Crônicas

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sensações em cativeiro


Existe um certo prazer, algo digno em brincar com as nossas sensações e escolhas. Vivemos insatisfeitos com o que temos, somos seres insaciáveis vivendo em busca, sempre em busca.

Adoramos sentir falta!

Tratamos nossa saudade de forma clandestina, uma espécie de lavagem de dinheiro no quintal dos fundos. A gente finge que nada está acontecendo, mas por dentro tá tudo dando cambalhotas...

Temos libido pela saudade, adoramos a incerteza da presença e o retorno da ausência, isso porque o ser humano aprendeu que exercitar a ausência é uma ótima terapia para quem se fez presente.

A saudade que sentimos não aceita dinheiro a vista, gostamos de parcelar nossas vontades em longas e extenuantes prestações.

E assim jogamos nossas sensações mais profundas no cativeiro... Deixamos ela lá, passando fome e vontade.

Vontades.

Quem nunca passou perto da rua de uma ausência e não sentiu vontade de enviar um whattsapp?

Quem nunca sentiu essa ausência na sala de um cinema? Na mesa daquele bar de esquina? Ao ouvir uma música numa rádio qualquer?

A saudade é irresistível e nos oferta algo que chega quase a suprir a nossa necessidade de deixa-la no anonimato: a coragem.

Nos falta coragem para enviar o whattsapp, para ligar para a pessoa quando a música tocar, nos falta à apresentação da peça, e ficamos – por assim dizer – no ensaio.

O sofrimento é o cinto de segurança da ousadia, entretanto, numa ordem inversa de conceitos, aqui ele não nos protege, nos impede de arriscar, de ver pra crer, de saber o que aconteceria se tivéssemos mandando uma simples mensagem ou feito uma despretensiosa ligação.

A dedução é a musa inspiradora da imaginação e prima de 1º grau da frustração. As oportunidades transcorrem – inúmeras – e a nossa curiosidade insiste em nos assombrar...

Será que não vale a pena pensar com mais atrevimento da próxima vez ao invés de imaginar como seria?

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