Crônicas

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Paixão é descanso. Amor é trabalho



A rotina é o algoz da permanência e a alforria da reciclagem. Nos divorciamos da tolerância.

Ninguém tem mais paciência com a última porta batida, o último tapa na mesa, a saideira com os amigos após uma discussão...

Par perfeito tem um monte por aí dando sopa, difícil é achar o par suportável.

Paixão é descanso. Amor é trabalho. Não queremos uma primeira vez, mais de uma vez.

O ar está rarefeito para o amor, por isso, a maioria prefere envolvimentos menos densos, mais respiráveis e menos autênticos. Ninguém mais perde tempo ensinando, todo mundo quer achar o voluntário com PHd nos lençóis e MBA na conquista.

Já dizia Isaac Newton: “Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento.” Talvez aí esteja a razão de tanta incompetência: Cansamos do ineditismo da descoberta.

Aliás, muito aliás, além do desinteresse pela descoberta, nós já nos apresentamos com o nosso manual automatizado debaixo do braço, ou seja, facilitamos todo o mistério para o interessado e assim, deixamos de ser surpresa para sermos mais uma leitura com final previsível.

Nós somos mais óbvios que placa de trânsito.

Em poucas horas é possível descobrir tudo, porque o tudo se editou em três estágios:

- Troca de olhares.
- Frases ensaiadas.
- Atalho para a cama.

E assim nos transformamos em frutas, espalhadas na quitanda ou em produtos pendurados em uma gôndola qualquer.

Puritanismo? Falso moralismo? Sexismo?

Não não, vivência no circo mesmo. As críticas existem embasadas no que se quer da vida, no atual momento e no enlace que você se depara consigo mesmo. Se você se ama, você não precisa disso.

Mas carregamos dentro de nós uma suspeita vontade de ludibriar a solidão, o medo de estar só num sábado à noite em pleno verão, isso assusta. Dá calafrio imaginar que tem um mundão lá fora tomando todas e trocando fluídos e você lá, de bem com a TV e a almofada do sofá.

Não tá na moda sofrer, é démodé. Melhor é estampar um sorriso, desfilar por cima do sofrimento e vestir-se de um conto de fadas qualquer, afinal de contas, o show não pode parar, e você nem faz tanta questão que ele pare.

4 comentários:

  1. André, adoro seu blog. Faz um tempo que venho acompanhando, mas nem sempre consigo comentar. Tem várias coisas que eu gostaria de falar (concordar) contigo sem ser chata, redundante ou repetitiva. Você meio que já disse tudo, mas me nego a fechar a janela e sair daqui sem manifestar o que essa minha alma inquieta tem a dizer.

    Eu sou do tempo dos meus pais, dos meus avós, até dos bisavós. Eu sou da época em que ainda se pega na mão, dá um beijo nos olhos, cheira o cabelo do parceiro, ou se aprecia um bom silêncio ao lado de alguém de quem se gosta. E não está fácil encontrar pessoas que tenham esses mesmos gostos simples, tão fáceis de fazer, mas que estão tão em desuso. Eu acho (apenas acho) que muito do que acontece hoje é culpa da internet e da mídia (óbvio), de como as informações são veiculadas e do mal uso que se faz disso. As pessoas se espelham em figuras fantasiosas, de corpos esculturais, gente que tem dinheiro e bens materiais. Se espelham em casamentos de mentira, em namoros superficiais; parecem que querem provar por toda lei que estão bem, querem causar inveja. Quanta autodestruição. Quanta ostentação. Isso me cansa demais.

    Outra coisa que eu vejo e que influencia muito nesse nosso modo de ser de hoje, é que tudo corre a uma velocidade absurda e com isso as pessoas deixam de querer esperar. Esperar pra descobrir, esperar pra conhecer, esperar o tempo de alguém ou seu próprio tempo. A percepção do homem sobre o tempo mudou muito. Já não se espera mais nada, é tudo pra ontem e por isso o medo de tanta gente de ficar sozinho num sábado a noite, comendo uma pipoca com o velho travesseiro. Só que há um problema ainda mais profundo, na minha opinião: as pessoas não gostam de si mesmas o suficiente pra saber que não é o primeiro que aparece que preciso contar toda a história da minha vida, não é todo sábado a noite que preciso sair pra beber e aproveitar, tampouco preciso dormir com alguém logo de cara por medo de não ter outra oportunidade. Acho que falta autoconhecimento para as pessoas. Nos conhecer faz com que paremos de querer ficar com alguém pelos motivos errados, porque é isso o que eu mais vejo por aí.

    Enfim... ando insatisfeita com as pessoas. Já não se faz gente como antigamente. Como Fernando Pessoa já disse: "arre, onde é que há gente nesta terra?"

    Acho que ninguém reparou, mas as pessoas gostam de pessoas que gostam de si mesmas.

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  2. Me sinto enobrecido em ver que meus desabafos, em forma de literatura, impactam, influenciam e deixam pessoas como vc a vontade para se manifestarem... Muito bom saber disso... Siga o Ideias no Almaço no Facebbok e deixe um recado por la.... Ah? Concordo contigo; autoconhecimento é tudo!!!

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