Crônicas

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Cordialidade inóspita


Algumas histórias se reparticionam em vários episódios, como se fossem capítulos dentro de um único seriado e ainda na mesma vida... Outras possuem uma continuidade que ultrapassa outras vidas, ás vezes nascem na mesma época, ás vezes se desencontram na erraticidade...

Pois bem.

Com exceção da era Paleolítica, onde os homens não faziam janelas em suas cavernas, a humanidade desde que descobriu a necessidade de se relacionar, sempre teve duas lendárias escolhas de interesse mais sério: Janela ou porta.

Após uma bem sucedida aproximação, o desejo de ir além acontece naturalmente e você busca amplificar essas condições, seja à espera paciente de um convite (entrando pela porta da frente), ou burlando os protocolos e nutrindo sua ansiedade pela alternativa mais rápida: a janela.

Tome nota: Não existem relacionamentos que começam pela porta dos fundos, você está no canal errado.

Analise:

Entrar pela porta necessita de conquista e de aceitação; tem todo um aparato envolvendo este cenário: paciência, criatividade, gentilezas, respeito, confiança e acima de qualquer coisa: credibilidade.

Pela janela: Existe algo que cativa nesta ação. Mesmo não sendo adequada, ela possui elementos que incitam e aguçam a nossa curiosidade. Nos indagamos sobre esta audácia, porém, dado as primeiras impressões, deixamos rolar...

Aparentemente você não viu nada inapropriado nessas duas opções, correto?

O equívoco está no sujeito que pratica as opções.

Muitos se acostumam a entrar pela janela e se esquecem que a porta seria - em tese - a forma mais educada e eloquente de se entrar na vida de alguém.

O sujeito se transforma num invasor de residências e impreterivelmente será confundido por um ladrão, dado sua expertise em arrombar janelas... Sua vida se torna uma verdadeira aventura e com a prática, logo mais estará pulando muros, atravessando cercas, fazendo coisas que nem o homem aranha seria capaz... Um autêntico praticante do “Le Parkour”.

É fato dizer que muitos renunciam a opção convidativa da porta por conta da indecisão da dona da casa. O sujeito até possui uma inclinação caseira, mas, em detrimento das incertezas, opta pelo trajeto mais fácil.

A porta nos rende uma certa tranquilidade, mesmo sabendo que não existe nenhuma quietude numa relação, ser convidado nos transmite uma real sensação de certeza... Basta fazermos nossa parte na manutenção de futuros convites.

O papel de quem entra pela janela é de resistência e o adeus é sempre uma falsa mentira.

Não se pode acreditar em términos, nem desconfiar das rupturas. Quem entra pela janela acredita nas metáforas e não leva a sério todas as palavras. Ele prefere terminar com ele mesmo e sair pela porta ao invés de terminar com ela e sair pela janela.

Quem entrou pela sua vida por meio de uma janela raramente desiste porque ele impôs um cuidado demorado nesta ação. Foi tudo planejado, embora para você parecesse uma surpresa.

Ele teve todo cuidado de não pisar no rabo do gato e te acordar no meio da noite com um susto. Ele entrou de mansinho sem acender a luz e teve que tatear toda essa manobra no escuro.

Cá entre nós:

Se o invasor estiver mesmo interessado, ele pode aparecer no centro do seu quarto com um lindo buquê e beijar o dorso da sua mão com um olhar de “oops, desculpe a invasão”.

Mesmo não havendo uma relação, tudo é relativo.

Um comentário:

  1. ainda prefiro ser convidado a entrar pela porta!! rs...

    ResponderExcluir