega os mandamentos do senso comum?

Assim como a camiseta, o amor um dia desbota e precisamos estar oferecidamente ávidos para uma nova história, um novo recomeço e com uma nova camiseta para sair com este futuro grande amor.

7 comentários:

  1. Adorei!
    perfeita a comparação
    Bjkz

    ResponderExcluir
  2. DEMAIS DEMAIS DEMAIS!!!

    Parabéns

    ResponderExcluir
  3. Andréééé?

    Muita imaginação para falar de amor...

    Adorei lindo, sempre sagaz!

    beijocas

    ResponderExcluir
  4. Podemos comprar qtas camisetas outras quisermos mas igual aquela... jamais...

    ResponderExcluir
  5. Nunca tinha pensado numa camiseta como uma história de amor. E nem pensado mo amor como uma camiseta. Texto bacana. Paralelas que se cruzam em... um blog ou nas curvas de um caminho. Parabéns! Vou voltar mais vezes.

    ResponderExcluir
  6. André Luiz Evangelista22 de março de 2012 às 17:43

    Obrigado a todos que deixam publicamente os seus pensamentos....

    Gracias!!!

    ResponderExcluir