Crônicas

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

História de uma história


Enquanto os meninos de 13 anos pedalavam em suas Monarks, ele, também aos 13 anos, já pedalava com suas pernas ágeis por cima de uma bola de capotão na várzea do estádio de São Cristóvão...

Ainda menino já era ousado, astuto e folgado. Um instante arquitetado, um momento suspenso em nossas expectativas: “O que ele vai fazer? Já? Gol!

Quem estava a sua frente afirmava em tom eloqüente: Estamos de frente de uma pessoa diferente.

Esses “seres diferentes” possuem cadeira cativa diante do Universo e da sua relação física entre tempo e espaço.

A relação entre tempo e espaço transforma deuses em soberanos, homens em heróis, um anônimo em fenômeno.

Há um momento suspenso no vazio do tempo, nesse caso, há um toque de genialidade presente em cada jogada. Mestre da arrancada, gênio do drible, referência para todas as aderências...

Usou a direção para direcionar a sua paixão. Conduziu a bola com exatidão e fez dela o seu instrumento rumo ao derradeiro objetivo: A jogada perfeita... O chute certeiro... O gol!

Seria a bola a sua paixão insólita?

A paixão em fazer o que se ama cria uma performance incompreensivelmente pitoresca. O prefácio é empolgante, o meio é uma incerteza entusiástica e o desfecho, como saldo, termina por fim, empolgando e entusiasmando outras pessoas...

No mundo da bola, cidadão do mundo. Como figura humana, figurou as emoções humanas com sublime maestria. Como eleito, fez o que foi convocado para fazer. Missão: balançar o barbante. Vocação: Ofertar emoção com muita vibração.

Com a bola, num piscar dos olhos a fechar, o tempo pra pensar e o espaço pra ocupar diante do adversário incompetente ao vê-lo passar.

Em 1994, ainda como um aspirante a estrela, assistiu as estrelas de sua equipe brilhar. Pegou gosto pela coisa, pegou a manha pelo que viu e esperou a sua vez chegar...

Carinho apoteótico!

Assim como Garrincha, Pelé e Romário, ele também teve a sua Copa (o seu repasto de glória) e em 2002 ele dançou com a bola, fez bonito, fez história!

Fez do apelido, sobrenome. Das quedas, um simples pronome.

O tempo passou e a idade (inefável) chegou...

A bola insiste. Frente as suas dores ele desiste. A alegria persiste. Persiste porque assim como ele, brasileiro nunca desiste. Seguimos em frente com o que temos de ferramenta para recordar seus feitos mirabolantes e históricos. Deus abençoe o You Tube!

Pese o que pesou (e é bom que tenha pesado o que pesou) é com um enorme pesar que o futebol se despede de um iconoclasta ambidestro onde fez dos campos a sua platéia, das chuteiras a sua epopéia, da sua jornada a sua odisséia.

Pese o que pesar e apesar dos pesares, o futebol sem um certo Ronaldo Luis Nazário de Lima é apenas um imenso quadrado verde, com uma bola e 22 chuteiras pra cada lado.

Pese o que pesar, antagonicamente ao seu significado, "pesar" em sua magnitude fenomenal, significa simplesmente “flutuar”.

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Uma homenagem digna e a altura do que ele representou. Lindo texto, poético.

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  3. Homenagem justa à um gde homem da bola.Diferente dos demais, continuou humilde, diferente dos demais , sempre com falas reservadas e justas.
    Fica um vazio sim, nos campos de futebol do mundo.Fica em nós o orgulho dele ser dos nossos.

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  4. belo texto André, amei!
    cada um constrói o seu percurso e é construido por ele, há momentos que somos o proprio caminho
    abraços
    re

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  5. O cara jogou demais. Não só corintiano mas confesso que até no Corínthians ele teve a sua glória, os gols, as jogadas..... a sua presença em campo.

    Abs a todos

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  6. Belissimo texto Andrézinho!!!parabéns mais uma vez!!!
    O Ronaldo soube explorar seu potencial...deu show...fez bonito e hoje se despede encerrando um ciclo para dar inicio a outro!!!
    A idéia é essa... encerrar sua carreira enquanto o seu melhor ainda está em alta... enquanto as pessoas enxergam seus grandes feitos

    O publico tem em seus idolos a imagem de deuses... como se eles não errassem nunca... como se não fossem humanos... e se os mesmos se atrevem a lutar até a último instante... cobram dele a perfeição... mas, como humanos isso é simplesmente impossivel...

    Então que seja assim... encerrar a carreira enquanto a lembrança é recente... é melhor sentir essa saudade, do que ver o jogador brilhante envelhecer e pela força da natureza não ser o mesmo herói do inicio de carreira...

    Tudo tem seu tempo... e como jogador o Ronaldo soube aproveitar muito bem!!!
    Parabéns pela bela homenagem!!!

    beijo grande.

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  7. Eu não imaginava o quanto doce era o Ronaldo, um ser humano incrível e exemplar.

    Ví a matéria dele hj no Faustão e me emocionei.

    Seu texto tb é muito humano, sinto que isso vem do coração, falar dele, assim como vc.

    bj grande

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