Crônicas

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Admirável nostalgia



Difícil recordar o primeiro tombo de bicicleta. Custo a lembrar se eu gostava mais do Ferrorama XP 1500 ou do Atari 1600. Demoro a pensar em como eram meus primeiros dias de aula (embora a má vontade seja inesquecível em enfrentá-los)...


Lembro-me das incursões amorosas com um certo entorpecimento libidinal, logo aos 16 anos, assim como lembro das namoradas que tive (por uma questão de mérito da parte delas em permanecerem comigo por mais de 3 meses)... Não que eu fosse chato, mas era solúvel demais!

Para meu infortúnio (ou não), esqueci de muita coisa pelo caminho, mas não esqueço o melhor amor que tive.

Aos 13 anos?

Não. Isso era o afloramento do interesse por outra pessoa onde o orgulho se restringia somente em caminhar de mãos dadas no pátio do colégio.

Aos 16 anos?

Não. Isso era a ingenuidade pegando um trem rumo ao Tibet. O target aqui era a inauguração debaixo dos lençóis.

Aos 21 anos?

Custei a pensar sobre essa idade, mas também não, não era amor. Era o exibicionismo aguçando as forças viris da idade que me cabia. Pura recreação entre o status e o desfile diante dos amigos.

Aos 27 anos?

À medida que nos calejamos, definimos com mais exatidão os sentimentos que nos rondam. Não existia amor, existia certa cumplicidade, deficiente para nutrir uma paixão, sequer um verdadeiro amor.

Aos 33 anos?

Nessa idade é mais fácil nos confundirmos do que propriamente nos apaixonarmos. É o final da epopeia da boemia, das farras, das conquistas descabidas e desenfreadas... Você procura algo para se encostar como se fosse uma aposentadoria na espera de colher os júbilos no final da vida (desculpem o hiperbolismo), enfim, não, também não era amor.

Releio esta crônica e noto o quão árduo foi o caminho até encontrar aquela passionalidade tímida, generosa, sutil e por vezes agitada de um amor...

Mas não se deve inclinar a cabeça para baixo e se jogar na vida dissoluta. O amor é o nutriente de qualquer ser vivo, até mesmo o coração de Drácula pulsava, gelidamente, mas pulsava, contradizendo por meio de um romance que o amor resiste a vida, e a morte.

Enfim, meu amor veio aos 37 anos, mas não ousem me perguntar as emoções que ando vivendo, pois ainda me encontro em plena levitação; um estado inexprimível que possui duas consoantes, duas vogais e duas pessoas inteligentemente dedicadas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Colecionando paradoxos


Aconteceu como se fosse um dedo afoito dando F5 pra ver a notícia seguinte... Rolou tão rápido como uma clicada no “News feed” do Facebook para ver as novas paródias da minha timeline...


Aconteceu tão depressa que nem a minha imaginação sonhava. Estava grávido e não sabia, simplesmente eclodiu!

Ainda não tenho prática, to andando e só vendo... Vendo com os meus olhos.

Me sentia um “meio macho” antes dessa mutação, não que eu dominava as habilidades de um carro, ou que sabia ser grosseiro ou sem classe (acho horrível homem que coça o saco como uma atitude comportamental de virilidade)... Ou mesmo aqueles que tomam anabolizantes e desfilam pelados em meio a um vestiário de academia sem notar suas próprias deformidades genéticas... Ou anatômicas.

A sensibilidade é a pós graduação da minha conquista.

Então... Eu ainda... Preservo... Meu lado “meio macho”!

Mas o tema não é bem este. Ultimamente venho descobrindo uma outra metade (que não está associada ao “meio macho”... Um lado meio “Indiana Jones”, “arqueologando” mais, “historiando” mais, “dialogando” menos. Fruto de me enredar demais em mentiras ou em meias verdades, o fato é que somos um conjunto de experiências passadas, cada qual com suas ideias inatas.

Talvez a outra extremidade do “meio macho” tenha ficado para trás com a aquisição das novas tonificações... A outra metade era masoquista; gostava de se prejudicar só para ser forçado a mudar.

O andar vazado me dá a condição de dispensar minha visão de raio-x para assistir uma morte lenta e dolorosa das minhas confusões emocionais, das teimosias de uma criança endiabrada e de um macho que na verdade sempre foi meio macho porque não deixava o homem assumir a outra metade. Complexo, não?

Aqui não tem playground, mas a criança - que antes dominava minhas ações por não ter um ambiente de diversão definido – tem piscina, academia e solarium pra se divertir a vontade, sem ter que tocar o meu interfone.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Esforço sem reforço



O único esforço que um homem apaixonado deve fazer com a sua amada é justamente se esforçar para diminuir o esforço.


A escrita acima não é para seguir a moda dos “versos inversos” que hoje tramitam qualquer documento de word ou pelas redes sociais, é, de fato, uma “quase descoberta”.

Para um homem apaixonado (eu disse apaixonado) a anatomia passa por uma espécie rara de “tsunami organizacional biológico” onde a residência do coração não se limita apenas à caixa torácica e sim a todo corpo; da ponta da unha do mindinho até a ponta daquele inédito fio de cabelo branco.

Shakesperianamente falando, isso é um alento para qualquer conto de fadas ou de puro romantismo, mas na vida real, tudo que é repetitivo provoca enjôo, talvez seja este o motivo que o lugar apropriado dos livros de fábulas seja realmente as estantes das livrarias e não a bolsa da Le Lis Blanc carregada por ela.

O homem apaixonado é um anestesiologista nato!

O homem apaixonado não leva uma vida leve; carrega consigo uma tonelada invisível, porém pesadíssima de angústias, inquietações e incertezas, além de viver em confronto constante com a sua incapacidade de estabelecer vínculos passivos.

É fácil se apaixonar, mas o homem calado ama na penumbra do anonimato; ele confessa o seu amor incondicional em frases bem elaboradas, textos bem escritos e ações notáveis de carinho e sensibilidade, mas camufla metade desse exagero porque conhece os desencantos do excesso...

Negamos as aparências, disfarçamos as evidências.

Mas aí, quando você acha que encontrou a macieira ideal para sentar e confessar suas lamúrias e lamentações sobre seus fracassos no amor, surge um burro (personificação do teu anjo da guarda, estafado das tuas cabeçadas) e te dá um coice – sim - um doloroso e inesperado solavanco que te arremessa para uma outra tonificação.

E, seguindo o “teorema do impulso”, você nota que a força vetorial exercida pelo coice do mamífero da família dos Eqüídeos exerce uma outra força em você: A força de vontade... Princípios básicos da física.

Esse deslocamento de “massa glutinal” te desperta para um campo florido de novas azaléias e girassóis que sorriem com essa sua nova percepção de vida...

Aí você encontra:

Um espaço pra chamar de seu. Um script pra protagonizar de seu. Um silêncio pra escutar de seu. Inspirações pra mergulhar de seu.

O que nisso pode dar?

Uma linda e transitória história.