Crônicas

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Aposentos ambíguos


Na solidão prazerosa e barulhenta dos meus movimentos encarcerados dentro da minha casa, eu descubro um novo aposento.

Este aposento não vivia aqui, era uma espécie de universo paralelo e paradoxal às minhas intenções vividas neste meu mundo. Um aposento aparentemente ambíguo.

Um mundo de enfrentamentos, no entanto, pautado por mecanismos repetitivos de busca, de exaurimento e de satisfação imediata por aventuras breves que reverenciavam o Ego, mas abandonavam o amor próprio.

Me procurava, fazia questão de me perder novamente e por vezes achava que me encontrava; vivenciava amores modernos com problemas antigos, paradoxal, não?

E nesse pega-pega com nuances de esconde-esconde eu notava um dado de realidade diante desse mundo lúdico: Como é fácil a gente se esconder de nós mesmos, somos exímios atores interpretando uma peça de meias verdades e de mentiras inteiras.

Notei - diante dessa apresentação teatral - que muitas me aplaudiam, levantavam de suas cadeiras e sorriam com certo orgulho. Idolatravam a peça, o texto e o roteiro, mas de fato, gostavam mesmo da condição fixa de serem apenas a expectadora, sentadas num sofá preto tomando um bom vinho.

De repente, como um portal se abrindo – típico dos desenhos do He-man – este mundo com novas intersecções se mostra para mim; convidativo, altruísta, filantrópico e insólito.

Quatro adjetivos que prefiro soma-los a apenas um: O amor.

Entender o amor não é complicado, saber manejá-lo é que envolve sensibilidade, coragem e bravura para adentrar neste universo cheio de depurações e emoções.

Neste aposento, descubro o corpo de uma mulher; dócil e voraz, passivo e inquieto, pueril e malicioso, que me transmitem sensações intensas e por vezes antagônicas, como a edificante arte de estar vivo.

Neste aposento, eu aceito a potência dos meus sentimentos sem embargar os meus medos e receios. 

Aceito a ventania de pé e me permito à cegueira momentânea de encarar tais reviravoltas de frente.

A minha quadra se enquadra, meu mundo se unificou ao dela feito o início do Planeta Escola que habito – e o que é melhor – neste aposento – não guardo mais incoerências no criado mudo e as neutralidades pretéritas do mundo que abandonei não me fazem mais sentido.

Os que viviam o mundo que eu vivia podem até nos chamar de exagerados ou de incompreendidos, mas em nosso mundo, a covardia, a competição e o egoísmo não possuem visto, aqui só entra o que promove o riso.

Simples, assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário