Crônicas

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Esforço sem reforço



O único esforço que um homem apaixonado deve fazer com a sua amada é justamente se esforçar para diminuir o esforço.


A escrita acima não é para seguir a moda dos “versos inversos” que hoje tramitam qualquer documento de word ou pelas redes sociais, é, de fato, uma “quase descoberta”.

Para um homem apaixonado (eu disse apaixonado) a anatomia passa por uma espécie rara de “tsunami organizacional biológico” onde a residência do coração não se limita apenas à caixa torácica e sim a todo corpo; da ponta da unha do mindinho até a ponta daquele inédito fio de cabelo branco.

Shakesperianamente falando, isso é um alento para qualquer conto de fadas ou de puro romantismo, mas na vida real, tudo que é repetitivo provoca enjôo, talvez seja este o motivo que o lugar apropriado dos livros de fábulas seja realmente as estantes das livrarias e não a bolsa da Le Lis Blanc carregada por ela.

O homem apaixonado é um anestesiologista nato!

O homem apaixonado não leva uma vida leve; carrega consigo uma tonelada invisível, porém pesadíssima de angústias, inquietações e incertezas, além de viver em confronto constante com a sua incapacidade de estabelecer vínculos passivos.

É fácil se apaixonar, mas o homem calado ama na penumbra do anonimato; ele confessa o seu amor incondicional em frases bem elaboradas, textos bem escritos e ações notáveis de carinho e sensibilidade, mas camufla metade desse exagero porque conhece os desencantos do excesso...

Negamos as aparências, disfarçamos as evidências.

Mas aí, quando você acha que encontrou a macieira ideal para sentar e confessar suas lamúrias e lamentações sobre seus fracassos no amor, surge um burro (personificação do teu anjo da guarda, estafado das tuas cabeçadas) e te dá um coice – sim - um doloroso e inesperado solavanco que te arremessa para uma outra tonificação.

E, seguindo o “teorema do impulso”, você nota que a força vetorial exercida pelo coice do mamífero da família dos Eqüídeos exerce uma outra força em você: A força de vontade... Princípios básicos da física.

Esse deslocamento de “massa glutinal” te desperta para um campo florido de novas azaléias e girassóis que sorriem com essa sua nova percepção de vida...

Aí você encontra:

Um espaço pra chamar de seu. Um script pra protagonizar de seu. Um silêncio pra escutar de seu. Inspirações pra mergulhar de seu.

O que nisso pode dar?

Uma linda e transitória história.

2 comentários:

  1. Linda a sua prosa poética, André,
    é isso mesmo, amar sem esforço é leveza que brota de pesos invisiveis, fardo sagrado e ingrato, mas, desafiando todas as contradições, estar apaixonado é uma dádiva!
    abraços desta amiga capixaba
    renata

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