Crônicas

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Moça, me responda: o que você faz no Tinder?


As desculpas sempre são maiores que os acontecimentos. Catarina deixou de ser donzela em período integral e decidiu seguir o coelho branco.

Ao encontrar o pingente vermelho em forma de chama reluzente, viu ali a oportunidade bater-lhe a ponta dos dedos, geralmente do indicador.

Imaginou encontros pomposos em restaurantes com guardanapos de linho. Imaginou-se também se aposentando da balada (aquela espécie de ambiente teatral notívago que engrandece o ego e potencializa as olheiras).

Imaginou também que todos os subterfúgios que permeavam aquele ambiente repleto de gente carente sairiam de cena (e do bolso também); gastos excessivos com estacionamento, gastos desnecessários com substâncias etílicas que a lubrificavam socialmente, fora os agregados: maquiagem, roupa, scarpins, manicure, pedicure, podólogo, cabeleireiro.

A propósito, toda essa produção para ficar 5 horas ou menos suando diante de um lugar abarrotado e com pouca luz. Compensaria muito mais se fosse para prestigiar a entrega do Oscar, por exemplo.

Enfim...

Entrou no Tinder!

Como toda expectativa gera uma frustração, com Catarina não foi diferente. Sua expectativa a engoliu como a pintura de Francisco de Goya, isso porque a moça tratou de selecionar demais o seu próprio cardápio, uma expectativa de 1.80 (ou mais), que morasse próximo a ela, que tivesse uma carreira profissional resolvida e que não a imaginasse sem calcinha logo no primeiro encontro.

E mais: Que fosse esteticamente bem cuidado. Socialmente bem relacionado e que respondesse positivamente a todas as suas necessidades, todas.

Catarina foi além, além da zona desconhecida das suas projeções em formato de sombras avidamente alimentada pelo seu alter ego.

Tentou uma... Duas... Três vezes e pronto, descambou para o “simulado dissimulado” que todo ser humano inseguro adora por em prática.

- Rejeita por antecipação, tipo adulto adivinhando o que a criança quer, pura dedução baseada na sorte.

- Não deixa espaço para explicações, vai logo tratando de julgá-lo por traumas oriundos de outras frustrações amorosas.

- De aplicativo das probabilidades para achismo das possibilidades matemáticas:

Foto só de rosto significa que é gordo. Poucas fotos significa que é feio. Fotos com amigas é mulherengo, perfil sem propósitos significa falta de inteligência. Fotos na academia é narcisista. Fotos com óculos de sol é um feinho tentando ser atraente.

Tudo bem tudo bem, salvo algumas bizarrices existentes, eu te pergunto: E a foto que você tem na frente da Torre Eiffel? E as fotos de biquíni? E as fotos em preto e branco?

Quando as desculpas são maiores que os acontecimentos, não será um “match” que te fará subir a um altar, mas serão alguns critérios e julgamentos que te farão comer pipoca vendo telecine num sábado à noite.

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