Crônicas

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Preposições e suas posições


Minha cama se transformou em um divã.

Após a realização lascívia de um desejo carnal, os movimentos gesticulados em ritmos frenéticos dão vazão aos movimentos da fala confessada sobre diversos assuntos, a seguir:

Insatisfação profissional.
Complicações com ex-maridos.
Fobias sentimentais.
Manias fixas reveladas.

Me pego em constante reflexão:

Me tornei um analista de assuntos aleatórios cuja sessão não começa com as saudações rotineiras do dia a dia, e sim, com olhares efusivos, puxões na cintura, lambidas na orelha e sexo fervoroso.

As reclamações com o chefe dão vazão aos pecados semi frescos. Os tabus dão lugar às taras. As fantasias se divorciam dos receios. Nos devoramos entre olhares, discursos indecentes ao pé do ouvido e todos se tornam cúmplice.

Nenhuma agenda ou compromisso supera em importância aquela terapia pós-coito.

Existe uma certa timidez inicial, mas em alguns parágrafos (quero dizer, frases) a vergonha dá lugar ao contentamento.  

Os vizinhos não diferenciam os gemidos das longas intersecções dialogadas, conceitualmente falando.

Aceitamos um pacto de cordialidade, uma trégua confidente proveniente de um bem estar improvável e surpreendente, debilitando as fraquezas egoístas das desculpinhas para ir embora o mais depressa possível.

Nada conduz para um espírito de culpa, transformamos as responsabilidades usuais do cotidiano em distrações – aqui – só não é permitida a entrada de projeções, expectativas ou a hipótese de se pensar no amanhã.

Rejeito o autoconvite porque acho libidinal o anfitrião convidar a ser convidado. Ignoro intenções de apego, porque me completo muito mais estando só do que compartilhando integralmente uma vida por outra vida.

Acusações? Eu sarcasticamente finjo que não é comigo, porque a cobrança só deve existir na hora de pagar a conta, proferida pelo garçom, obviamente.

Beijos não são contratos, mas devem ser longos feito beijo em banco de praça.

Sexo não é promessa, mas deve ser feito sem o comprometimento de barreiras psicológicas ou mimimis. Merecimento de um momento!

Minha cama se transformou num divã. Perder em tempo é ganhar em felicidade. 

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