Crônicas

terça-feira, 12 de agosto de 2014

A sociedade pá pum


De alma anestesiada e coração gelado, cancerianos, virginianos, librianos (sim, librianos), taurinos, aquarianos e todo o universo astral, paradoxal, bilateral, dimensional e principalmente consensual, perambulam no que eu chamo de “estranha harmonia satisfatória imediata”.

Acordamos! Alguns dizem. Outros, estamos em sono profundo sonhando uma realidade vil e insensata.

Os que defendem categoricamente o “acordamos”, ressaltam em atitudes um certo revanchismo, um rancor incontido que toma contato com ele inconscientemente, traduzido em noitadas, aplicativos e taças de vinho mal intencionadas.

Em contrapartida, os que proclamam (com demasiado orgulho ferido) o “sono profundo”, decodificam essas ações premeditadas em perversidade, e julgam (e como julgam) a razão dessa classe se imunizar do vírus da paixonite.

Aliás, o sentido de paixão é justamente a rapidez em que ela ocorre, a forma efêmera em que ela se sustenta (causada pelo inédito). A fase inicial mediada pelo encantamento, inclusive, pelos maus hábitos que a pessoa ostenta; tudo nos faz rir e se orgulhar...

O filósofo Mário Sérgio Cortella nomeou – sabiamente – o mundo em que vivemos de “sociedade miojo”, em uma época em que o Orkut era o supra sumo das mídias sociais e que tudo em 3 minutos se resolvia.

Nietzche (o filósofo e poeta bigodudo alemão) defendia que lidar com uma má consciência era muito mais fácil que uma má reputação, incitava a moralidade sendo o caminho da humanidade.

Nosso querido Frejat se equivocou ao dizer que a gente tomaria banho gelado no inverno pelo nosso pretendente, hoje em dia, mal passamos 4hrs de uma noite, mal aceitamos uma divergência, uma distinção de gostos ou uma crítica construtiva: a gente dá um X e espera a próxima foto.

Acordamos? Estamos em sono profundo?

Nos desvirtuamos.

O aplicativo onde pessoas fazem parte de um extenso e degustativo menu, um tipo de “uni duni tê humano” é apenas a revelação de uma “sociedade pá pum” em extensa expansão. Não foi o precursor e nem será o propagador dessa falta de respeito com elegância que fazemos com o amor e com as relações humanas.

A gente consome (pessoas). A gente se vende perfeitamente com selfies e mais selfies em cima da proa de um barco, numa linda paisagem de veraneio ou até mesmo em frente ao espelho, e, seguimos a risca o slogan que uma imagem vale mais do que mil palavras, entretanto, escorregamos no clichê “vocês não perdem por esperar”. A gente simplesmente desaprendeu a esperar.

Mas aí a gente nos faz uma pergunta ao olhar para o céu: “Senhor, se Maria pôde conceber sem pecar, não poderia eu pecar sem conceber?”.

Não se trata de apontar o dedo, mas sim olhar com olhos de ver para o que estamos construindo e o que as gerações futuras terão como legado.

Frase por frase, eu fico com uma outra do emblemático alemão:

“A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo é a angústia mais solitária da vontade”.

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