Crônicas

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ilusão recalcada


Sabem por que a vida nunca acaba?

Ninguém quer ser o primeiro a chegar a algum lugar... Ninguém quer ser o desbravador de uma caverna subterrânea ou regiões incultas pelo homem... Ninguém quer ser o pioneiro em sua vocação, o precursor em seus propósitos de vida ou o dianteiro em suas conquistas...

... Isso é função para os que se limitam a fazer honras imediatas, a serem heróis por um minuto e a cravarem seus nomes nos anais da história.


O acaso tem seus sortilégios, a necessidade não!

Sabem por que a vida nunca acaba?

Ninguém quer ser o primeiro beijo na vida de alguém... Ninguém quer ser o primeiro nos lençóis da vida de alguém... Ninguém quer dar o presente mais inesquecível, o fora mais desconcertante, o adeus mais agonizante, a notícia mais aguardada... Ninguém quer ser protagonista pra nada!

Ninguém quer ser o primeiro amigo.

Sabem por que a vida nunca acaba?

Não nos interessa ser o primeiro, e sim o último!

Temos um segredo inconfessável em sermos o último a passar por aquele lugar que tanto nos arremessa para lembranças inebriantes.

Temos uma vontade incontida de sermos a última visão na vida de outrem, não importa se o mesmo esteja indo morar fora, ou mesmo num leito de hospital.

Temos uma paixão-quase-amor em sermos os posteriores, em seguirmos a ordem do tempo até que o tempo se torne uma mera questão de tempo.

Somos ávidos a visitar o que já foi visitado, a testar o que já foi ensaiado, a provar o que a audiência endossou...

Somos instantes que necessitam de estantes. Queremos a exclusividade, não a casualidade. Queremos a continuidade, não a atualidade.

Estamos entre a sobrevivência insossa e a vida extasiante, só depende de nós, e sabem por quê?

Porque somos uma vaidade indispensável, uma insegurança arrebatadora. Seres distraídos por nossas buscas efêmeras e por nossos desejos infinitos – entretanto - existe uma maneira de perpetuar o eterno: 


Insistir, confrontar, questionar, reivindicar, debater, tentar incansavelmente, construir e demolir.

A gente só eterniza nossos momentos como uma fotografia a partir do instante em que persistimos arduamente sem se dar conta da sua própria eternidade.

Sabem por que a vida nunca acaba?

Porque somos instantes que se renovam para que os nossos melhores momentos nunca cheguem ao fim.

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