Crônicas

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Me conte sobre nós


Me conte sobre nós, ando me distraindo pelas distrações corriqueiras do intrépido cotidiano, por mais insanidade que pareça, estamos sempre nos perdendo de nós e - vez e outra - necessitamos daquela puxada nos pés e de uma âncora amarrada a nossa cabeça.

Firmar o pensamento. É isso.

Me conte sobre nós; fora a reforma íntima sobre as minhas dispersões existe algo que preciso entender, saber, descobrir? Eu mesmo me passo para atrás algumas vezes; sou esquecido, sou prolixo, sou descuidado, mas jamais deixarei de ser um apaixonado.

Me conte sobre nós; sei que as obrigações e responsabilidades que eu mesmo construo me fazem vivenciar uma relação torturante comigo mesmo, parece que eu tenho um prazer sado em perpetuar certos sofrimentos, não é mesmo? Quando tudo está nos trilhos, a gente desce do trem e inverte a bifurcação, coisa de gente grande.

Me conte sobre nós. Me enxergo com certa miopia quando estou angustiado. Me vejo no espelho e tento me notar inversamente, sendo eu próprio porque sei que o espelho é astuto e dissimulado, ele mostra a minha senilidade, mas jamais a minha decrepitude moral.

Eu preciso rejuvenescer os meus valores e me propor ao desafio inóspito de uma revisão punitiva acerca do meu egocentrismo escancarado.

Falar de si mesmo desafia a observação imparcial. É invocar fantasmas, ressuscitar antigas personalidades emergidas de mim mesmo com a finalidade de reunir todos os responsáveis do passado pelas angústias que afloram neste presente, por isso estou aqui, com certo descaramento, mas com muita audácia e atrevimento convidando a pessoa que mais me faz sentir presente nesta sala.


O debate está aberto. Me conte sobre nós. 

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