Crônicas

domingo, 11 de maio de 2014

Duas consoantes e uma vogal


Jamais – e digo isso por toda gramática – houve tamanha conjunção afetiva e amorosa entre duas consoantes e uma vogal, rompendo paradigmas de que a fidelidade pra ser digna necessita de um romance entre dois, não entre três.

Aqui, nessa união fraterna de palavras, frases e intenções, vamos apelidá-la temporariamente de “trio”.

Um trio que – muitos milhares de anos – antes de qualquer escravidão, ditadura, preconceito ou dogma, já sobrepujava estes protocolos banais, afinal de contas, por que tudo pra ser lícito ou correto precisa ser praticado no plural?

Eis a prova cabal do quanto este trio nos encanta despretensiosamente e, muitas vezes, querendo não querer.

Uma benção mental:

- Um trio que inventa necessidades constantes para ser reconhecido, assim, novamente.

Um descuido sempre cuidadoso:

- Nunca se distrai com as regras e faz questão de reclamar até mesmo quando não tem a razão (se é que não tem).

Uma cautela exageradamente moderada:

- Evita elogios para não estragar o “não elogiado”.

Uma vontade decodificada:

- A sua lista de chamada consiste na saudade, as críticas sempre acompanham a vontade de estar junto, ou aquele nosso sumiço repentino de 48hrs.

Conselheira inesgotável:

- Nos avisa sempre para: Vestir sempre um agasalho a mais. Pegar o último bife da travessa. Ligar para as tias nos respectivos aniversários.

Defensora incansável:

Sempre expõe nossos defeitinhos para as visitas, mas ouse reclamar ou fazer qualquer crítica de nós para ela.

Um silêncio falante:

- Sua ausência de diálogo nos provoca frio na espinha e mão suada denotando que fomos descobertos por aprontar alguma traquinagem que nossa vã soberba achava que isso jamais seria possível.

Lancheira. Metiolate. Danoninho. Hipoglós. Toddynho. Beijo na testa.

Intersecções que não se estabelecem como pontos cruzados e sim como um conjunto composto de elementos comuns, mas que se divergem de vez em quando só para manter a harmonia dessa composição.

E já que falamos em intersecção de três letras, que tal uma análise matematicamente morfológica?

M+A+E = O nosso mais amplo significado de existência.

E o início de qualquer alegria é saber que mãe não tem fim, por isso ela é inédita diante de qualquer rotina.

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