Crônicas

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Réus Confessos


A nossa mania de perseguição é a curiosidade. Embora seja fascinante desvendar o que nos desperta interesse, isso pode ser letal...

... E foi.

O crime se deu há alguns meses atrás, quando a vida já não oferecia – aparentemente – nenhum risco e tudo se conjecturava em peças teatrais ensaiadas com roteiros formatados...

Idealização é a punição para quem espera demais; um completo desalinhamento entre “ganhar” e o “desejar”.

Por isso, sabotei a minha inércia e me propus ao risco da curiosidade.

No início confrontei-me com meus muros - aos poucos – o suor de pular estes muros deu lugar a um cenário propício para o logro de um delito. Ceguei minhas contenções. Calei minhas verbalizações e trancafiei minhas hesitações:

Fui sem compaixão, sem pena, sem dó nenhuma. Me transbordei de desejo e ignorei por completo os escrúpulos da minha sanidade.

Também pudera, tamanha vontade depositada foi amplamente justificada em detrimento de uma cúmplice, uma conivente a tudo que lhe foi ofertada neste cenário sedutoramente convincente.

Ela compactuou com cada gesto, cada plano, cada pulso, cada transpiração... Descobriu-se em si mesma uma notável capacidade de ir além da sua zona de conforto. Permitiu-se a um mundo que - até ali – na execução primária de suas ações – era algo extremamente inédito em sua vida.

Sentiu-se – assim como eu – uma sensação de vivacidade, de tenacidade, como uma pessoa que escapa da morte, como um atleta que bate um recorde mundial... Como uma criança descobrindo a fala.

Acreditamos na impunidade dos nossos atos e não nos bate nenhuma natureza de remorso ou constrangimento pelo que fizemos, somos réus confessos pelo crime que cometemos.

Matamos nossa vontade e simplesmente morremos de amor!

Não envolvemos terceiros, não deixamos rastros, marcas, digitais, simplesmente morremos de amor.

Hoje, vivemos uma vida além da vida, simplesmente porque morremos de amor.

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