Crônicas

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Os achos que se acham



Ela veio repleta de “talvezes”. Eu – com certa inveja – vim lotado de “achos” – afinal de contas, é deselegante conhecer uma mulher de mãos vazias...

Nos olhares cruzados, a certeza de que estes “talvezes e achos” não interromperiam o aflore desse momento quase perfeito.

Pois bem...

As incertezas surgem justamente quando estamos certos do que queremos. O achismo só complementa o roteiro, ele vem por trás, feito um véu destoando à visão.

Pra ser feliz no amor há de se abstrair este desejo irrefreável de ir à busca das nossas certezas só para adquirirmos uma condição estável para os nossos sentimentos e temores.

Sentimentos e temores; eles que se explodam, não tô nem aí pra eles!

Sentimos tesão pela perseguição em saber o que não sabemos e se descobrimos o que queremos depressa demais, amargamos a vontade em prosseguir. Criamos uma espécie de “contraceptivo imaginário” e com isso ativamos o desinteresse pelo efeito, não pela causa.

As relações atuais são moderníssimas, a libido concentra-se mais no “depende” do que no “concordo”, mais na “visão” do que no “olfato”, mais na “perspectiva” do que na “expectativa”.

A gente dificulta quando ama de verdade e facilita quando ama de mentira.

Esqueça as donzelas do Walt Disney, o amor mudou de canal e está assistindo programações mais destemperadas, como Tom & Jerry ou Papa Léguas... Sabemos que um deles sempre se fode, mas é divertido analisar esse “pega-pega” incessante.

... E quando tudo finalmente entrosa, um dos lados vem com alguma artimanha para sabotar o companheirismo, existe algo de dignidade em ficar sozinho em dias imprevisíveis, divagando sobre a pintura uniforme da parede...

Aliás, melhor que hipotetizar é olhar para a mesma parede e entender que ela precisa de reparos – aliás – é fundamental que ambos enxerguem os mesmos reparos, caso contrário, teremos uma parede repleta de reboque e massa corrida por fazer, tipo às obras superfaturadas da nossa prefeitura.

Veja minha “análise imunológica”:

O “talvez” oferta a ela, condições de experimentar sempre algo diferente, imprevisível ou até já ensaiado, enquanto que eu me oportunizo dos meus “achos” mudando de opinião (ou de ação) sem a menor culpa.

Não confunda liberdade de expressão com libertinagem em expansão, não existe joguinho infantil ou dancinhas compensatórias. Aqui tudo tem seu respectivo espaço, inclusive para sentimentos e para os temores que tanto afligem aqueles que se expõem um pouco mais.


A emoção nos desmente publicamente. O silêncio desmistifica as incertezas. Qual você prefere para pendurar na sua parede?

Nenhum comentário:

Postar um comentário