Crônicas

terça-feira, 4 de junho de 2013

Desapego, o indulto obrigatório



Temido durante anos, o monstro de Frankenstein infligia respeito aproveitando-se da sua horrenda aparência, todavia, ela só poderia ser vista se algum morador curioso abandonasse o vilarejo para se arriscar no alto das colinas.


O tempo passou, o crescimento chegou e com ele a construção civil e suas promessas transformando todo aquele vilarejo em concreto...

Passaram-se mais um tanto de tempo e a construção civil, que já não era mais novidade alguma, deu vazão a construção viril. Isso mesmo, o homem - ser pretensiosamente racional - confundiu virilidade com vaidade, amor com mediocridade e com isso, desencadeou a indiferença globalizada.

Aliado ao crescimento de inúmeras possibilidades culturais, as redes sociais e ao smartphone, criamos uma nova linguagem comumente usada pela sociedade de "é o que tem pra hoje".

Colocamos nossa fragilidade e o medo em se expor devidamente aquecidos num local seguro, entretanto, descongelamos o vírus nocivo da harmonia: o desnivelamento.

Sim, descongelamos porque ele sempre habitou a humanidade, só precisava ter os seus 15 minutos de fama. O que agravou a situação foi que - novamente - o homem - ser pretensiosamente inteligente - fez questão de dar o papel principal do espetáculo ao desapego, tornando-o um popstar dos palcos e foco constante dos holofotes, dirigido e coproduzido pela Sra Vaidade.

Quem dera o desapego fosse apenas um delírio outrora cultivado na época do "esconde- esconde" e do pogoball.

Mas onde surgiu este tal de desapego? A massa e a sociedade “wanna be” adoram levantar a sua bandeira por meio de banners e frases “a la Clarice Lispector”. Mas onde surgiu esta modalidade superpop?

Vaidade, desapego, desnivelamento. Palavras que são expurgadas por poucos seres, tão poucos que dariam para remontar o vilarejo mencionado no prefácio deste pequeno texto proveniente de uma insônia repentina.

Um dado hilário diante de toda essa interseção de oportunidades é que trocamos o desapego pelo apego nos momentos impróprios: Nos apegamos quando nos sentimos culpados e nos desapegamos quando somos cobrados.

Não se apegue!

E também não ponha a culpa no pobre cupido. Como que a sua flecha perfuraria o escudo de aço que você criou para se defender do receio em ser feliz?

A maneira mais digesta de encará-lo é pensar que o desapego é um indulto obrigatório, um mal necessário... Pense nas coisas ridículas como Controlar, IPTU, IPVA. Amortiza a incompreensão.

Incapazes ou não, desaprendemos, e não sobra mais paciência para novas catequeses. Viramos CDF nas ciências exatas, mas no fundo preferiríamos a inexatidão das humanas. Erramos na matrícula!

E como todo processo acadêmico implica em escolhas, resta pensar na bifurcação das nossas renúncias:

As pessoas não permitem mais a idealização de algo eterno acreditando que é possível "ser pra sempre.”

Ou:

Tem situações que não te servem; até você ser maduro o suficiente para compreendê-las.

2 comentários:

  1. Muito profundo e inspirador! Abençoadas noites de insônia!!! ... que nos "acorda para dentro de nós mesmos...e faz emergir através do que fazemos melhor, expressar em palavras sentimentos de altíssima reflexão, descobertas necessárias...verdadeiros potes de ouro, que estavam bem ali...dentro do coração ... já transformado em sabedoria. Muito prazer em ler ... Silvia Russo (fotógrafa, caso queira referências).

    ResponderExcluir
  2. Seja muito bem vinda Silvia.... Este espaço é para todos refletirem, indagarem e questionarem....

    Obrigado, volte sempre!

    ResponderExcluir