Crônicas

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Silêncio confidente




Ele acompanha uma palavra sussurrada ao ouvido. Presença irrefutável no prefácio de um amor e na obra completa de um “best seller”. Transmite milhões de significados, sensações e desejos, basta querer pra acontecer...

Ele é tão soberbo que inventou uma linguagem própria, única e indivisível. Recriou a história, escravizou nossa fala, porque sem ele nossos vocábulos são nulos e nossa fonética se torna insossa e sem brio.

Ele provoca reações em quem o recebe e pode alterar por completo o curso do seu caminho. É perigoso, voraz, determinado, fantasioso, inebriante e conquistador... E tudo isso depende simplesmente do seu autor.

Tento mensurar, mesmo que hipoteticamente, a falta que ele faria: Sem ele não haveria contentamento, admiração nem adoração. Não haveria dor, não haveria calor muito menos pudor. Sem ele, a natureza eminentemente literária das nossas pontuações gramaticais subsistiria: Como indagar, questionar, perguntar ou exclamar sem um simples olhar?

O olhar é a presença máxima da nossa existência e o coração só bate descompassado por conta do olhar, e por conta da beleza que ele contempla!

Não existe sedução sem o olhar e sem a poesia que se faz dele!

Olhar realçado, olhar recatado, olhar censurado, olhar tímido fazendo manha... Esses são (no meu olhar) as formas mais belas de se olhar.

Mas tem outros.

Um olhar displicente que busca o perdão em outros olhos. Um olhar misterioso que provém centenas de más intenções. Um olhar de pura comoção aflitiva ao ganhar uma homenagem literária... Enfim, são tantos.

Entretanto, nada é tão secular quanto os formatos de admiração de um olhar, e o mais fascinante nisso tudo: Não vem gratuitamente como Mc Lanche feliz ou promoção de bolo Pullman... Pra conseguir a tão almejada mudança no olhar que se pretende conquistar é necessário pontuar, acumular milhas, juntar adjetivos, step by step, day by day.

Nada é tão promissor que encontrar dificuldade em conquistar. O desencontro dos olhares com a facilidade deve ser algo permanente.

O olhar relata as intenções de todos nós. Denota e entrega os desígnios e os sentimentos na mais pura clareza da verdade. Entretanto, a obra prima e arrebatadora de um olhar só cria força em conjunção estelar compartilhada com outro olhar, porque não existe coisa mais prazerosa na vida que ter um par de olhos a te acompanhar... 

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